sábado, 22 de outubro de 2016

Limpando pichações abortistas



No dia 15 de outubro, um pequeno grupo de cidadãos de Campinas se reuniu para uma tarefa de limpeza: apagar pichações que ensinavam a fazer um aborto. Leiam o relato de Gabriel Vince, que organizou a ação. Espero que inspire outras pessoas a seguir este exemplo e agir.

Uma das coisas que mais impressionam na esquerda radical é a militância pelo aborto e sua eficiência na lavagem cerebral de seus seguidores. Conseguir que dediquem tempo, recursos e, em alguns casos, a própria vida a uma causa que desafia a própria natureza é espantoso.
Em minha cidade, Campinas, membros de coletivos feministas espalharam pelas ruas pichações que orientavam às mulheres como fazer um aborto.
Dispostos entre as receitas de como assassinar crianças no ventre, slogans evocando sororidade. Ausente nos dicionários de língua portuguesa, mas corrente entre a militância, a palavra remete a uma espécie de pacto entre mulheres baseado na empatia e no companheirismo. Empatia, pelo dicionário Aurélio, é a “tendência para sentir o que sentiria, se estivesse em situação vivida por outra pessoa”. O sentimento de empatia permite que sintamos as dores do próximo como se fossem nossas. Podemos, então, assumir atitudes para diminui-las, como faríamos se fossemos nós os sofredores. É por meio da empatia que exercemos a caridade. A caridade entre a militância feminista se expressa pelo incentivo à morte.
Sabemos dos pesares e dificuldades que podem acometer mulheres grávidas: rejeição familiar, abandono do cônjuge, falta de recursos. Diante dessas dificuldades, oferecer dinheiro, lar e apoio não são alternativas. Para acabar com os percalços por que poderiam passar as futuras mães, o conselho é simples: acabe com a vida. Um bebê morto não te acordará a noite, não precisará de fraldas, não exigirá que você desista de ir a uma festa e nem que pare seus estudos por um tempo. A solução parece simples; caso esteja sem recursos, é muito provável que as ‘manas’ te emprestem, contanto que os use para comprar medicamentos abortivos. É óbvio que ninguém vai se oferecer para pagar seu pré-natal.
Elas provavelmente não irão te informar sobre os estudos que relacionam o abortamento à depressão, observada em 60% dos casos, segundo a pesquisadora Mariana Gondim Mariutti Zeferino, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, nem alertar para o fato de que mulheres que passam por um aborto induzido têm 44% mais chances de desenvolver câncer de mama do que aquelas que nunca passaram pelo procedimento. A aliança estabelecida não tem como fim a vida das mulheres, sua saúde e bem-estar futuros. As feministas se associam em razão de uma causa, não umas pelas outras como seres humanos que sentem dores recíprocas e se oferecem ajuda. Na moralidade da revolução, oferecer a pessoas desesperadas uma solução criminosa com conseqüências inestimáveis é empatia e companheirismo.
O ato
A idéia de fazer o ato para apagar as pichações surgiu uma semana antes, enquanto passava pelo Centro da cidade. Comuniquei alguns amigos do Facebook sobre a presença de dois desenhos que ensinavam sobre o uso correto de um medicamento abortivo, um remédio tarja preta utilizado no tratamento de úlceras.
O principal componente desse medicamento é o misoprostrol, substância responsável por bloquear a ação da progesterona, hormônio produzido pelo corpo feminino que estabiliza o revestimento do útero. O enfraquecimento do tecido provoca a interrupção do suprimento de sangue para o bebê. Durante a gestação, a respiração é realizada através do sistema circulatório. É por isso que, neste caso, o bebê morre sufocado. A segunda parte consiste na remoção física da criança. Para isso, o medicamento abortivo em questão provocará contrações, cólicas e forte sangramento no útero. Esses mecanismos forçam a eliminação dos restos mortais, posto que fragmentos remanescentes podem provocar infecção e hemorragias. Algumas mulheres podem apresentar sangramento por mais de 30 dias após o abortamento.
Para esse trabalho, contei com o apoio dos amigos Luis Fernando Waib, Aldo Siqueira e Cíntia Salles, que se despuseram a ajudar com a doação de tinta, pincéis e trabalho. Sábado (15), nos encontramos na Catedral Metropolitana de Campinas e partimos para os locais determinados. A primeira pichação estava a pouco menos de 100 metros e a outra foi desenhada nas paredes de uma igreja evangélica, ao lado do prédio da prefeitura municipal da cidade.
Enquanto pintávamos as paredes, fomos interrompidos por duas mulheres, que nos agradeceram. Uma delas, inclusive, indicou a localização de outras pichações de mesma natureza. Sua atitude não contraria o esperado. Segundo o Datafolha, 87% dos brasileiros consideram a prática do aborto “moralmente errada”; entre as mulheres, esse número é ainda maior, chegando a 90% para as que possuem 41 anos ou mais. A mesma pesquisa revelou que pais de meninas adolescentes apoiariam que elas “mantivessem a gravidez em qualquer situação”; entre as mães, o número salta para 88%, enquanto 20% dos pais recomendariam que ela “tivesse o filho e se casasse com o pai da criança”. No caso das mães, esse número cai para 10%. Apenas 1% das pessoas aconselharia o aborto em qualquer situação. Os dados nos permitem concluir que, mesmo em situações consideradas socialmente indesejáveis, o brasileiro médio, tido por machista, preferiria que sua filha adolescente e solteira mantivesse a criança, porque considera o aborto imoral, rejeitando-o em proporção semelhante ao roubo e à corrupção.
O que podemos concluir?
O feminismo é um movimento restrito e político, que não defende os direitos femininos e não representa o desejo da maioria das mulheres.
Diante dessas verdades, aconselho a todos que se opõem à cultura da morte que organizem atos semelhantes. Eles têm o apoio da população e, sobretudo, das mulheres. Nós somos a maioria.

