sábado, 6 de julho de 2013

Crepúsculo Sertanejo, de Castro Alves

A tarde morria! Nas águas barrentas
As sombras das margens deitavam-se longas;
Na esguia atalaia das árvores secas
Ouvia-se um triste chorar de arapongas.
A tarde morria! Dos ramos, das lascas,
Das pedras, do líquen, das heras, dos cardos,
As trevas rasteiras com o ventre por terra
Saíam, quais negros, cruéis leopardos.
A tarde morria! Mas funda nas águas
Lavava-se a galha do escuro ingazeiro…
Ao fresco arrepio dos ventos cortantes
Em músico estalo rangia o coqueiro.
Sussurro profundo! Marulho gigante!
Talvez um — silêncio!… Talvez uma — orquestra…
Da folha, do cálix, das asas, do inseto…
Do átomo — à estrela… do verme — à floresta!…
As garças metiam o bico vermelho
Por baixo das asas, — da brisa ao açoite —;
E a terra na vaga de azul do infinito
Cobria a cabeça co’as penas da noite!
Somente por vezes, dos jungles das bordas
Dos golfos enormes, daquela paragem,
Erguia a cabeça surpreso, inquieto,
Coberto de limos — um touro selvagem.
Então as marrecas, em torno boiando,
O voo encurvavam medrosas, à toa…
E o tímido bando pedindo outras praias
Passava gritando por sobre a canoa!…

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