sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A Anistia Internacional e eu


Fui membro da Anistia Internacional entre 1998 e 2001. Devido a uma série de questões que não vêm ao caso agora, assumi a coordenação da Rede de Ação Urgente, em meados de 2000. Distribuía textos em inglês para um grupo de tradutores voluntários, revisava as traduções e enviava as Ações Urgentes para os membros da Anistia no Brasil. Esses membros escreviam apelos para autoridades e embaixadas estrangeiras, pedindo a proteção dos direitos humanos de pessoas presas injustamente, ameaçadas por paramilitares, condenadas à morte ou vítimas de outros abusos.

Era um trabalho muito agradável e recompensador, do qual me orgulho. Organizamos um boletim mensal para informar os membros sobre os desdobramentos de nossas ações. Com muita frequência, a pessoa presa injustamente era libertada. Em alguns casos, a sentença de morte era comutada. Nem todas as notícias eram boas, às vezes o condenado era executado, a pessoa ameaçada era atacada. Fosse qual fosse o resultado, sentia que estávamos fazendo algo importante, participando de um esforço para provocar uma mudança positiva no mundo.

Lembro de um caso, no Equador se não me engano. Houve uma tentativa de golpe de estado, algumas pessoas foram presas, e a Anistia lançou uma Ação Urgente pedindo que a situação dessas pessoas fosse esclarecida, e que elas fossem libertadas se não tivessem cometido nenhum crime. Em seguida, houve uma reviravolta e o general que havia tentado o golpe foi preso. A Anistia lançou outra Ação, pedindo que o general não fosse submetido a tortura ou maus tratos.

Fiz muitos amigos nessa época, mas infelizmente perdi o contato com quase todos. Cuidei desse trabalho por apenas sete meses e acabei me desligando da Anistia Internacional. Logo depois, a Seção Brasileira foi fechada. Até onde sei, ainda está fechada.

Há pouco tempo, com o Facebook, procurei pessoas que conheci naquela época e fiz contato com algumas. Havia um funcionário da Anistia em Londres com quem tive bastante contato em 2000 e a quem eu admirava especialmente. Enviei-lhe uma solicitação de amizade e ele me aceitou. Imediatamente, comecei a estranhar as coisas que ele escreve. Encontrei muitos elogios a Che Guevara (que foi um grande violador de direitos humanos) e a Salvador Allende (cuja tese de doutorado é uma defesa abjeta da eugenia). Há dias, ele publicou um post comentando a visita de Noam Chomsky à Faixa de Gaza, quando Chomsky exigiu que Israel levantasse o bloqueio contra Gaza. Escrevi um comentário assim: "Espero que ele tenha se lembrado de pedir ao Hamas que pare de lançar mísseis sobre a cabeça de pacíficos cidadãos israelenses."

Ele cancelou a amizade no Facebook. Não me surpreendo muito com isso, mas esperaria talvez que ele quisesse argumentar. O que me espanta mais é essa defesa seletiva dos direitos humanos.

Continuo em campanha pelo fim da pena de morte em todos os lugares e em todas as circunstâncias. Continuo contra qualquer tipo de tortura ou castigo cruel, desumana ou degradante. Continuo defendendo a libertação de todos os prisioneiros de consciência do mundo, presos por expressarem suas opiniões, sem terem usado ou defendido o uso de violência. Porém, não posso concordar quando a Anistia considera membros do MST perseguidos políticos. Nem posso concordar que ela faça campanha pela libertação de Omar Khadr.

Acho que a Anistia Internacional tem um papel no mundo. Acho interessante que ela foque a defesa de alguns itens da Declaração Universal dos Direitos Humanos e concordo que isso pode ser eficiente. Mas não concordo com várias de suas posições e vejo que alguns de seus membros não defendem exatamente direitos humanos universais. Para essas pessoas, seus inimigos ideológicos não têm os mesmos direitos de seus aliados.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O fascismo avança - Tente comprar um anti-inflamatório