Gabriel Vince









quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A resposta de Joselito Müller a Chico Alencar



Na semana passada, conforme publiquei, Joselito Müller recebeu uma interpelação extrajudicial do deputado Chico Alencar, exigindo que o humorista retirasse da Internet uma piada que mencionava o parlamentar.

Nesta quarta-feira, Joselito enviou sua resposta ao nobre deputado.

O humorista cita uma decisão de Ayres Brito, em que o ministro menciona a “esfera de iluminabilidade, da doutrina italiana, segundo a qual as chamadas celebridades […] encontram-se parcialmente livres das proteções normais conferidas aos cidadãos comuns, no que se refere à exposição de seus direitos personalíssimos ligados ao inciso X do artigo 5º” da Constituição. Lembra que a paródia e a sátira não estão adstritas à realidade, podendo lançar mão do absurdo para tentar provocar o riso. O parlamentar não está imune a isso, nem pode considerar que esse tipo de ato seja uma mácula a sua honra. Lembra também que a Constituição assegura a livre manifestação do pensamento, embora isso possa desagradar a quem defende a censura, ou considera o regime venezuelano um exemplo a ser seguido. Declara enfaticamente que não irá retirar o conteúdo publicado.

Joselito termina fazendo duas exigências ao deputado e diz quais providências irá tomar caso essas exigências não sejam atendidas em cinco dias. Leia aqui.

Se você quiser perguntar ao deputado Chico Alencar se ele recebeu a resposta e se ele pretende atender às solicitações de Joselito Müller, o telefone do gabinete é (61) 3215-5848 e o e-mail dele é dep.chicoalencar@camara.leg.br.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Deputado Chico Alencar quer censurar uma piada



O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) enviou uma interpelação extrajudicial ao humorista Joselito Müller exigindo a justificação das razões que o levaram a fazer uma piada e a sua remoção da Internet.

O deputado escreveu no Twitter “Se a sociedade é para todos, se a economia deve servir a todos, por que alguns têm muito e outros tão pouco? Vamos redistribuir a renda.” Joselito Müller, conhecido por criar notícias fictícias engraçadíssimas, publicou o seguinte post: Chico Alencar causa tumulto ao distribuir seu salário em via públicaO humorista informava o endereço e o telefone do gabinete, para quem estivesse interessado em solicitar sua parte na distribuição de renda.



Algumas pessoas gravaram e divulgaram suas ligações ao gabinete do parlamentar, que ficou bastante irritado. 

Hoje, Joselito recebeu o documento reproduzido abaixo, com as mencionadas exigências e com ameaça de ações cíveis e penais.



Aparentemente, o deputado do Partido Socialismo, Oximoro e Liberdade se esqueceu de que a ditadura acabou há 31 anos e o AI-5 há 37. Também parece ignorar que a Constituição brasileira garante a liberdade de expressão, inclusive para se fazer piada de deputados.

