domingo, 24 de fevereiro de 2013

The God of the Machine, de Isabel Paterson


Terminei de ler The God of the Machine, de Isabel Paterson. É um dos três clássicos das Libertárias de 1943. Os outros dois são The Discovery of Freedom, de Rose Wilder Lane, e The Fountainhead, de Ayn Rand.

Estou começando a traduzir The God of the Machine para o português e vou publicar os capítulos aqui, de maneira tão regular quanto eu conseguir.

O livro é muito bom. Faz um panorama da história, começando com a República Romana e as Guerras Púnicas e analisa as principais questões filosóficas, políticas e econômicas do pensamento libertário. Dá para destacar várias citações valiosas, e pretendo fazer isso ao longo do trabalho. Não é um livro muito fácil. Há muitas metáforas ligadas à engenharia (civil e mecânica, principalmente), que ficam incompreensíveis para quem não é dessas áreas.

Isabel Paterson e Rose Wilder Lane são praticamente desconhecidas hoje. Não deveria ser assim.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

"Quem não pula é fascista"

Aqui vocês veem um video curtíssimo em que dá para ouvir os comunistas gritando o argumento mais irrespondível de todos: "Quem não pula é fascista!"

É pena que a coreografia não foi filmada. Estou com isso na cabeça até agora.

Contei essa história para minha filhinha, de 7 anos, que está no terceiro ano do ensino fundamental. Ela me respondeu o seguinte:

- Quando eu era do primeiro ano, se a classe estava fazendo bagunça, a professora falava "Quem tá de pé tem nariz de jacaré."

Mas isso era antigamente. A turma dela já passou dessa fase. Eles estão no terceiro ano.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Quero Liberdade (cap. XIV), de Rose Wilder Lane

XIV

Não novidade nenhuma na economia planejada e controlada. Os seres humanos vivem sob formas variadas dessa segurança social há seis mil anos. A novidade é a anarquia do individualismo, que vem operando livremente apenas neste país há um século e meio.

Quando escrevi este livro pela primeira vez, há dez anos, perguntei a mim mesma se o individualismo tem vitalidade social suficiente para sobreviver num mundo que está se voltando outra vez para as formas estáticas, essencialmente medievais. O individualismo, que por sua própria natureza não tem organização nem líder, pode se manter contra o ataque determinado de um grupo pequeno, organizado, controlado e que acredita fanaticamente que um homem forte no poder pode dar ao povo uma vida melhor que aquela que esse povo poderia criar por si mesmo?

O espírito do individualismo ainda está aqui. Há cerca de 130.000.000 de seres humanos nestes Estados Unidos, e nenhum de nós está livre da ansiedade, e muito poucos de nós não tiveram que reduzir seu padrão de vida nos últimos anos. A quantidade dos que ficaram sem emprego e enfrentaram fome de verdade é desconhecida; as estimativas mais altas chegam a doze milhões. Desse número, menos de um terço apareceu nos relatórios de medidas de alívio. Em algum lugar, os milhões que precisavam de ajuda e não foram ajudados ainda estão lutando por conta própria em meio à depressão.

Milhões de fazendeiros ainda são senhores de suas terras; não estão recebendo cheques dos fundos públicos para os quais contribuem com seus impostos crescentes.

Milhões de homens e mulheres estão pagando em silêncio suas dívidas para as quais não pediram renegociação; milhões cortaram as despesas ao mínimo necessário, gastando cada moeda com medo de que logo não tenham nada e, de algum jeito, se mantendo animados durante o dia e encontrando Deus sabe qual força ou fraqueza em si mesmos, durante as noites sombrias.

Os americanos continuam pagando o preço da liberdade individual, que é a responsabilidade individual e a insegurança.

Esses americanos despercebidos estão defendendo o princípio sobre o qual esta república foi fundada, o princípio que criou este país e que trouxe, de fato, o máximo bem possível para a máxima quantidade de gente. Por essa coragem e perseverança, o princípio americano vem sendo defendido com sucesso, repetidas vezes, por mais de um século.