Depois de passar quatro dias com dor nas costas sem melhorar, fui a um médico. Ele constatou que o problema era muscular e receitou um anti-inflamatório e um relaxante muscular. Disse que iria fazer duas cópias da receita porque uma ficaria retida.
Saí do hospital e passei na farmácia de um supermercado Extra. Comprei o relaxante muscular, mas fiquei sabendo que eles não vendiam remédios controlados.
Fui trabalhar e, no final do dia, passei na farmácia de um supermercado Sonda. Mesma resposta, nada de remédios controlados.
Tentei uma farmácia perto de casa. Não, eles também não têm o remédio. Pediram autorização à Anvisa para comercializarem remédios controlados, a autorização foi dada, mas faltava publicar no Diário Oficial, ou sei lá qual burocracia.
Procurei a quarta farmácia. Ufa, vendia remédios controlados. O farmacêutico não gostou da receita. Disse que o médico não podia ter incluído na mesma receita um remédio controlado e um não controlado.
– Mas  a receita está aqui, o sr. pode ficar com ela.
– Está errado, mas vou aceitar...
Disse ao farmacêutico que achava um sintoma grave de fascismo algumas farmácias não quererem vender um anti-inflamatório, outras quererem e encontrarem grandes dificuldades e eu, com dor nas costas, com uma receita médica, querendo tomar um remédio de maneira correta, ter que apresentar um documento de identidade e informar meu telefone para comprar um anti-inflamatório, um simples anti-inflamatório.
Ele disse que o governo só quer me proteger, que esse remédio faz mal, que o governo não quer gastar dinheiro depois para me tratar dos efeitos adversos de eu tomar um remédio indevido. Ele também está com dor nas costas e sabe que deveria tomar esse anti-inflamatório, mas não pôde ir ao médico ainda e não pode tomar sem receita. Ele vê diariamente os maiores absurdos que seus clientes fazem com remédios.
Não gosto de ser tratado como moleque, ou como incapaz. O remédio não é indevido. Quem paga pela minha saúde somos eu e meu plano de saúde, não o governo. Quero tomar o remédio corretamente e estou tendo dificuldades. Ele quer tomar o remédio corretamente e está tendo dificuldades. Não acho que a Anvisa tenha o direito de dificultar a minha vida ou a dele. Nem acho que a Anvisa tenha o direito de impedir alguém que não precisaria de um remédio de se entupir desse remédio. As pessoas têm até o direito de se suicidar, independentemente do que pense a Anvisa.
Ele desistiu de discutir, me entregou o remédio, me deu boa noite.

O fascismo avança em detalhes pequenos, ou não tão pequenos.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Comentário a um texto de Cláudio Couto

Um amigo publicou este texto de Cláudio Couto no Facebook e resolvi comentá-lo. Ele toca em diversas questões que considero importantes para entendermos a política no Brasil atualmente. Vamos lá, Cláudio Couto em vermelho e eu em azul.

Recebi de uma amiga querida um questionamento sobre minhas posições políticas recentes. Ao responder-lhe, notei que talvez tenha tido a oportunidade de explicitar alguns pontos que gostaria de tornar públicos. Assim, reproduzo aqui, sem revisar e sem lhe nominar, o que escrevi a essa querida amiga.

Minha cara,
Eu não me considero petista, mas de esquerda.

Sendo petista ou não, a opinião que ele expressa é exatamente aquela que interessa ao PT que seja divulgada.

Acho que o PT cometeu erros sérios e os que erraram devem pagar com isto. Contudo, não aceito essa generalização que tem sido feita, como se todo petista fosse um criminoso, somente por ser petista. Como se bastasse o partido ganhar um governo para a corrupção se alastrar. E, como se não bastasse isto, como se os que lhe detratam fossem os baluartes da pureza e da honestidade. Pior ainda, quando sabemos que esses outros cometeram exatamente os mesmos erros que o PT cometeu.

Existem duas diferenças fundamentais entre os crimes cometidos pelos petistas e os crimes cometidos por políticos de outras legendas. A primeira é que, no PT, existe o chamado centralismo democrático. Todas as decisões importantes são tomadas pela cúpula do partido. O “mensalão” é um crime cometido pelo partido como instituição, não por seus membros à revelia. A segunda é que a compra de votos de deputados, ou a compra de apoio de partidos inteiros, é um crime contra a democracia. Como disse o presidente do STF, é uma tentativa de golpe. Seu efeito é tornar o Congresso irrelevante, as eleições irrelevantes. Espero que Eduardo Azeredo seja julgado e condenado, mas a única coisa em comum entre seu caso e o dos petistas é que ambos simularam empréstimos com ajuda de Marcos Valério.

O que não aceito é essa tentativa maniqueísta de tornar o PT algo equivalente a um câncer da política nacional e da república, o mal a ser evitado, sendo que a alternativa a esse mal seria o PSDB, repositório do que existiria de valores republicanos no país.