Se você tiver algo a dizer ao Excelentíssimo Senhor Deputado, o telefone de seu gabinete é (61) 3215-5848.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Entrevista com José Anselmo dos Santos, o “Cabo Anselmo”


Existe um brasileiro cuja cidadania foi cassada pela ditadura militar e jamais foi restabelecida. Existe um homem que possui uma Certidão Negativa de Nascimento, que atesta que ele não nasceu. É o único dos presos políticos que não foi anistiado. Seu nome é José Anselmo dos Santos e sua história está contada no livro Cabo Anselmo – Minha Verdade.

Conversei com Anselmo e trago aos leitores do blog um pouco de sua experiência.

PERGUNTA: Como está a situação da sua identidade civil? Mudou alguma coisa desde a publicação do livro? Você tem esperança de recuperar a cidadania brasileira? 

JOSÉ ANSELMO DOS SANTOS: Nada mudou. Continuo clandestino ou apátrida. José Anselmo dos Santos, aquele marinheiro de primeira classe do serviço subalterno da Armada, existe nos arquivos da instituição. Portava uma cédula de identidade de militar da Marinha e tinha uma conta bancária no Banerj, onde eram depositados os soldos mensais. Não sei em que momento fiquei sem aquele documento. Após a fuga da prisão, passei um ano fechado em “aparelhos”, sob a proteção de famílias militantes ou simpatizantes de grupos comunistas. Desde então tenho utilizado identidades “frias”, com outros nomes. A pedido do meu advogado, foi feito o reconhecimento através de impressões digitais por um datiloscopista oficial, na presença de Procuradores da Justiça Federal e de um agente da Marinha. A Justiça determinou à Marinha o prazo de 10 dias para devolver minha identidade. A resposta foi negativa. O juiz que despachou a ordem foi removido do posto e substituído por outro que determinou à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo a expedição da identidade em meu nome. A SSP-SP exigiu a certidão de nascimento. O cartório em que fui registrado enviou uma “Certidão Negativa”. Não nasci, não existo. Nem sei como fui parar na Marinha.

Recuperar o meu nome é o objetivo primeiro. Venho tentando desde o processo de pedido de anistia, que segundo informações do meu advogado atrasou durante anos, segundo as autoridades da Comissão de Anistia, porque faltava anexar identidade, CPF e indicação de conta bancária. Depois julgaram sem nada disto, numa sessão em que só compareceram familiares de militantes comunistas, pessoas que declaravam conhecer-me sem nunca me terem encontrado, acredito que “testemunhas plantadas”, algumas. Embora com os direitos políticos cassados na primeira lista de 1964, embora enquadrado em diversos itens da Lei de Anistia… O direito me foi negado.

Quanto ao futuro, o cumprimento puro e simples da Lei sem os vieses políticos depende do ambiente e das cores da mente dos juízes. Só Deus sabe. Quanto a mim fico lembrando uma citação que vem da velha Grécia: “A justiça é o interesse dos privilegiados”. E o interesse dos privilegiados do momento parece ser a inversão de valores e direitos humanos. O descumprimento das Leis vigentes está na moda.

PERGUNTA: Fale um pouco sobre a sua atividade profissional depois da luta armada. Que tipo de trabalho você desenvolveu? Qual era o perfil dos seus clientes?

ANSELMO: Liberado da prisão do DOPS de S. Paulo, fui trabalhar no interior, administrando uma pequena empresa de corte e transporte de madeiras, pertencente ao Delegado de Polícia do DOPS, Afonso Acra. Foi o meu primeiro emprego. Claro que não havia carteira de trabalho, mas o tratamento era respeitoso. Aprendi a me relacionar com os operadores de campo, transportadores de madeira e com o pessoal das fábricas de papel, ajustando preços, emissão de faturas, pagamentos.

Ao mesmo tempo, buscava outros horizontes, que me afastassem das “autoridades”. Sabia que os serviços de inteligência me vigiavam e vez por outra era “convidado” para um encontro com um agente. Soube que era uma rotina de “avaliação”. A partir de 1973, comecei a ajudar a pessoa que me acompanharia durante a vida. Passei a conhecer sobre administração predial. Como não era possível freqüentar uma escola formal, lia e fazia todo tipo de seminário sobre administração e “auto-ajuda”. Com novos relacionamentos, a empresa foi tomando forma e prestando serviços de consultoria na esteira de um dos cursos que freqüentei.