Lembramo-nos dos americanos que morreram nas guerras deste país. Construímos monumentos em memória deles e deixamos flores em seu túmulo. Foram os americanos que viveram e mantiveram o espírito de luta através dos tempos amargos e difíceis que vieram depois de cada surto de prosperidade, foram os homens e mulheres que se importaram tanto com sua liberdade pessoal que assumiram os riscos de depender de si mesmos e passar fome se não conseguissem se sustentar, foram essas pessoas que criaram nosso país – o país livre, o país mais rico e feliz do mundo.

Mas, durante aquele primeiro século, o mundo ocidental estava se voltando para o liberalismo genuíno, para a libertação do indivíduo das garras do Estado – que costumava ser chamado de tirania e hoje é chamado de “legislação administrativa”. O teste de força vem agora, quando a Europa, a Ásia e muitos americanos se afastaram da liberdade e do dinâmico mundo moderno em direção à velha ordem estática na qual os indivíduos, agora sem permissão de agir livremente, não tem responsabilidade, mas deixam tanto o poder quanto os encargos para seus governantes.

http://www.libertarianismo.org/index.php/biblioteca/234-rose-wilder-lane/1074-quero-liberdade

Tive de concordar com um comunista

Ontem, enquanto gritávamos: "Yoani! Pode falar! Aqui não tem Fidel pra te calar!", um comunista virou para nós e disse: "Tem sim!"

Infelizmente, sou obrigado a concordar com ele.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Yoani Sánchez na Livraria Cultura


Estive na Livraria Cultura para dar meu apoio a Yoani Sánchez, comprar o livro dela para alguns amigos e pegar uns autógrafos. Estou cansado como se tivesse passado o dia cortando cana em Cuba, mas não sei se vou conseguir dormir.

Logo que cheguei, encontrei um grupo de amigos que tinha levado cartazes de apoio a Yoani. Uma comunistinha se aproximou e perguntou se nós éramos do grupo de solidariedade (a Cuba). Ninguém entendeu o que ela disse, e um deles respondeu: "Você está falando do Sindicato Solidariedade, que derrubou o comunismo na Polônia?" Ela foi embora.

Ficamos um bom tempo na fila, e a aumentava a quantidade de pessoas vestindo a bandeira de Cuba, camisetas da UJS e do PC do B. Mas havia muitas pessoas que tinham ido só para ouvir a Yoani e outras que pretendiam protestar a favor. De repente, começaram algumas manifestações e mostramos nossos cartazes. "Fala, Yoani! Fala!" "Nem todo brasileiro defende ditaduras." "Che usava Rolex. Fidel usa Adidas. Yoani come banana e, por isso, é capitalista. (Lógica das esquerdas)" "'Yoani, agente estadunidense' (sent from my iPhone)." Socialismo no Cuba dos outros é refresco."

As pessoas se surpreenderam por estarmos solidários a ela. Muita gente tirou fotos, muita gente estava ali para vê-la.

Então chegou uma tropa grande do PC do B. Carregando cartazes impressos, com apitos, narizes de palhaço, megafones e uma faixa bem grande, levada por quatro ou cinco pessoas. A fila deixou de existir nessa hora. Eles gritavam "Fascistas, não passarão!". E usavam o sensacional argumento pró-Fidel: gritavam "Quem não pula é fascista." enquanto davam pulinhos…

Gritamos de volta muitas vezes. Não de maneira tão organizada e profissional como eles, sem megafone e em minoria. Nos fizemos ouvir muitas vezes, mesmo assim. "Cuba sim, Fidel não!" "Ei, socialista, liberdade é uma delícia!" Quando eles disseram que apoiávamos o embargo americano, gritamos "Embargo não! Livre comércio!"

O evento abriu, mas demorei um pouco a perceber por causa da confusão. Havia bastante policiamento e segurança. Não estavam deixando muitas pessoas entrarem de cada vez. Os comunistas não eram barrados, desde que tivessem a pulseirinha da Livraria Cultura. A maioria das pessoas no auditório queria ouvir a Yoani, mas os comunistas ficavam interrompendo o tempo todo, e a quantidade deles ia aumentando conforme mais alguns conseguiam entrar.