O PT é exatamente um câncer da política nacional e da república, um mal a ser evitado, como já foi no passado a ARENA. O PT vem trabalhando contra a democracia desde antes de ela se consolidar no Brasil. O PT expulsou três deputados que votaram em Tancredo Neves em 1985. O PT recusou-se a subscrever a Constituição de 1988. O PT foi contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Proer e o Plano Real. O PT, uma vez no poder, tentou criar um Congresso paralelo (alguém se lembra do Conselhão?), tenta reiteradamente encabrestar a imprensa e tentou comprar o Congresso. Isso não significa que os adversários do PT sejam perfeitos. Existe corrupção em todos os partidos e ela deve ser combatida. Aquela clássica roubalheira comum, em que um político procura beneficiar a si mesmo. Qualquer corrupção é nefasta, mas a corrupção da democracia é mais grave que as outras.

A coisa fica pior quando quem vocaliza essa posição é um político como José Serra. Um político que nada mais fez nos últimos 12 anos de sua vida que não manobrar politicamente para se tornar presidente da República. Até aí, nada de mais. O problema é que, para fazer isto, colocou as instituições em que atuou a seu serviço.
Fez isto com seu partido, que servilmente se curvou a ele; fez isto na prefeitura, voltou a fazer no Estado e voltou a fazer com seu partido.

Parece que é crime disputar a presidência da República. Até hoje não entendo como o PSDB não tentou viabilizar qualquer outro candidato a prefeito em 2004. Por que queimar o candidato mais preparado à presidência ou ao governo do Estado para eleger o prefeito de São Paulo. José Serra poderia ter se guardado para uma eleição mais importante, mas curvou-se ao partido e submeteu-se a essa candidatura. Enquanto, segundo Cláudio Couto, Serra nada mais fazia a não ser manobrar politicamente, ele saneou as finanças da prefeitura. Alguém se lembra da fila de credores na prefeitura, em janeiro de 2005? Enquanto “manobrava politicamente”, foi construído um longo trecho do Rodoanel, foi duplicada a Marginal Tietê, foram feitas diversas estações de Metrô, escolas, hospitais, presídios. A Nossa Caixa foi vendida ao Banco do Brasil e o dinheiro resultante foi investido no Estado de São Paulo. Isso deve ser colocar as instituições em que Serra atuou a seu serviço.


Não bastasse, abriu a caixa de pandora da religião na política, disseminando todo tipo de preconceito e hipocrisia. Apresenta-se como um homem que defende valores, mas mente descaradamente. Apresenta-se como o defensor da democracia, mas telefona nas redações dos órgãos de imprensa pedindo a cabeça de jornalistas que lhe tenham feito perguntas incômodas, ou escrito algo que lhe desagradou.

Religião é um tema legítimo de debate. Os religiosos têm o mesmo direito à liberdade de expressão dos agnósticos. Gostaria que fosse verdade que Serra tivesse abordado temas religiosos em 2010. Infelizmente, não é. Pessoas religiosas que votariam em Serra tentaram levantar esses temas. E foram perseguidas por isso. Gostaria de saber quais são os casos em que Serra mentiu descaradamente ou qual o nome de pelo menos um jornalista que tenha sido perseguido por ele.

Nesse cenário maniqueísta que se montou, para piorar, Serra e, neste caso, o PSDB, têm implantado políticas anti-pobre. O higienismo na cidade de São Paulo e do governo do Estado têm esse condão: o tratamento dispensado à cracolândia, a truculência do Pinheirinho, a política de segurança homicida ("quem não reagiu sobreviveu"), a omissão nos incêndios em favelas, as obras malufistas das marginais etc.

A truculência do Pinheirinho foi 100% feita pelo PSTU, que manipulava os moradores. Não há nenhum caso verdadeiro de violência por parte da polícia nessa operação. Quem é anti-pobre é o crack, não a tentativa de combatê-lo. As taxas de homicídios em São Paulo caem sistematicamente há 16 anos. A polícia de São Paulo mata muito menos que a do Rio de Janeiro ou da maioria dos outros estados. A quantidade de incêndios em favelas atualmente é muito, muito menor que na administração Marta Suplicy. A Favela do Moinho só não foi removida antes deste último incêndio porque os petistas não permitiram. Hoje, são licenciados 800 carros por dia na cidade. Pessoas de menor poder aquisitivo estão adquirindo automóveis. Se não forem feitas obras viárias, a cidade não comporta esse aumento de frota. Moro num extremo da cidade e trabalho no outro. Atravesso a Marginal Tietê inteira todos os dias. O trânsito hoje é muito, muito melhor que o que existia em 2009. E é melhor que o que existia em 2002 também.

Diante disto, prefiro mesmo os governos do PT. Considero um imenso avanço as políticas sociais do governo federal nos últimos anos, a política de educação que o Haddad implementou quando ministro da Educação, o Bolsa Família, a redução da desigualdade de renda e a ascensão econômica de uma imensa parcela da população - que, a meu ver, é erradamente chamada de "classe média".

