segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Preconceito contra as Armas, de John Lott Jr.

Chegou às livrarias no mês passado mais um excelente lançamento da Vide Editorial, Preconceito contra as Armas: Por que quase tudo o que você ouviu sobre o controle de armas está errado, de John Lott Jr, traduzido por Flavio Quintela. O autor é talvez o mais importante pesquisador das relações entre criminalidade e as diferentes legislações sobre controle de armas. Sua principal obra é More Guns Less Crime: Understanding Crime and Gun Control Laws, publicada originalmente em 1998.

Em Preconceito contra as Armas, publicado nos Estados Unidos em 2003, Lott analisa diversos aspectos das distorções de informação sobre o assunto de controle de armas. O livro é dividido em duas partes. Na primeira, ele expõe a maneira como as armas são tratadas pela imprensa, pelas entidades governamentais dos Estados Unidos e como os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 influenciaram o debate. Na segunda, discute procedimentos corretos e errôneos para pesquisas sobre armas e analisa três questões sensíveis para o público americano: 1) ataques armados de um atirador contra múltiplas vítimas, 2) segurança de armas em casa e 3) a influência das feiras de armas e da venda de armas de assalto na criminalidade.

O título original é The Bias against Guns. É difícil traduzir “bias” exatamente. Eu também escolheria “preconceito” para o título, mas “bias” significa “viés”, “tendenciosidade”. Existe um tratamento tendencioso de tudo o que se refere à propriedade, posse, porte e uso de armas pelo cidadão comum e até por policiais ou militares. Esse viés é generalizado na imprensa e nos órgãos de governo. Existem inúmeras ONGs desarmamentistas nos Estados Unidos e no Brasil. Grande parte dos argumentos apresentados por essas pessoas e entidades é simplesmente falsa e Lott vai desmontando-os um a um.

Em abril de 2000, o jornal The New York Times publicou uma pesquisa sobre “assassinatos de fúria”, ou seja, assassinatos não políticos de duas ou mais pessoas em locais públicos. Concluiu que esse tipo de crime parecia estar aumentando, que o acesso a armas seria um fator crucial para facilitá-lo e que esse fator podia ser afetado pela legislação. Foram relacionados 100 crimes, dos quais 51 ocorreram entre 1949 e 1999 e 49 entre 1995 e 1999. O fato é que a maioria dos crimes anteriores a 1995 foi simplesmente deixada de fora. John Lott questionou sistematicamente o jornal e os jornalistas envolvidos nas reportagens. Recebeu como resposta apenas tergiversações. Esse é um caso entre muitos. Segundo uma pesquisa que o livro cita, embora apenas metade dos americanos seja favorável a uma legislação mais restritiva contra armas, 78% dos jornalistas a apóiam. O único órgão de imprensa que não é francamente contrário às garantias da Segunda Emenda é a Fox News.

O governo americano, por meio de suas diversas agências, patrocina muitas pesquisas sobre violência, criminalidade e acidentes com armas. Todas elas, sem exceção, procuram estabelecer o mal que as armas podem causar. Não há pesquisas patrocinadas pelo governo que procurem descobrir se, em algum caso, as armas podem causar algum bem. De maneira mais clara, não se pesquisa o uso defensivo das armas. Lott realizou algumas pesquisas detalhadas sobre esse tipo de uso entre 2001 e 2002. Ele afirma que houve 2.300.000 casos de usos defensivos de armas no ano de 2002. Esse tipo de história é ignorado pelo governo e pela imprensa. Os dados estão no livro. Afirmar sistematicamente que ter armas é perigoso, que as armas devem ser mantidas escondidas, desmuniciadas e ou travadas impede em muitos casos o uso defensivo delas e coloca a população em perigo.

Sobre os ataques armados de atiradores contra múltiplas vítimas, Lott afirma que só existe uma medida eficaz para prevenir esse tipo específico de crime e minimizar suas conseqüências. É permitir que os cidadãos portem armas de maneira oculta. Vemos constantes ataques desse tipo em escolas, onde as armas são proibidas.

O livro traz uma comparação muito interessante entre tipos de acidente. Em 1999, 31 crianças menores de 10 anos morreram em acidentes com armas. No mesmo período, o número de crianças nessa faixa etária que morreu por afogamento foi de 750. 523 morreram por queimaduras. 92 morreram por quedas. 81 morreram em acidentes de bicicleta. 1636 em acidentes de automóvel. Que tal proibir as bicicletas?

Estes são apenas alguns exemplos. O livro é muito rico em informações. Tive alguma dificuldade em acompanhar as estatísticas que ele apresenta. Há muitas tabelas para embasar os argumentos. É perfeitamente possível ler o texto sem se preocupar com elas, mas quem estiver procurando dados detalhados vai encontrar.

No Brasil, o debate sobre armas é muito mais conspurcado que nos Estados Unidos. Lá, a Segunda Emenda é um valor respeitado, embora sob ataque. Aqui, em que pese o trabalho hercúleo do Movimento Viva Brasil em fazer esse debate, a voz daqueles que defendem a liberdade do cidadão praticamente não se ouve. Livros como este são fundamentais para permitir que a discussão exista. O povo demonstrou sua opinião no referendo de 2005 e continua demonstrando a cada pesquisa ou enquete que se faz sobre armas. É hora dessa opinião passar a ser considerada pelo Congresso Nacional.

Recomendo Preconceito contra as Armas a qualquer pessoa que queira conhecer mais sobre armas e sua relação com a defesa da vida.

John Lott Jr.

2 comentários:

  1. Ótima resenha! Se não for muito grosso, talvez o compre.Tô velho e preguiçoso.

    ResponderExcluir
  2. Parece muito bom, gostei da resenha, só queria saber se o autor aborda um pouco da história das armas de fogo e os países que utilizam armas como a Suiça e sua relação com os crimes.

    ResponderExcluir