A Barbara Gancia fez uma pergunta enviada pelo Reinaldo Azevedo (ouvi ela dizendo isso quando depois que o evento terminou). A pergunta era: "Na contra-capa do livro, está escrito que você não escreve sobre política. Você acha que há uma tentativa de despolitizar o que você representa?" Não consegui ouvir a resposta, por causa dos comunistas.

Os comunistas gritavam "mercenária", quando Yoani tentava falar. Várias vezes perguntei aos que estavam atrás de mim se eles por acaso estavam lá de graça. Se não entendi mal, uma senhora comunista chegou a me dizer que trabalhava assim, que era patrocinada.

O evento acabou abruptamente, estava ficando impossível qualquer debate. Yoani saiu rapidamente do palco. A organização dizia que ela retornaria logo. As pessoas se aglomeraram na frente. Primeiro chegaram as pessoas que queriam autógrafos, depois os comunistas. Quando estes forçaram uma aproximação, algumas pessoas tentaram barrá-los. Exatamente nessa hora, estava perto de mim, no meio dos dois grupos, um senhor de uns cinquenta anos, com uma camisa do Juventus (vermelha) e um livro na mão, querendo um autógrafo. Ele foi confundido com um comunista e empurrado, coitado.

Acabaram anunciando que a Yoani havia ido embora. Não haveria condições de segurança para ela dar autógrafos pessoalmente. Disseram para deixarmos os livros e nossos nomes e CPF, que ela autografaria todos e poderíamos pegar os livros amanhã. Deixei os meus lá, espero que funcione.

Os livros que levei foram: "De Cuba com Carinho" (claro), "A Ilha Roubada", de Sandro Vaia, "Cuba Libre", dela, em italiano, e "Memorias de un Guerrillero Cubano Desconocido", de Juan Juan Almeida.


Estou cansado, mas estou feliz. Até a última vez que olhei, o Brasil era uma democracia. Esses verdadeiros fascistas não têm o direito de nos impedir de fazer o que quer que seja. Seus abusos precisam de resposta.

Demos uma resposta hoje.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Quero Liberdade (cap. XIII), de Rose Wilder Lane

XIII

Olhamos demais para gráficos e estatísticas. Aprenderíamos mais olhando para a América.

Estranhamente, as estatísticas só aparecem em tempos de agitação e necessidade. Alguém poderia dizer que sua função é a das profecias de que o pior está por vir. Parecemos ter um gosto mórbido por elas, como o das crianças por histórias de fantasmas que arrepiam os cabelos. O ar da América não ficava tão cheio de estatísticas fragmentadas desde o Pânico de 1893.

Leio outra vez, por exemplo, que menos de 10 por cento da nossa população detém mais de 90 por cento da riqueza. Isso me alarmava em 1893.

Também leio que, há cem anos, 80 por cento da nossa população tinha propriedades e hoje essa taxa é de 23%. Se essa expropriação aconteceu, isso é alarmante. Mas para mim é muito mais alarmante que tantas mentes americanas aceitem essa afirmação como verdadeira, sem nenhuma outra prova exceto o fato de que a leram, e daí concluam: primeiro, que “alguma coisa tem de ser feita” e, segundo, que a coisa certa a fazer é tomar a propriedade dos indivíduos e fazer com que o Estado a administre. Estado, neste caso, significa governantes autocráticos dando ordens por meio de uma enorme burocracia.

Quando olho para a América, não vejo mais de três em cada quatro cidadãos destituídos de propriedade. O que vejo é que as formas de propriedade mudaram. Suspeito que, se qualquer estatístico treinado disser que quase quatro em cada cinco de nós não têm propriedades, ele estará falando de formas de propriedade conhecidas cem anos atrás como “propriedade real”.