Depois de conhecer e freqüentar seminários de Programação Neuro Lingüística, comecei a montar e oferecer cursos de Liderança, Comunicação Empresarial e outros, que eram muito aceitos pelas empresas. Servi a pequenas, médias e grandes empresas, algumas multinacionais. Em fins da década de 80, minha sócia e dona da empresa de consultoria morreu. Fui convidado para um outro tipo de trabalho no oeste paulista. Mudei e, em dois anos, o projeto inadimplente me fez voltar à capital, sem eira nem beira.

Com ajuda de amigos, consegui trabalho como instrutor de Relações Públicas numa empresa de formação de vigilantes. Passei a contatar antigos clientes da consultoria e tive o contrato para cuidar de um assunto privado para o dono de uma empresa famosa. O resultado de trinta dias de busca de informações numa cidade do interior foi a absolvição de um empregado de confiança, envolvido num processo. Encontrei provas e duas declarações de testemunhas oculares que inocentavam o réu. Este trabalho me rendeu o suficiente para reatar os trabalhos de consultoria com um grupo de amigos. Desta vez, com a especialidade em treinamento de pessoal.

Foi o que fiz durante a maior parte da vida ativa. Até que fui convidado por um amigo para a entrevista a Percival de Souza, que resultou na edição do livro Eu, Cabo Anselmo, aparição no programa Fantástico, exibição da imagem que deveria ser “borrada”, exposição da voz através do site da revista Época… E impossibilidade de continuar com meu trabalho. Um amigo, já falecido, me emprestou um sítio. Fui ser artesão e apicultor. Com a apicultura investi tudo quanto tinha e algo mais. Perdi. Fui roubado. Recomecei no Piauí, ainda com apicultura. Outra porrada. Aos 68 anos, retornei a São Paulo. E desde então tenho recebido ajuda de alguns amigos para sobreviver. Algumas situações são constrangedoras. Outras francamente afirmativas. Tenho um computador que ganhei de presente e devo agradecimentos eternos a muitas pessoas, que me incentivaram e ajudaram. São pessoas conscientes das realidades históricas e do papel das FFAA durante os governos militares, francamente manipulado pelos intelectuais e acadêmicos que formam a tal “opinião pública”, todos os cérebros lavados na linha da “Propaganda” de Edward Bernays, sobrinho do Freud e do Instituto Tavistock gerado pelos serviços de inteligência inglesa e transferidos para os EEUU com financiamento da Fundação Rockefeller.

PERGUNTA: Você continua estudando? Quais os seus principais interesses de estudo hoje?

ANSELMO: Durante anos pude acompanhar religiosamente o True Outspeak, a palestra semanal do Prof. Olavo de Carvalho o que escancarou uma porta imensa, arrumando áreas mentais. Fui ampliando a leitura na medida do possível. A internet ajudou muito. Mais tarde um amigo (do Facebook) me contatou, visitou diversas vezes junto com a esposa e me forneceu uma considerável biblioteca em CDs. Ainda não li tudo: filosofia, política, história, religiões comparadas, antropologia cultural… Atualmente, uma das vertentes de estudo é a física quântica. Mas acompanho diversos blogs, como do E. Griffin, reunindo opiniões da Europa, dos Estados Unidos, Argentina, Chile… todas “politicamente incorretas”, na contramão do “aquecimento global”. Também escrevo. E tento entender as origens da tal “nova ordem mundial” na linha do tempo. Tenho um livro quase pronto sobre este assunto, começando por Darwin, Pavlov, Freud, Escola de Frankfurt, criação do Instituto Tavistock, ligações com os membros do secretismo da hierarquia de poder real, hoje segredo de polichinelo (em parte), passando pelo comércio de armas e drogas e mostrando como a PNL é um instrumento estratégico da engenharia social aplicada no mundo inteiro.

Também tenho escrito contos, crônicas, umas 500 páginas anotadas para uma novela e mais de 1500 artigos publicados em blogs sob pseudônimo. Atualmente, tenho publicado uma ou duas vezes por semana num blog próprio que um amigo disponibilizou para mim, no Wordpress. O endereço é www.controvertido.com.br.