A política de educação que o Haddad implementou pode ser vista no desastre que é o Enem. Qual a diferença entre os programas de transferência de renda do PT e do PSDB, exceto o nome? Parte da ascensão econômica dessa população ainda é efeito do Plano Real, que o PT teve a grande virtude de não destruir.

Ou seja, como o PT e seus governos são muito mais do que apenas mensalão, eu, mesmo sem me considerar petista, prefiro essa alternativa na eleição. É só isto.
E, como consequência, vejo-me na obrigação de apontar o dedo e combater uma tentativa hipócrita e autoritária de transformar esse partido e seus membros numa cambada de bandidos. Não só porque há muita gente correta no PT (assim como em outros partidos, e no PSDB em particular), mas porque ao se fazer isto, joga-se por terra a necessidade de diferenciarem-se as políticas e suas consequências para o país, em particular para os mais pobres.

O ponto é que as políticas são as mesmas. Qual política do PT é diferente da política anterior do PSDB? Nenhuma. As pessoas que tinham vergonha no PT saíram há muito tempo. Fernando Gabeira, Helio Bicudo, Cristovam Buarque, Soninha Francine não suportaram o ambiente. José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Paulo Paim, Tarso Genro, Ideli Salvatti, Eduardo Suplicy, Marta Suplicy estão lá firmes e fortes.

Noto que essa tentativa de desqualificação hipócrita (ingenuidade não se aplica aqui) é mais frequente entre as camadas médias escolarizadas e de rendas mais altas. Eu me incluo nesse segmento, convivo com ele e noto como procede. Na realidade, noto que simplesmente usa o pretexto do mensalão para fazer o que realmente quer fazer, sem ter de admiti-lo: derivar à direita e optar por políticas antipobre.
Contra as cotas, defende-se o "mérito", como se o "mérito" emergisse no vácuo, sem que importassem as diferenças sociais de oportunidade. Contra o Bolsa Família, defende-se o "trabalho", como se pobres não trabalhassem e, ainda assim, sem obter o mínimo para uma vida decente.

As cotas mereceriam um texto bem mais longo. Convivo com muita gente pobre. Moro em bairros pobres há mais de vinte anos. Existe muita gente pobre que dá imenso valor ao trabalho e à educação. Que quer que as leis sejam respeitadas. Que investe nos filhos. E progride na vida.
Infelizmente, a direita não tem representação política no Brasil. Aqui, é necessário dizer que, quando digo direita, não estou me referindo aos militares, muito menos ao fascismo. Pelo contrário. Tanto os militares no Brasil como os fascistas na Europa agigantaram o Estado, suprimiram a liberdade individual e rasgaram as leis. Direita significa diminuir o tamanho do Estado, defesa radical da liberdade individual, respeito às leis. Nada disso é “antipobre”. Se existisse um partido de direita no Brasil, ele defenderia acabar com o Bolsa Família e acabar com a COFINS, que é um dos impostos mais perversos com os mais pobres. Quem disse que, por causa do Bolsa Escola os pobres perdiam a vontade de trabalhar foi Lula.

Eu não me coloco entre aqueles que vêem no julgamento do mensalão uma conspiração das elites. Considero que o STF cumpre seu papel, a despeito do que possam ser certos excessos retóricos deste o daquele juiz. Não vejo isto como um grande problema, pois creio que faz parte do processo de amadurecimento institucional, que de resto vem acontecendo. Como outros, considero que o julgamento é um potencial avanço institucional, mas apenas terei certeza disto se o mesmo critério por parte do STF for seguido no julgamento do mensalão tucano, aquele de Minas Gerais. Afinal, parece-me que as leis devem valer igualmente para todos. Da mesma forma, espero que a vigilância dos órgãos de imprensa seja a mesma no próximo julgamento. Quanto às nossas classes médias escolarizadas de altas rendas, eu não tenho a ilusão de que ela se comportará diante do julgamento do mensalão tucano da mesma forma que vem se comportando em relação ao mensalão petista. E isto porque o que realmente sensibiliza a muitos e aproveitar a oportunidade de, justamente, condenar quem cometeu crimes para, injustamente, utilizar as condenações como forma de desqualificar posições políticas, políticas públicas e pessoas.

Espero que os crimes do PSDB de Minas sejam julgados e os responsáveis condenados. Isso não significa que sejam crimes iguais aos do PT.