Menos homens possuem fazendas porque a melhoria dos meios de transporte e o surgimento dos caminhões frigoríficos tornaram possível enviar boa comida para grandes populações nas cidades e porque a melhoria do maquinário agrícola tornou inevitável que as fazendas sejam maiores. Menos homens possuem casas porque muitos preferem alugar um apartamento. Quase todos os milhares de pequenas fábricas, tocadas pela família e um ou dois filhos de vizinhos, e quase todos os pequenos moinhos de água, que moíam milho e trigo e faziam papel, desapareceram. Nas correntes da América não mais existem pequenas fábricas de amido de batata, pequenas fábricas de biscoito e pequenas serrarias. Nas estatísticas, vai aparecer que a Grande Fábrica de Biscoito, com um dono, substituiu cinco mil donos de fabriquetas de biscoito.

Mesmo assim, quantos homens há cem anos possuíam seguros de vida? Ou participação numa building-and-loan association1? Ou ações da Grande Fábrica de Biscoitos? Ou um carro, um rádio, uma geladeira e uma máquina de escrever? O fato é que, nas estatísticas, eu mesma apareço como despossuída, quando minha renda anual tem cinco dígitos. E conheço uma dúzia de pessoas que pagam muito imposto de renda e não possuem nenhum tipo de “propriedade real”.

Olhando para a América, me pergunto também sobre a porcentagem estatística de americanos que vivem de algum jeito com uma renda abaixo da “linha de subsistência”.

Morei por alguns anos numa fazenda próxima a uma vila de 800 pessoas, numa região agrícola de baixa produtividade em Ozarks, do tipo conhecido tecnicamente como favelas rurais. Os americanos honrados e cheios de respeito próprio que moram naquelas casas de madeira limpas, aquecidas por fogões e iluminadas com querosene não fazem ideia de que moram em favelas. Vivem como seus pais viviam e gostam disso. Cada vez que põem a família no carro e vão até a Califórnia, o Texas ou Idaho, voltam dizendo que não existe lugar como seu lar.

Gostam de água fresca, fria, que sai borbulhando do meio das rochas, e de melancias geladas no regato. Gostam de caça à raposa, de tocar rabeca e de piqueniques. Há quarenta anos, não precisavam de “dinheiro em espécie” para nada, exceto para pagar impostos. Hoje, têm o que quiserem para comer e têm lugar para abrigar os parentes que perderam o emprego nas cidades e, embora sintam o aperto dos impostos, passam muito bem com muito poucos dólares por semana da venda de leite.

Na vila, não há sessenta pessoas que apareceriam nas estatísticas como acima da “linha de subsistência”. No condado inteiro, só oito pessoas tem renda maior que US$1.000,00 por ano e apresentam declaração de imposto de renda.

Mesmo assim, essa vila possui iluminação elétrica, sistema de água e esgoto, telefones, é claro, e uma rua principal asfaltada que brilha à noite com anúncios de neon. Frequentemente, assistíamos estreias de filmes antes de Nova York. Nosso salão de beleza tinha os mais modernos equipamentos para tratamento facial, manicure e cabeleireira.

Com menos de vinte exceções, as casas eram belas casinhas, bangalôs e chalés de pedra bem cuidados, com gramado e plantas ornamentais, água encanada, caixa de gelo2, telefone, rádio. Há várias geladeiras elétricas na vila e vários fogões elétricos, embora muitas mulheres ainda usem fogões a querosene. Quase todas as famílias têm carro. As lavanderias usam lavadoras elétricas. A maioria dos homens veste jardineira, exceto quando se arrumam para uma ocasião especial, mas não encontro roupas de tanto bom gosto ou tão elegantes quanto os vestidos baratos daquelas mulheres. Todas usam meias de seda, é claro.

Essa vila não é exceção. Se você andar pelas estradas vai passar por vilas como essa a cada trecho de poucas milhas. Grande parte da população delas está abaixo da linha estatística de subsistência.

Concluo desses fatos observados que deve haver milhões de homens e mulheres neste país que, no papel, parecem estar em extrema necessidade de reabilitação e que ficariam mortalmente ofendidos se alguém dissesse isso a eles.

