Anoitecer em Port Louis |
Um primo meu me mandou este vídeo da Fair Labor Association - FLA, em que seu ex-presidente, Auret van Heerden, apresenta situações de pessoas trabalhando em condições sub-humanas em alguns países e atribui o problema ao capitalismo e à falta de regulamentação trabalhista. Os países citados são Zimbábue, China, Congo, Uzbequistão. Fui pesquisar o índice de liberdade ecônomica deles. A Heritage Foundation faz um trabalho fantástico de avaliação da liberdade econômica no mundo, que pode ser consultada neste site. Não é surpreendente que os países citados por van Heerden tenham índices muito ruins. O que me surpreendeu foi encontrar dois países com excelente performance ecônomica na África: Maurício e Botsuana.
Maurício é um país insular no Oceano Índico, a 2000 km da costa continental africana. Sua área é pouco maior que a do município de São Paulo. Não possui recursos minerais. Era desabitado até o século 16. A população é formada principalmente por descendentes de indianos, árabes e europeus. Desde a descolonização, em 1968, tem um regime democrático estável, com um sistema legal funcional e a mais ampla liberdade econômica da África. De produtor de açúcar, o país passou a exportador de têxteis, pólo turístico e hoje é também um centro de desenvolvimento de software. Tem a quinta renda per capita mais alta da África em paridade de poder de compra.
Botsuana é fica no interior da África, em uma região semi-árida, entre a Namíbia, a África do Sul, o Zimbábue, Angola e Zâmbia. 70% do território pertence ao deserto de Kalahari. Com uma área comparável à da França, possui 2 milhões de habitantes, que vivem dispersos pelo país. A capital, Gaborone, tem apenas 230 mil habitantes. A renda per capita por paridade de poder de compra saltou de 70 dólares anuais na época da independência, em 1966, para 16.400 dólares anuais em 2013, a sexta maior da África. Sua principal fonte de renda é a mineração de diamantes. Porém, ao contrário de outros grandes produtores de diamantes como Angola e a República Democrática do Congo, Botsuana conseguiu transformar essa riqueza mineral em crescimento econômico e benefícios para seu povo. O grande desafio hoje é diversificar a produção e diminuir a dependência da atividade mineradora. Botsuana foi muito afetado pela epidemia de AIDS, o que freou seu crescimento na década passada. Aparentemente, esse problema está sendo superado.
Comparar esses países com o Brasil dá desânimo e tristeza. O gráfico de liberdade econômica dos três países mostra que quase conseguimos alcançá-los entre 1998 e 2002 e que perdemos o bonde a partir daí.
O gráfico de renda per capita do Banco Mundial nos dá a conseqüência disso.
Maurício e Botsuana não têm CLT, não têm Bolsa-Família, não têm uma carga tributária de de 40% do PIB, não têm Petrobras, não têm PT.
Uma palavra final sobre Auret van Heerden. Depois que a FLA passou a receber doações da Apple, parou de criticar e passou a elogiar a Foxconn, fornecedora chinesa da Apple. Várias organizações denunciaram que as condições de trabalho na Foxconn continuavam muito ruins e acusaram van Heerden de ter se vendido. Ele teve de renunciar à presidência da associação em 2013.
Voltando a Maurício e Botsuana, o fato de os países mais capitalistas da África terem um desempenho econômico superior não é coincidência. É o resultado da liberdade e do respeito às leis. Em qualquer parte do mundo, se o capitalismo e a liberdade forem aplicados, a população enriquece.
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