Estas são as razões que me levam a tomar partido da forma como estou tomando nos últimos tempos. A razão, parece-me, é que é necessário desta vez defender a democracia. Não da forma como o fizeram os neoudenistas hipócritas à época da eleição de 2010, bradando contra o falacioso risco de "mexicanização", ou contra o populismo inexistente. O risco à democracia agora é o de pintar um mundo em branco e preto, em que tudo de mal se imputa a um partido, do qual nada de bom se pode tirar.
Para finalizar, é isto que leva certos intelectuais a posições de lastimável empáfia, como a de se sentirem no direito de conclamar a um líder político que se aposente da vida pública. Como se fosse lícito conclamar qualquer cidadão a abdicar de sua legítima condição de partícipe de seu tempo. Mais ainda de um cidadão que, mesmo tendo cometido erros, construiu instituições, melhorou a vida dos mais pobres e jamais ligou em redações para pedir a cabeça de jornalistas.

Acho que não entendi o final do texto. Sei que Lula chamou Serra de velho muitas vezes, embora seja apenas três anos mais novo, e disse que ele devia se aposentar. Mas acho que Cláudio Couto não chamaria Lula de intelectual.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Entrevista de Benicio del Toro a Marlen Gonzalez sobre Che Guevara



Apresento a transcrição da entrevista de Benicio del Toro a Marlen Gonzalez sobre Che Guevara, traduzida para o português.

Marlen Gonzalez: Por que Miami para estrear este filme, a cidade onde vivem tantos cubanos, vítimas de uma forma ou de outra de um sistema que está implantado em Cuba neste momento? É uma provocação?

Benicio del Toro: Não. Não é uma provocação. Creio que é importante trazer e ver... Não creio que todos os cubanos pensem igual, necessariamente, sobre um filme a respeito de Che.

Marlen: Mas imagine que o filme tem uma destacada influência, porque vi o filme, apresentando uma imagem positiva de Che. Imagine que você fosse mostrar em Miami Beach, aqui em Miami, ou em qualquer cidade do mundo, a parte boa de Hitler. Estaríamos ofendendo 15 milhões de judeus e 6 milhões de... e a memória de 6 milhões.

Benicio: Eh... eh... Não creio que Che tenha feito campos de concentração.

Marlen: Bem, estamos falando de assassinatos. Agora, não é igualmente um assassino aquele que mata uma pessoa e aquele que mata cem ou que mata cem mil? Não pomos em todos o título de assassino, igualmente?

Benicio: Bem, falamos de pena de morte. O que você diz se aplica à pena de morte, a generais em exércitos ou a qualquer um que defenda a pena capital.

Marlen: Mas não é pena de morte. É ordenar fuzilamentos. E você decidiu interpretar esse papel, é um trabalho de ator para você?

Benicio: Sim.

Marlen: Mas as opiniões que você deu, você, Benicio del Toro, em sua consciência, você disse que Che Guevara foi assassinado como um criminoso de guerra e não foi. Mas você sabe que quando a revolução triunfou, você sabia que ele ficou encarregado de uma prisão em Cuba, chamada La Cabaña, e ali mandou fuzilar mais de quatrocentos cubanos. Você sabia disso?

Benicio: Sim, sabia, mas foram, pelo que entendi e está gravado, está gravado e vi pedaços dessa gravação, muitos desses que foram fuzilados haviam sido, havia um terrorismo de parte do governo Batista.

Marlen: Noventa por cento eram presos de consciência, simplesmente por discordarem do sistema nascente. Simplesmente por terem opinião diferente.

Benicio: Eu não sabia. Não sabia disso. Não. De onde, de onde você tirou isso?

Marlen: Está historicamente documentado, inclusive na Argentina. Não somente por nós, cubanos. E por que não se mostra no filme a parte dos fuzilamentos? Por que se mostra que se fuzila uma pessoa que foge da serra e se salta para o discurso nas Nações Unidas, enquanto em Cuba estão fuzilando, continuarão fuzilando -- fuzilaram, estão fuzilando e continuarão fuzilando -- como para dar a entender que houve fuzilamentos para fazer justiça, mas não se mostra La Cabaña, não se mostram os assassinatos, não mostram os disparos que deu Che a sangue frio.

Benicio: Eh... não, não sei...

Marlen: Ele disse que a forma mais positiva e forte de qualquer manifestação é um tiro bem dado em quem se deve dar, no momento certo.

Benicio: Como é?

Marlen: Che disse que a manifestação mais positiva e forte que existe, além de todas as ideologias, é um tiro bem dado em quem se deve dar, no momento certo. Já havia lido isso de Che? Escrito de próprio punho por Che?

Benicio: Eh, não me recordo exatamente.