1 Instituição financeira de pequeno porte, comum nos Estados Unidos. (NT)
2 Em inglês, ice box. Refrigerador não mecânico, compacto, que era um utensílio de cozinha comum antes do surgimento da geladeira elétrica. (NT)

www.libertarianismo.org/index.php/biblioteca/234-rose-wilder-lane/1074-quero-liberdade

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Stalin queria a URSS fazendo parte do Eixo. Hitler não topou.



Segue um trecho do capítulo O pacto dos totalitarismos: Hitler e Stalin, do livro Liberdade Versus Igualdade Vol. 1 - O Mundo em Desordem, de Demétrio Magnoli e Elaine Senise Barbosa.
Fontes de inteligência soviética no Japão informaram previamente Stalin sobre as negociações para o Pacto do Eixo, firmado entre Berlim, Roma e Tóquio em setembro de 1940. O pacto tripartite se destinava a dissuadir os Estados Unidos de se envolver na guerra europeia, mas Stalin desconfiava da existência de um protocolo secreto concernente à URSS. Não existia tal protocolo, mas Hitler já oscilava entre as ideias de invasão das Ilhas Britânicas e da URSS. em outubro, o ditador soviético solicitou que Molotov fosse recebido para discutir o ingresso de seu país no Eixo. Ribbentrop respondeu positivamente e a cúpula nazista ensaiou uma proposta de divisão das esferas de interesses no sudeste europeu pela qual os soviéticos se contentariam com uma zona de influência a leste do mar Negro.

O trem de Molotov chegou a Berlim a 12 de novembro. Uma banda tocava A Internacional na plataforma, onde Ribbentrop o aguardava. Seguiram-se dois dias de negociações com o próprio Ribbentrop e com Hitler. Os alemães sugeriram a divisão da Eurásia e da África em quatro esferas de influência. O soviético indicou que seu país não abriria mão de um controle indireto sobre a Bulgária e de uma influência decisiva sobre os estreitos de Bósforo e Dardanelos, na entrada ocidental do mar Negro. Hitler, que não pretendia discutir aquelas demandas, enfatizou que o prêmio maior seria a futura partilha do Império Britânico. Na mesma noite, findo o encontro, ele emitiu uma instrução sigilosa sobre os preparativos para a invasão da URSS.

No encontro, os alemães chegaram a apresentar um esboço de acordo, que concederia à URSS uma esfera de influência meridional, na direção do golfo Pérsico e do oceano Índico. Molotov não se impressionou com a proposta, ciente de que Hitler rejeitava discussões sobre os interesses soviéticos na Europa, especialmente nos Bálcãs. Duas semanas depois, Moscou enviou contraproposta para um pacto quadripartite, adocicada pela garantia de amplos fornecimentos soviéticos de matérias-primas e alimentos. Stalin queria que as tropas alemãs se retirassem da Finlândia e pedia a inclusão da Bulgária e dos estreitos turcos na sua esfera de influência.

A contraproposta soviética jamais recebeu resposta, apesar de nervosas e insistentes cobranças de Molotov em dezembro e janeiro. A 5 de dezembro Hitler confirmou os planos de invasão da URSS, prevista inicialmente para maio. A 18 de dezembro a projetada invasão ganhou o nome codificado de Operação Barbarossa. Por decisão de Berlim, Moscou não ingressou no Pacto do Eixo.



Stalin, entre Ribbentrop e Molotov, em Moscou, na conclusão do Pacto Germano-Soviético de 1939. No dia seguinte, como por encanto, os partidos comunistas cessaram a crítica à Alemanha, girando as baterias contra os liberais e os social-democratas. Durante mais de um ano, em toda a etapa inicial da guerra, a URSS forneceria as matérias-primas para o esforço militar nazista.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Quero Liberdade (cap. XII), de Rose Wilder Lane

XII


O telefone, a luz elétrica, as meias de seda, as frutas e legumes frescos no inverno, os açougues com boas condições sanitárias, a geladeira, a garrafa de leite, o fogão a gás ou a querosene, roupas prontas, o lençol sem costuras, o papel de parede, a escova de dente, o sapato de couro, o cinema, o sorvete e mil outras coisas às quais os americanos estão tão acostumados que não as veem, todas testemunham uma distribuição de riqueza neste país individualista de tal ordem que nenhum outro povo sonhou ter.