PERGUNTA: Uma pergunta sobre a ditadura. A esquerda fala muito em tortura. Todos os heróis do panteão da esquerda dizem ter sido vítimas de torturas bárbaras e prolongadas. Conhecemos o célebre conselho atribuído a Mario Lago, para os comunistas que saíssem da prisão: “Diga que foi torturado.” Você conta no livro que foi torturado desde logo que foi preso pela segunda vez. Sem necessidade de citar nomes ou casos específicos, o que existe de verdade e de inverdade nas histórias de tortura durante o regime militar?

ANSELMO: Minha primeira prisão, em 1964, foi feita pelo DOPS do Rio de Janeiro. Não fui torturado e convivi com dezenas de presos políticos, todos circulando entre as celas abertas e onde havia um mínimo de higiene. Depois, fui transferido para o Presídio Fernandes Viana, onde estavam outros marinheiros, em estreita convivência com presos comuns. A justiça ainda funcionava. Os advogados conseguiram a nossa transferência para uma prisão somente para políticos, numa delegacia recém-inaugurada no Alto da Boa Vista. Ali, recebíamos visitas semanais de um grupo de moças universitárias, ligadas à Ação Popular (AP), já naqueles dias empenhadas em divulgar as idéias de Althusser, Teilhard de Chardin, Franz Fanon, Sartre e Marcuse. Alguém chegou com a proposta de uma entrevista com Marcio Moreira Alves, que escrevia um livro (A tortura e os torturados), talvez uma versão local do livro de Henri Alleg, La Question, publicado em 1958, denunciando as torturas praticadas pelos pára-quedistas franceses no ambiente da guerra da Argélia.

– Mas eu não fui torturado…

– Mesmo assim, fale de tortura psicológica…

No cenário de 1970, no DOPS de São Paulo, sim. Fui retirado de uma cela infecta na madrugada, fui levado para o primeiro interrogatório e torturado no pau de arara. O que perguntaram e o que respondi está borrado da memória. No segundo dia, na madrugada, nova sessão. A primeira não deve ter sido satisfatória para os policiais. No terceiro dia, fui levado à presença do Dr. Sergio Paranhos Fleury. Eu já estava convicto desde Cuba e isto foi escrito e firmado pelos integrantes do grupo de ex-marinheiros (éramos seis), em carta dirigida a Fidel Castro, que não concordávamos com a interferência dos cubanos na “luta contra a ditadura militar” no Brasil.

No meu caso, conscientemente, já estava afastado da selvageria das guerrilhas e queria mesmo era regressar ao Brasil, depois de vivenciar as maravilhas do comunismo em Praga e em Havana. Sobre as torturas, tínhamos notícias. Particularmente já sabia que naquele tipo de guerra ou mesmo em guerras declaradas, a tortura era prática corrente e presente na história mais remota. A brutalidade daquela prática marcou minha alma. E, sem dúvida, marcou todas as pessoas envolvidas, direta ou indiretamente atingidas. Marcou com um sentimento de horror, de medo. A morte nos entreveros armados, a prisão, a tortura, a coerção, o fuzilamento nos cenários de revoluções comunistas, as imposições restritivas não são condições normais de vida. Mas continuam sendo rotineiras. Neste sentido, o poder, em toda a história passada e recente, tem sido o carrasco e coveiro da beleza, das virtudes, da ética, do respeito humano, enfim da essência dos homens que buscam a paz, a paz construtiva e a convivência fraterna. Entre os companheiros daqueles dias de clandestinidade, quando havia referência à brutalidade dos fuzilamentos ou qualquer ato extremo ditado pelo catecismo revolucionário, a justificativa era imediata: “Guerra é guerra, companheiro!” Fatos e realidades vergonhosas. É um dever de honra e humanidade superá-las.

Todos os governos desta era coletivista submetem seus povos a mais escabrosa das torturas: o medo permanente, desemprego, crises econômicas, violência crescente, insegurança… Tudo isto conforma um aparato de tortura mental e estresse, causando doenças e até a morte. Quem os julgará?

PERGUNTA: Você viu ou presenciou torturas em Cuba? O que você pode falar sobre isso?

ANSELMO: Não vi, nem presenciei. Ouvi relatos de intelectuais e de cidadãos comuns com os quais convivi: exposição ao sol, sem acesso à água; celas sem ventilação e sem instalações sanitárias; simulação de fuzilamento. É o que lembro. Nunca tivemos acesso pessoal a prisões.