Marlen: Veja, "Guevara: Misionero de la Violencia", de Pedro Corzo, cubano. Para que você leia um pouco mais sobre Che.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Che Guevara, o assassino


Ontem completaram-se 45 anos da morte de Che Guevara. Em lembrança a essa data, segue a lista das vítimas conhecidas desse assassino frio e cruel.

Mortos por Che Guevara em Sierra Maestra (citados no diário de Che Guevara):

3 executados por deserção do exército dos rebeldes

1. René Cuervo – agosto, 1957
2. Aristidio – outubro, 1957
3. Pedro Guerra – 26/06/1958

8 executados por colaboração com o exército de Batista

4. “Chicho” Osorio – 17/01/1957
5. “El Negro” Nápoles – 18/02/1957
6. Eutimio Guerra – 17/02/1957
7-8. Dois camponeses – abril-1957
9. Filiberto Mora – 15/04/1957
10. Colaborador de Batista – agosto, 1957
11. “Manolo Capitán” (Manuel Fernández) – 1957

4 executados por razões diversas

12. “O Professor” – outubro, 1957
13. José Martí – setembro, 1957
14-15. Dois irmãos – outubro, , 1957

7 executados por crimes cometidos

16. José (“el chino") Chang – outubro, 1957
17. “O estuprador” – outubro, 1957
18. “El Bisco” Echevarría – outubro, 1957
19. Dionisio Oliva – outubro, 1957
20. Juan Lebrigio – outubro, 1957
21. Membro do exército rebelde – junho, 1958
22. Membro do exército rebelde – agosto, 1958

Vítimas documentadas de Che Guevara em Santa Clara

1. Ramón Alba Moya – 03/01/1959
2. Arturo Pérez Pérez – 24/01/1959
3. Domingo Álvarez Martínez – 04/01/1959
4. Joaquín Casillas Lumpuy – 02/01/1959
5. José Fernández Martínez – 02/01/1959
6. Héctor Mirabal – Jan-59
7. Félix Montano Fernández – janeiro, 1959
8. Cano Prieto – 07/01/1959
9. Ricardo Rodríguez Pérez – 11/01/1959
10. Cornelio Rojas Fernández – 08/01/1959
11. Francisco Rosell – 11/01/1959
12. Ignacio Rosell Leyva – 11/01/1959
13. Antonio Ruíz Beltrán – 11/01/1959
14. Ramón Santos García – 12/01/1959
15. Isidoro Jesús Socarrás – 12/01/1959
16. Manuel Valdés – janeiro, 1959
17. José Velázquez Fernández – 06/02/1959

Vítimas documentadas de Che Guevara na prisão Fortaleza de La Cabaña:

1. Humberto Aguiar Limonta – 1959
2. N/A Aniella – 1959
3. Roberto Calzadilla – 1959
4. Ramón Despaigne – 1959
5. Ugarte Galán – 1959
6. Secundino González – 1959
7. Enrique la Rosa – 1959
8. Bonifacio Lasaparla – 1959
9. Luis Mirabal – 1959
10. Carlos Muiño Varela. M.D. – 1959
11. José Pozo López – 1959
12. N/A Verdecia – 1959
13. Ezequiel González – janeiro, 1959
14. Secundino Hernández Calviño – janeiro, 1959
15. Francisco Tellez – 03/01/1959
16. Teodoro Tellez Cisneros – 03/01/1959
17. Antonio De Beche – janeiro, 1959
18. Elpidio Mederos Guerra – 09/01/1959
19. N/A Ferrán Alfonso – 12/01/1959
20. Mario Riquelme – 29/01/1959
21. Fausto Silva Guera – 29/01/1959
22. Onerlio Mata Costa Cairo – 30/01/1959
23. Pedro Morejón Montero – 31/01/1959
24. Pelayo Alayón – fevereiro, 1959
25. Demetrio Clausell González – 01/02/1959
26. Antonio Carralero Ayala – 04/02/1959
27. José Luis Alfaro Sierra – 06/02/1959
28. Miguel Ares Polo – 06/02/1959
29. Eladio Caro – 06/02/1959
30. Armando Más Torrente – 17/02/1959
31. Evaristo Guerra – 18/02/1959
32. Jesús Sosa Blanco – 18/02/1959
33. Rafael Tárrago Cárdenas – 18/02/1959