Há vinte e cinco anos, o automóvel era um privilégio de homens ricos. Ainda é, em todos os lugares menos aqui. Na América, a anarquia do egoísmo individualista descontrolado distribuiu automóveis de tal maneira que, durante a pior miséria dos anos 30, a Califórnia ficou entupida de dezenas de milhares de famílias sem um centavo que chegavam; e os famintos não marchavam, viajavam em caminhões. E é correto que essas pessoas tenham automóveis; é exatamente o que eu quero dizer. Elas devem tê-los, e o individualismo conseguiu de alguma maneira, sem planejamento ou qualquer objetivo definido, fazer com que elas os obtivessem.

Há trinta anos, a maioria dos americanos tomava banho numa tina no sábado à noite e iluminava o caminho até a cama com uma lâmpada de querosene. Até hoje, os ingleses são considerados no mundo inteiro um povo extraordinariamente asseado, porque em qualquer casa inglesa de classe média ou qualquer hotel de classe média alta em Londres, pode-se tomar banho numa banheira de latão levada para o quarto. Hoje, nossos indignados intelectuais americanos acusam a América por permitir que mais de dois milhões de casas rurais não possuam banheiros modernos ou luz elétrica. Alguma coisa tem que ser feita para resolver isso, dizem eles.

Deve haver mais de dois milhões de famílias americanas usando ainda tinas para banho e lâmpadas de querosene. Deveriam ter água encanada e eletricidade. Deveriam ter aquecimento central, refrigeração elétrica, ar condicionado, televisão e todas as outras formas de riqueza material que possa ser imaginada e criada para servir-lhes no futuro.

Ainda há muita desigualdade econômica; a diferença entre ricos e pobres não diminuiu o suficiente. Com certeza, alguma coisa deveria ser feita para distribuir riqueza, para elevar o padrão geral de vida, para melhorar as condições de vida dos pobres e dar a todos, particularmente aos ricos, uma via mais abundante.

Mas é precisamente o que essa anarquia de individualismo vem fazendo, vem fazendo crescentemente, pelo curto período da história moderna durante o qual funcionou. Quando olho para essa experiência americana única que mal começou, que vem acontecendo há menos de um século e meio, acho que podemos dizer que é um sucesso.

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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

August Landmesser, ou a Coragem

Esta foto foi tirada em 13 de junho de 1936, no estaleiro Blohm + Voss, em Hamburgo, por ocasião do lançamento do navio alemão de treinamento Horst Wessel (atualmente pertencente à Marinha Americana, com o nome de USCGC Eagle). Em meio a uma entusiasmada multidão que faz a saudação nazista, um homem solitário se recusa a participar, cruzando os braços silenciosamente.

Quem é o corajoso herói?

Não temos como saber com certeza, mas acredita-se que seja August Landmesser, operário do estaleiro. Ele nasceu em 24 de maio de 1910. Em 1931, entrou para o Partido Nazista, esperando com isso conseguir um emprego. Foi expulso do partido em 1935, por ter ficado noivo de uma judia, Irma Eckler. Eles foram impedidos de se casar pelas Leis de Nuremberg.

A primeira filha deles, Ingrid, nasceu em 29 de outubro de 1935. A família tentou fugir para a Dinamarca em 1937, quando Irma estava grávida novamente, mas August foi preso e condenado por "desonrar a raça". Ele alegou que nem ele nem ela sabiam que ela era judia e acabou absolvido por falta de provas, mas advertido a não continuar vivendo com Irma, sob pena de ser condenado a uma longa pena de prisão. Eles continuaram juntos e August foi preso e condenado a dois anos e meio de detenção no campo de concentração de Börgermoor.

Irma foi presa pela Gestapo e, na prisão, deu à luz sua segunda filha, Irene. Irma passou por diversos campos de concentração e acredita-se que tenha morrido em fevereiro de 1942, no campo de Ravensbrück. As crianças foram entregues a diferentes pais adotivos.

August foi enviado para o front de batalha na Croácia, num batalhão penal e provavelmente morreu em combate, em 17 de outubro de 1944.