PERGUNTA: E sobre as alegações de tortura dos militantes comunistas, alguns beneficiados pela Comissão de Anistia? Qual a credibilidade desses relatos?

ANSELMO: Acredito que houve torturas porque eu mesmo fui vítima. No entanto, estou convencido que muito do que se descreve é exagerado. É a norma de conduta constante dos manuais de doutrinação. Os choques elétricos no “pau-de-arara”, o isolamento durante dias sem ter com quem falar em celas infectas, “telefone” (tapas com ambas as mãos nos dois ouvidos), "palmatória", porradas com cassetetes de borracha. E por fim é bom lembrar que Dan Mitrione, um agente da CIA assassinado pelos tupamaros no Uruguai, passou por aqui, treinou policiais sobre “técnicas de interrogatório”. Ouvi relato de um policial, vi foto publicada num jornal e tenho cópia de uma publicação da época sobre o seqüestro, interrogatório feito pelos tupamaros.

PERGUNTA: Como você vê o panorama político e cultural do Brasil hoje?

ANSELMO: Tudo quanto vivemos como nação republicana é conseqüência do processo de liderança patriarcal e autoritária. A propriedade sobre o território ficou sob o controle de famílias oligárquicas, descendentes de escravocratas. Não houve uma colonização, nem educação suficiente para assegurar as liberdades e direitos essenciais aos habitantes miscigenados entre portugueses, aborígenes e negros. Depois da Lei Áurea, a ignorância foi mantida, assegurando os votos para os oligarcas do “café com leite”, para os “coronéis” da era Vargas e todos se tornaram “donos” de partidos políticos, fazendo leis em benefício próprio e negligenciando um projeto de nação soberana e independente de fato, que cuidasse da defesa, do território, do controle sobre as riquezas e do bem-estar dos cidadãos, ou seja, do “bem comum”. A elite brasileira do Norte enviava os filhos para serem educados nos Estados Unidos e na Europa. As mentes assimiladas aplicavam entre nós os pesos e medidas de realidades e culturas diferentes, sem cuidar de construir uma cultura local e desenvolver uma elite organizada com identidade própria.

É bastante olhar para os núcleos de colonização implantados no sul e financiados pelos governos do Japão, Itália, Áustria e outros tantos, cujo trabalho desenvolveu São Paulo, o Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul, e como os bolsões de desenvolvimento no norte e nordeste hoje, em sua maioria, foram implantados por iniciativa dos descendentes daqueles imigrantes.

Que conseqüências, políticas e econômicas poderíamos esperar? O único intervalo de desenvolvimento e pleno emprego, vivemos no século passado quando os governantes militares aplicaram um projeto de desenvolvimento continuado, abrindo espaço para a ocupação territorial de áreas agrícolas. Interessava aos estrategistas da nova ordem mundial. Em grandes lances do tabuleiro de xadrez geopolítico, no ambiente da “guerra fria”, preparavam-se os lances seguintes da “guerra cultural”. Isto pode ser acompanhado desde a Trilateral e Diálogo Interamericano, nas políticas indicadas por McNamara, Brzezinski, Kissinger…

No plano cultural, cumprindo a agenda das elites controladoras da economia, a ONU encarregou-se de exigir o cumprimento de contratos, acordos firmados e sistematicamente aplicados para implantar a revolução cultural: behaviorismo, gramscismo, fomento de grupos fechados (cada um no seu quadrado): étnico, religioso, comportamental, classista… Mas todos arrolados em defesa do multiculturalismo e abandono da identidade cultural nacional. Ainda mais na atualidade, com as comunicações eletrônicas na palma da mão e a intensa propaganda, como utilização de outras técnicas avançadas de controle mental e lavagem cerebral.

PERGUNTA: E no mundo, como você vê as disputas políticas e culturais dissimuladas? Quais são as principais forças que você vê disputando poder e influência hoje? São muito diferentes das forças de quarenta ou cinqüenta anos atrás?

ANSELMO: Entendo que são as mesmas forças de sempre, disputando o controle mundial em escala de interesses cada dia mais complexos. 

Olavo de Carvalho situa o embate entre três vertentes: a nova ordem mundial integrada pelos potentados de grandes empresas (hoje com filiais na China, na Rússia, no Vietnã e pelo mundo afora) e rede bancária – estes identificados como Grupo Bilderberg, Clube de Roma (que tem como afiliado o sr. Fernando Henrique Cardoso), as realezas européias, grandes jornais controlados pelo Council of Foreign Relations e outros clubes semi-secretos.