34. Francisco Travieso – 18/02/1959
35. Luis Ricardo Grao – 23/02/1959
36. Viterbo O'Reilly Díaz – 27/02/1959
37. Rubén Rey Alberola – 27/02/1959
38. José Alvaro – 01/03/1959
39. José Castaño Quevedo – 07/03/1959
40. Oscar Guerra Amador – 09/03/1959
41. Rogelio Sopo Barreto – 14/03/1959
42. Raúl Clausell Gato – 15/03/1959
43. Rafael García Muñiz – 18/03/1959
44. Eduardo Forte – 20/03/1959
45. Pedro Soto Quintana – 20/03/1959
46. Alvaro Argueira Suárez – 21/03/1959
47. Ambrosio Malagón – 21/03/1959
48. Lupe Valdés Barbosa – 22/03/1959
49. Antonio Valentín – 22/03/1959
50. Eloy Contreras Rabiche – 01/04/1959
51. Secundino Ramírez – 02/04/1959
52. Jose Milián Pérez – 03/04/1959
53. Fidel Díaz Merquías – 09/04/1959
54. Mateo Delgado Pérez – 12/04/1959
55. Evelio Gaspar – 12/04/1959
56. Pedro Pedroso Hernández – 12/04/1959
57. Francisco Hernández Leyva – 15/04/1959
58. Ángel María Clausell García – 19/04/1959
59. Ramón Ramos Alvarez – 23/04/1959
60. Emilio Puebla – 30/04/1959
61. Juan Capote Fiallo – 01/05/1959
62. Angel García León – 01/05/1959
63. Gertrudis Castellanos – 07/05/1959
64. Ramón Fernández Ojeda – 29/05/1959
65. Salvador Ferrero Canedo – 29/05/1959
66. Juan Pérez Hernández – 29/05/1959
67. Alfredo Pupo Parra – 29/05/1959
68. Sergio Vázquez – 29/05/1959
69. N/A (brother) Cuni – junho, 1959
70. Roberto Cuni – junho, 1959
71. Renato Sosa Delgado – 28/06/1959
72. Mariano Alonso Riquelmo – 01/07/1959
73. Francisco Becquer Azcárate – 02/07/1959
74. Antonio Duarte Becerra – 02/07/1959
75. José González Malagón – 02/07/1959
76. Dámaso Zayas – 03/07/1959
77. Marcelino Valdés – 21/07/1959
78. Jesús Insua González – 22/07/1959
79. Enrique Izquierdo Portuondo – 23/07/1959
80. Félix Oviedo González – 24/07/1959
81. Pedro Alfaro – 25/07/1959
82. Ramón Bicet – 25/07/1959
83. Gerardo Hernández – 26/07/1959
84. José Díaz Cabezas – julho, 1959
85. Rudy Fernández – 30/07/1959
86. Ariel Lima Lago – 01/08/1959
87. Juan Silva Domínguez – agosto, 1959
88. Manuel Paneque – 16/08/1959
89. Jacinto García – 08/09/1959
90. Pablo Ravelo – 15/09/1959
91. José Medina – 17/09/1959
92. Eugenio Becquer Azcárate – 29/09/1959
93. Fernando Rivera Reyes – 08/10/1959
94. Osmín Jorrín Vega – 14/10/1959
95. José Chamace – 15/10/1959
96. Elpidio Soler Puig – 08/11/1959
97. José Evaristo Saldara Cruz – 09/11/1959
98. Venerio González – 14/11/1959
99. Silvino Junco García – 15/11/1959

27/11 - 31/12/1959

100. Severino Barrios Ramírez – 09/12/1959
101. Antonio Blanco Navarro – 10/12/1959
102. Alberto Corbo – 07/12/1959
103. Emilio Cruz Pérez – 07/12/1959
104. Eufemio Chala Cano – dezembro, 1959

sábado, 6 de outubro de 2012

Apelo a Raúl Castro, por Yoani Sánchez e Reinaldo Escobar

Enviei este apelo ao presidente de Cuba, Raúl Castro, pela liberdade dos ativistas Yoani Sánchez e Reinaldo Escobar. Enviei também ao General Abelardo Coloma, Ministro do Interior, e ao Embaixador de Cuba no Brasil.


São Paulo, 6 de octubre de 2012.

Excelentísimo Señor
Raúl Castro Ruz
Presidente de la República de Cuba
La Habana
Cuba
Fax: +53 783 33 085
cuba@un.int

Su Excelencia,

Me llamo Marcelo Centenaro. Soy un ingeniero electrónico brasileño, tengo 41 años de edad, resido en Sao Paulo. Escribo-le para expresar mi preocupación con YOANI SANCHEZ y REINALDO ESCOBAR. Ellos fueran arrestados en la ciudad de Bayamo el 4 de octubre de 2012, cuando se preparaban para hacer la cobertura del juicio de Ángel Carromero, acusado de homicidio involuntario por la muerte de Oswaldo Payá. Creo que Yoani Sánchez y Reinaldo Escobar fueron detenidos sólo por ejercer su derecho a la libertad de expresión.