Depois da guerra, o casamento de August Landmesser e Irma Eckler foi reconhecido retroativamente pelo Senado de Hamburgo e Ingrid assumiu o sobrenome Landmesser. Irene preferiu manter o sobrenome Eckler.

Em 1996, Irene Eckler publicou o livro O Ato Tutelar 1935-1938: Perseguição a uma Família por Desonra à Raça.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Quero Liberdade (cap. XI), de Rose Wilder Lane


XI


Só uma vez um grande número de americanos quis distribuir riqueza e eles não pretendiam elevar o padrão de vida. O padrão de vida já tinha se elevado demais e caído deploravelmente demais. Eles queriam retornar à prosperidade da década de 1880.

Aconteceu há quarenta anos. Lembro-me bem. Tempos difíceis terminaram de vez com uma época de enorme expansão nas finanças, invenções e riqueza. Na memória de meus pais, que não eram velhos, as condições de vida tinham sido completamente transformadas.

A lâmpada de querosene tinha substituído as velas e o trabalho de produzi-las; a roda de fiar havia desaparecido, o tear então só era usado para fazer tapetes de pano. Roupas feitas a máquina, sapatos feitos a máquina, vassouras industrializadas haviam jogado homens no desemprego, mas junto com o sabão industrializado e o fermento em pó, revolucionaram as tarefas domésticas. Pregos, arame farpado, arados puxados por cavalos, colheitadeiras, enfardadeiras, debulhadores de oito cavalos facilitaram o trabalho no campo – mais que em qualquer outro país.

Estradas de ferro iam de costa a costa, o serviço postal era rápido e barato, as salas de estar tinham aquecedores, o telégrafo havia chegado a quase todos os lugares. Naqueles bons tempos, os negócios fervilhavam. Na Quinta Avenida, subiam os palácios iluminados a gás dos – quase incrível, mas verdade – milionários. No Meio Oeste, as mulheres usavam vestidos de seda aos domingos; os homens fumavam bons charutos e dirigiam rápidas carruagens. Então, de repente, crash! o Pânico.
Alguns culparam as tarifas, a maioria culpou as estradas de ferro. (Em plebiscitos em 1860, a maioria aprovou subsídios para as estradas de ferro. Teria sido melhor para elas se não tivessem auxílio do governo; a partir de 1890, eram amargamente odiadas porque eram subsidiadas. O ódio durou até que essas inimigas do povo fossem refreadas, reguladas e controladas pela Comissão de Comércio Interestadual.)

Todos tinham dívidas, é claro. Não houve tempo desde a fundação desta república em que os americanos não estivessem profundamente endividados. Hipotecas foram executadas, bancos faliram, fábricas fecharam, os preços agrícolas mergulharam. Senhoras caridosas organizaram sopas-dos-pobres nas cidades. Fazendeiros, depois que os credores tomavam a vaca, ficavam vivendo de batatas e nabos até que a hipoteca tomasse a fazenda.

Uma população arrancada do solo movia-se pelas estradas em carroções puxados por cavalos famintos. Grupos organizados de desempregados urbanos aglomeravam-se gritando: – Somos de carne e osso! Exigimos nosso direito de trabalhadores! – A polícia municipal e as milícias tinham-nos expulsado das fábricas fechadas e das ruas das cidades maiores. Eles aterrorizavam as cidades menores.

Do Pacífico ao Mississipi, sequestravam trens, amontoavam-se nos vagões e engajavam os maquinistas desempregados, convencendo-os a levar os trens a plena velocidade para leste. O tráfego ficou completamente confuso. Para o leste do Mississipi, os controladores de tráfego tiraram de circulação todos os trens. O exército de desempregados de Coxie marchava a pé do Mississipi para Washington. Tropas federais protegiam os prédios públicos.

Está tudo no arquivo dos velhos jornais, para aqueles que não têm uma memória tão antiga. Eu estava num carroção e ouvia o que diziam em volta das fogueiras, e eu me lembro.

