Fechando a fila de excelentes livros lançados em 2014, Objeções de um Rottweiler Amoroso, de Reinaldo Azevedo, é a coletânea de suas primeiras 46 colunas na Folha de S.Paulo, publicadas entre 25 de outubro de 2013 e 5 de setembro de 2014. Estive no lançamento.
Vou contar outra vez a história do título, correndo o risco de entediar os leitores. Logo que Reinaldo estreou na Folha, a ombudsman do jornal, Suzana Singer (filha de Paul Singer, fundador do PT, e irmã de André Singer, porta-voz de Lula entre 2003 e 2007), escreveu uma coluna chamando-o de rottweiler. Miriam Leitão a elogiou por isso, num texto em que também criticava Rodrigo Constantino. A resposta de Reinaldo Azevedo está aqui. A partir daí, adotou ironicamente o epíteto de rottweiler. Abriu colunas com “au, au, au”. Na página do blog, na Veja, apareciam anúncios de pet shops (provavelmente colocados lá pelo Google).
Quando Dilma foi xingada na abertura da Copa do Mundo, o vice-presidente do PT, Alberto Cantalice, atribuiu esse fato a “pitbulls do conservadorismo” e listou nove desses “cachorros”: Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Demétrio Magnoli, Guilherme Fiúza, Augusto Nunes, Diogo Mainardi, Lobão, Gentili e Marcelo Madureira. Pouca gente na imprensa protestou contra o arreganho autoritário. A resposta de Reinaldo foi esta.
E então, dois meses depois disso, descobriu-se que os perfis de Carlos Alberto Sardenberg e Miriam Leitão na Wikipedia foram alterados por computadores do Palácio do Planalto. Foram acrescentadas mentiras e difamações a suas trajetórias profissionais. A canalhice mereceu este texto de Reinaldo Azevedo.
O curioso em toda essa história é que a direita é extremamente minoritária na imprensa em geral. Porém, algumas pessoas ficam especialmente incomodadas com a simples existência de opiniões de direita. Boa parte dessas pessoas está no governo, no poder. Não são capazes de apontar mentiras nos textos da direita. Não são capazes de apontar a defesa de nada que se afaste do estado democrático e de direito. Então, gritam, esperneiam e tentam calar a crítica.
Durante muitos anos, Reinaldo Azevedo foi uma das pouquíssimas vozes isoladas a criticar o governo como ele merecia ser criticado. Sempre deu opiniões o tempo todo. Gosto de ler opiniões, concordando ou discordando. Concordo freqüentemente com o Reinaldo e discordo de vez em quando. Admiro sua clareza e sua coragem. Essa postura é absolutamente necessária. É imprescindível que haja gente disposta a defender a liberdade, que está sob ataque permanente no Brasil, em toda a América Latina e em boa parte do mundo. Independentemente de seus erros, que existem, o trabalho de Reinaldo Azevedo tem sido inestimável para evidenciar o que está por trás de muitas ações do governo, para enriquecer com argumentos o debate sobre as grandes questões nacionais e para estimular as pessoas comuns a se mobilizarem para defender sua liberdade.
Este texto não é bem uma resenha, mas aqui vai um pequeno comentário sobre o livro. Não frustra quem lê o blog e acompanha o programa de rádio Os Pingos nos Is. Há muitas opiniões fortes e críticas a quem merece ser criticado. Os textos são curtos, para caber no espaço do jornal. Os principais alvos são os black blocs, os mensaleiros, os responsáveis pela morte de Santiago Andrade e quem apóia toda essa gente. Há colunas sobre o financiamento público de campanhas eleitorais, a gestão Fernando Haddad em São Paulo e a Comissão Nacional da Verdade. O Ministro do STF Luís Roberto Barroso é chamado de “leninista de toga”. Também são temas o ódio a Israel e a demissão dos analistas do Banco Santander, que previram problemas para a economia brasileira caso Dilma fosse reeleita.
O melhor texto sobre o Objeções de um Rottweiler Amoroso é de João Pereira Coutinho: O terrível rottweiler. Reproduzo, descaradamente, o resumo que ele faz do livro.
«O terrível rottweiler lamenta a impossibilidade da discordância intelectual civilizada no Brasil –lamenta, nas palavras do próprio, esse entendimento “fascistoide” da política que “busca excluir o outro do mundo dos vivos” (pág. 109).
O terrível rottweiler estranha a ausência de partidos de direita no país por entender que isso é um sintoma de atraso civilizacional (págs. 39-41).
O terrível rottweiler, na melhor tradição liberal, defende constantemente o “império da lei” para limitar os abusos dos homens (pág. 53).
O terrível rottweiler gostaria que o Estado saísse de onde está a mais (no setor bancário, por exemplo) e estivesse onde está a menos (no saneamento, no urbanismo)(pág. 106).
O terrível rottweiler tem vergonha dos 50 mil homicídios que o Brasil oferece anualmente ao mundo (págs. 54-55).
O terrível rottweiler defende a democracia representativa, sobretudo contra aqueles que gostariam de usar o “revólver” contra ela (pág. 120).
O terrível rottweiler defende incondicionalmente a liberdade de expressão –mesmo para aqueles de quem discorda profundamente (págs. 128 e 147).
O terrível rottweiler não permite a confusão ignorante, ou delinquente, entre “direita democrática” e “extrema-direita” (pág. 40).
O terrível rottweiler defende a dignidade do indivíduo (e do individualismo) contra o “pensamento em grupo” que rapidamente degenera em “quadrilha intelectual” (pág. 156).»
Leiam Objeções de um Rottweiler Amoroso. Leiam e ouçam Reinaldo Azevedo. Defendam sua liberdade enquanto é tempo.
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