Pido que se aclare en qué condiciones Yoani Sánchez y Reinaldo Escobar se encuentran detenidos. Pido al gobierno de Cuba que ellos sean formalmente acusados de delito tipificado en la ley o sean puestos en libertad de inmediato y sin condiciones. Pido que los disidentes políticos en Cuba estén protegidos y que su derecho a la libertad de pensamiento y de expresión sea respectado.

Aseguro-le, Excelentísimo Señor Presidente, mi más alta estima, respecto y admiración por su país.

Marcelo Centenaro



Endereço do Ministro do Interior:

Excelentísimo Señor
General Abelardo Coloma Ibarra
Ministro del Interior y Prisones
Ministerio del Interior
Plaza de la Revolución
La Habana
Cuba
Fax: +53 785 56 621
correominint@mn.mn.co.cu

Endereço do Embaixador de Cuba no Brasil:
Excelentísimo Señor
Carlos Zamora Rodríguez
Embajador Extraordinario y Plenipotenciario
Embajada de la República de Cuba
SHIS QI 5 conjunto 18 casa 1 – Lago Sul
71.615-180 Brasília-DF
Fax: (61) 3364-0767
ofiembajador@uol.com.br
embacuba@uol.com.br

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Censura, segundo Ayn Rand

Ayn Rand

“Censura” é um termo pertinente apenas à ação governamental. Nenhuma ação privada é censura. Nenhum indivíduo ou agência privados podem silenciar um homem ou suprimir uma publicação; só o governo pode. A liberdade de expressão dos indivíduos privados inclui o direito de não concordar, não escutar e não financiar seus próprios antagonistas.



Censura, em seu antigo sentido, é um decreto governamental que proíbe a discussão de alguns assuntos ou ideias específicos – como, por exemplo, sexo, religião ou críticas às autoridades – decreto que se faz cumprir por meio do escrutínio, pelo governo, de todas as formas de comunicação antes de sua divulgação pública. Mas para sufocar a liberdade da mente dos homens o método moderno é muito mais potente; ampara-se no poder da lei não-objetiva; nem proíbe nem permite nada; nunca define ou especifica; simplesmente oferece a vida, fortuna, carreira e ambições dos homens ao poder arbitrário de um burocrata que pode recompensar ou punir segundo seus caprichos. Poupa ao burocrata da necessidade incômoda de comprometer-se com regras rígidas – e faz recair sobre as vítimas o ônus de descobrir como agradá-lo, com um fluido incognoscível como seu único guia.

Não, um comissário federal pode não pronunciar nunca uma única palavra a favor ou contra qualquer programa. Mas o que você acha que vai acontecer se e quando, com ou sem seu conhecimento, um terceiro assistente, ou um primo em segundo grau, ou mesmo um amigo anônimo de Washington sussurar a um executivo da televisão que o comissário não gosta do produtor X ou não aprova o escritor Y ou tem grande interesse na carreira da atriz Z ou está ansioso para promover a causa das Nações Unidas?



Há anos, os coletivistas divulgam a ideia que a recusa de um indivíduo privado em financiar um adversário é uma violação do direito à liberdade de expressão do adversário e um ato de “censura”.

É “censura”, eles alegam, se um jornal se recusa a empregar ou a publicar escritores cujas ideias sejam diametralmente opostas à sua política.

É “censura”, eles alegam, se os empresários se recusam a anunciar numa revista que os denuncia, insulta e calunia...

E então temos Newton N. Minow [presidente da Federal Communications Commission] que declara: “Há censura por classificações, por anunciantes, por redes, por afiliadas que rejeitam a programação oferecida às suas áreas.” É o mesmo sr. Minow que ameaça revogar a licença de qualquer estação que não siga suas opiniões sobre a programação – e que afirma que isso não é censura...

[Essa noção coletivista] significa que a capacidade de prover as ferramentas materiais para a expressão de ideias priva o homem do direito de possuir qualquer ideia. Significa que um editor é obrigado a publicar livros que considera sem valor, falsos ou perniciosos – que um patrocinador de TV é obrigado a financiar comentaristas que decidem afrontar suas convicções – que o dono de um jornal deve franquar suas páginas editoriais para qualquer jovem hooligan que vocifera pela escravização da imprensa. Significa que um grupo de pessoas adquire o “direito” à licenciosidade ilimitada – enquanto outro grupo é rebaixado à irresponsabilidade impotente.

http://aynrandlexicon.com/lexicon/censorship.html