Este post de Caco Tirapani expressa exatamente o que penso sobre os termos “direita” e “esquerda”. Não acredito que exista um “espectro político”. O que se chama de “extrema direita” são exatamente os piores inimigos possíveis do que se chama de “direita liberal” e de “direita conservadora”.
As bases teóricas da esquerda — Rousseau, Kant, Marx — são um conjunto de falácias, de raciocínios errados e facilmente refutáveis. Uma vez excluídos esses erros, não sobra nada do pensamento de esquerda. Mas o que sobra é heterogêneo demais para ser colocado em uma única categoria.
As bases teóricas da esquerda — Rousseau, Kant, Marx — são um conjunto de falácias, de raciocínios errados e facilmente refutáveis. Uma vez excluídos esses erros, não sobra nada do pensamento de esquerda. Mas o que sobra é heterogêneo demais para ser colocado em uma única categoria.
O problema dos intelectuais é que estão todos, mais ou menos, imersos numa metanarrativa de esquerda. Ainda que eles próprios não sejam de esquerda, eles veem o mundo sob as grossas lentes do imaginário de esquerda. Isso ocorre porque a esquerda tem a primazia da narrativa política, porque ela se desenvolveu historicamente como um movimento internacional. O socialismo e seu imaginário vão, aos poucos, substituindo a metanarrativa cristã, e estabelecendo uma nova ordem, um novo céu e uma nova terra. Nesse processo, serão transformadas as coisas e as palavras sobre as coisas.
A esquerda, desde a revolução francesa até Marx, já era um grupo com uma certa identidade revolucionária transmitida no tempo e no espaço. Existe certa continuidade intelectual e identitária entre cada geração revolucionária, prova disso é que Lênin dizia que Marx tinha em Robespierre uma de suas principais influências. A unificação da esquerda ao redor das ideias de Marx a partir de 1848, e principalmente depois de 1917, forneceu a ela a primazia da narrativa da história. Essa primazia e continuidade permitiu à esquerda estabelecer os termos do discurso político, a esquerda conquistou o poder de nomear (e renomear) as coisas, e narrar a história.
Uma prova disso é que a esquerda nomeia todos os seus adversários, por mais diferentes que o sejam, pelo mesmo nome infame: "a direita". Desde monarquistas católicos, ao regime nazista, passando por teocracias islâmicas, keynesianos reformistas, liberais anglo-saxões, e a classe-média paulista, tudo é "de direita". Esta afirmação persiste devido a essa primazia da esquerda como tutora do pensamento. Aceitar essa identidade imaginária é estar sob a curadoria intelectual da esquerda. É narrar a história sob uma perspectiva teórica de esquerda - ainda que a sua perspectiva política pessoal não a seja.
E é aí que entraria o papel do historiador crítico ao compreender e afirmar que a noção de "direita" constitui uma diversidade de quaisquer coisas que não sejam de esquerda. Ou seja, não é exatamente uma coisa definida, mas é um conjunto universo discriminado por exclusão, ou pela diferença do conjunto "esquerda". Não estamos falando de um movimento político, estamos falando de uma imensa confusão de coisas. Essa confusão não deriva dos diversos acidentes de uma mesma substância, mas de uma confluência de acidentes de várias substâncias diferentes - as várias "direitas". Essa confusão é útil a quem a estabeleceu, porque impede o homem comum de compreender a política fora da curadoria intelectual da metanarrativa de esquerda.
Caco Tirapani é professor de História.
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