O comunismo da China e da Rússia que apóia, privilegia e defende a nova versão do “comunismo light” dos fabianos, da Escola de Frankfurt, do Lukács que Gramsci popularizou, da Teologia da Libertação gerada no Kremlin e adotada pelo Vaticano, o mesmo comunismo que Kissinger defendeu em seu relatório secreto de 1948 como apropriado para ser implantado nas nações latino-americanas, a par com a revolução verde. Daí para a Tricontinental e para o Diálogo Interamericano (com participação de FHC e Lula, Victor Civita e alguns outros brasileiros postados na ONU), de onde saíram as diretrizes para a criação do Foro de São Paulo e do Pacto de Princeton entre FHC e Lula.

Finalmente, os muçulmanos, que invadem a Europa e são recebidos pelos liberais-sociais democratas-socialistas light de braços abertos, abrindo espaço e até coagindo os cidadãos a aceitar os que “fogem dos cenários de guerra” iniciada e mantida – com lucros para os fabricantes de armas e traficantes de drogas – pelas democracias ocidentais para defender-se contra o “terrorismo”. Para confusão dos cristãos perseguidos e degolados pelos radicais do Islã, o Vaticano também os acolhe.

O interesse comum é manter as pessoas em choque, em estresse, sem condição de reagir, o que facilita a implantação definitiva das soluções de controle totalitário. Terceira guerra mundial? Como, se não houve tratado de paz encerrando a Segunda? A guerra está aí e nos atinge em cheio, nas ruas das nossas cidades, nas universidades, nas igrejas, nas associações de profissionais liberais, em cada casa atingida pela propaganda e lavagem cerebral através da onipotente televisão. 

PERGUNTA: O que podemos fazer para defender nossa liberdade diante dessas ameaças?

ANSELMO: Vamos utilizar uma metáfora: os agricultores de uma grande família, falando o mesmo idioma, decidiram compartilhar conhecimentos sobre os tratos da terra, escolha de sementes, épocas de plantio das diversas variedades, observação da natureza. E cada grupo, de modo consciente e dedicado, trabalhou com afinco, obtendo as melhores e mais saudáveis colheitas. Chegou o Estado e tomou coercitivamente mais de 45% da produção…

A defesa está em reconhecer a liberdade, a vida e a capacidade de trabalho, a boa vontade e o respeito humano, como valores maiores, sem os quais somos todos objetos úteis e envolvidos na concepção puramente materialista da vida. O caminho é a religação com as origens. Se fomos feitos “à imagem e semelhança do Criador”, temos seu DNA, temos uma força espiritual adormecida. Temos de recuperá-la e, só então, um novo paradigma emergirá, uma consciência na ação, abrindo espaço para mentes saudáveis e lideranças voltadas para o bem comum.

PERGUNTA:
Se as pessoas quiserem conhecer mais sobre sua história e suas opiniões ou quiserem contribuir com você, o que elas podem fazer, além de comprar seu livro?

ANSELMO:
O livro Minha Verdade pode ser adquirido através do site da Editora Matrix, e nas livrarias Cultura, da Vila, Saraiva, da Travessa e Amazon. No mais, podem acessar o meu blog (www.controvertido.com.br) e comentar, perguntar, opinar. Respondo a todos na medida limitada do que vivi, apreendi e continuo buscando. Concebo isto como objetivo na vida que me resta. E quem quiser e puder, em atenção a este trabalho, pode deixar sua contribuição para manter o blog. Lembrando Guimarães Rosa, “viver é muito perigoso” e cada dia as contas são mais caras. O blog vale como ferramenta interativa, ponto de encontro, como se fosse a mesa de bar onde os amigos se reúnem para trocar experiências, evoluir e comemorar.

Também aceito (com reservas) convites para palestras.

PERGUNTA: Que mensagem você quer passar aos leitores do blog?

ANSELMO: Ainda existem professores, políticos, intelectuais, empresários conscientes e capazes de orientar os jovens para uma saída deste labirinto de horrores. Ainda existem pais conscientes e começam a surgir movimentos como a “Escola sem Partido” e muitos outros por aqui e pelo mundo. Atentem os meninos de hoje e busquem o saber, acima de tudo busquem o contato com a própria força da essência humana, o espírito sábio e melhor conselheiro.