Enquanto isso, a maioria das famílias continuou vivendo de maneira não dramática, como a maioria das famílias sempre faz em qualquer lugar, em meio a depressões, inflação, revoluções e guerras. Muito poucas pessoas morreram de fome. Alguém na América sempre divide o alimento com quem precisa dele desesperadamente. Pode ser que a bondade americana tenha-se originado do sentido de insegurança de cada americano.

Mas a inanição, ou mesmo a subnutrição geral daqueles anos, que deixou tantas crianças passando fome, não é o pior que a pobreza pode fazer com um povo individualista. Neste país, pobreza não é o estado crônico de certas classes, a ser suportada como os animais suportam o frio, como uma coisa física. Americanos normais sentem uma responsabilidade individual, uma necessidade de pensar, agir, realizar; uma pobreza da qual não se ache escapatória é uma agonia para a mente e o espírito. Culpamos a nós mesmos, sentimos nosso respeito próprio mortalmente ferido, sofremos.

Depois de três anos de sofrimento, a maioria dos americanos sabia o que queria. Eles queriam destruir os Trustes.

Os Trustes eram os avós das atuais grandes corporações. Víamos os Trustes como combinações para restringir o comércio. Os negócios tinham ido bem durante a década de 1880; agora, estavam estagnados, tinham parado; obviamente, alguma coisa os fez parar e todos os nossos economistas brilhantes e populares viam que nosso inimigo eram os Trustes. As estatísticas provavam isso, e nossa experiência também, já que todos tinham prosperado quando os Trustes estavam se formando e, agora que estavam solidamente estabelecidos, todos eram pobres.

Todos eram pobres, exceto os poucos donos dos Trustes. De fato, uns poucos homens os possuíam e controlavam, já que os Trustes eram novos e o desmanche da propriedade mal tinha começado. Esses poucos homens de fato possuíam ou pareciam possuir quantias como um milhão de dólares cada um. Numa palavra, tinham todo o dinheiro do país.

Não havia mais terra disponível. Os fazendeiros não conseguiam ganhar o suficiente para pagar os impostos. Não havia empregos; as fábricas tinham fechado. E menos de 10 por cento da população possuía mais de 90 por cento da riqueza. Mulheres ricas mimavam cachorrinhos, enquanto crianças passavam fome. Alguma coisa tinha de ser feita.

Nós gritávamos: “Abaixo os Trustes!” Nosso herói contra eles era o orador jovem e eloquente de Platte, William Jennings Bryan.

William Jennings Bryan saiu do oeste de maneira destemida para defender o Homem Comum. Enfrentou as legiões entrincheiradas do egoísmo que só pensavam em seus inchados sacos de dinheiro e as desafiou em nome do sofrimento da Humanidade.

Vocês não vão empurrar sobre a fronte do Trabalho essa coroa de espinhos! – ele trovejava. – Vocês não vão crucificar a humanidade numa cruz de ouro!

Ele era economista. Propunha restringir e controlar os Trustes pela livre cunhagem de prata, numa taxa de 16:1 com relação ao ouro. Os argumentos eram intricados e difíceis de entender, mas o coração de Bryan estava no lugar certo e, com toda sinceridade, ele sangrava pelo sofrimento do povo e pela situação arriscada do nosso país.

Foi a mais dura batalha política na história desta república. As massas do povo estavam furiosamente determinadas a destruir os Trustes e é fato que a inflação da moeda os teria arruinado; teria também, sem dúvida, destruído completamente o valor do dinheiro, não importa de quem.

Os homens ricos tinham real poder na época e, naturalmente, tentaram defender seu dinheiro. Lutaram por ele de maneira aberta e dura; e conseguiram salvá-lo por uma margem mínima. Derrotaram Bryan. As multidões de americanos tinham feito seu único esforço para distribuir riqueza e tinham fracassado.

Mesmo assim, tanta riqueza foi criada e distribuída que hoje poucos americanos pensariam em negar a ajuda de fundos públicos para qualquer família destituída de alimentação adequada, vestuário, abrigo, assistência médica e segurança financeira, como era o caso da maioria das famílias americanas em 1896.

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