quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Os países mais capitalistas da África

Anoitecer em Port Louis
Poucas pessoas saberiam dizer quais são os dois países mais capitalistas da África, onde há menos dificuldades legais em acumular patrimônio, menos impostos, menos gastos governamentais, legislação trabalhista mais livre, menos corrupção.

Um primo meu me mandou este vídeo da Fair Labor Association - FLA, em que seu ex-presidente, Auret van Heerden, apresenta situações de pessoas trabalhando em condições sub-humanas em alguns países e atribui o problema ao capitalismo e à falta de regulamentação trabalhista. Os países citados são Zimbábue, China, Congo, Uzbequistão. Fui pesquisar o índice de liberdade ecônomica deles. A Heritage Foundation faz um trabalho fantástico de avaliação da liberdade econômica no mundo, que pode ser consultada neste site. Não é surpreendente que os países citados por van Heerden tenham índices muito ruins. O que me surpreendeu foi encontrar dois países com excelente performance ecônomica na África: Maurício e Botsuana.

Maurício é um país insular no Oceano Índico, a 2000 km da costa continental africana. Sua área é pouco maior que a do município de São Paulo. Não possui recursos minerais. Era desabitado até o século 16. A população é formada principalmente por descendentes de indianos, árabes e europeus. Desde a descolonização, em 1968, tem um regime democrático estável, com um sistema legal funcional e a mais ampla liberdade econômica da África. De produtor de açúcar, o país passou a exportador de têxteis, pólo turístico e hoje é também um centro de desenvolvimento de software. Tem a quinta renda per capita mais alta da África em paridade de poder de compra.

Botsuana é fica no interior da África, em uma região semi-árida, entre a Namíbia, a África do Sul, o Zimbábue, Angola e Zâmbia. 70% do território pertence ao deserto de Kalahari. Com uma área comparável à da França, possui 2 milhões de habitantes, que vivem dispersos pelo país. A capital, Gaborone, tem apenas 230 mil habitantes. A renda per capita por paridade de poder de compra saltou de 70 dólares anuais na época da independência, em 1966, para 16.400 dólares anuais em 2013, a sexta maior da África. Sua principal fonte de renda é a mineração de diamantes. Porém, ao contrário de outros grandes produtores de diamantes como Angola e a República Democrática do Congo, Botsuana conseguiu transformar essa riqueza mineral em crescimento econômico e benefícios para seu povo. O grande desafio hoje é diversificar a produção e diminuir a dependência da atividade mineradora. Botsuana foi muito afetado pela epidemia de AIDS, o que freou seu crescimento na década passada. Aparentemente, esse problema está sendo superado.

Comparar esses países com o Brasil dá desânimo e tristeza. O gráfico de liberdade econômica dos três países mostra que quase conseguimos alcançá-los entre 1998 e 2002 e que perdemos o bonde a partir daí.


O gráfico de renda per capita do Banco Mundial nos dá a conseqüência disso.


Maurício e Botsuana não têm CLT, não têm Bolsa-Família, não têm uma carga tributária de de 40% do PIB, não têm Petrobras, não têm PT.

Uma palavra final sobre Auret van Heerden. Depois que a FLA passou a receber doações da Apple, parou de criticar e passou a elogiar a Foxconn, fornecedora chinesa da Apple. Várias organizações denunciaram que as condições de trabalho na Foxconn continuavam muito ruins e acusaram van Heerden de ter se vendido. Ele teve de renunciar à presidência da associação em 2013.

Voltando a Maurício e Botsuana, o fato de os países mais capitalistas da África terem um desempenho econômico superior não é coincidência. É o resultado da liberdade e do respeito às leis. Em qualquer parte do mundo, se o capitalismo e a liberdade forem aplicados, a população enriquece.

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