segunda-feira, 6 de julho de 2015

Ebenezer Fox, veterano da Revolução Americana


Esta resenha é sobre um livro realmente antigo. Tomei conhecimento dele porque é citado por Rose Wilder Lane em The Discovery of Freedom. The Adventures of Ebenezer Fox in the Revolutionary War foi escrito em 1838, quando seu autor tinha 75 anos. Seus netos sempre perguntavam sobre as histórias que ele viveu no tempo da guerra de independência dos Estados Unidos. Ebenezer Fox resolveu colocá-las no papel para poder passar mais facilmente a eles essas experiências. Não imaginou que tomariam a forma de um livro.

Não é um texto muito longo. São 240 páginas de uma leitura agradabilíssima. Encontrei de graça na Play Store. Existe em outros lugares para download e foi publicado recentemente em papel, em edições fac-similares (ISBN 978-1-230-43194-9 e 978-1-4076-8914-2).

Quando Ebenezer tinha sete anos, seu pai decidiu que já era tempo para ele se sustentar sozinho e arranjou-lhe um emprego na casa de um fazendeiro. O menino ficou trabalhando lá por cinco anos. Achando que estava sendo explorado, resolveu deixar a cidade, em Massachussets, e procurar trabalho em um navio. Juntou o que pôde para essa aventura, alguns alimentos e cinqüenta centavos de dólar e fugiu junto com um amigo, na noite de 18 de abril de 1775. Poucas horas depois de sua fuga, muito perto de onde ele morava, foi lutada a Batalha de Lexington, que deu início à Revolução Americana.

Conseguiu emprego em um navio mercante e viajou até Santo Domingo, onde o capitão comprou uma carga de café. Voltando para Boston, já bem próximos da costa, foram abordados por um navio inglês. O capitão se entregou e Ebenezer e seus companheiros marinheiros pularam e nadaram até a praia. Por algum tempo, voltou para a casa de seus pais.

Um combate naval
Foi para a guerra mais duas vezes, como voluntário. Seu patrão, que era barbeiro, foi convocado para lutar e Ebenezer se ofereceu para substituí-lo. Alistou-se em um navio e participou de alguns combates, muito bem descritos no livro. Foi capturado e ficou talvez dois anos prisioneiro dos ingleses. Parte desse tempo, ficou no navio-prisão Jersey, em condições muito duras. Cerca de oito mil rebeldes americanos morreram nessa masmorra flutuante na vizinhança de Nova York, que acabou afundada ao final da guerra.

Foi levado para a Jamaica. De lá, no episódio mais interessante da narrativa, fugiu de barco para Cuba, junto com outros quatro companheiros, três americanos e um irlandês.

Salta à vista, ao longo do livro, a grande pobreza em que viviam os americanos na época da Independência. Foram mesmo esses colonos subdesenvolvidos e caipiras que lutaram contra o maior império militar e naval de sua época e venceram? Também vemos a crueldade do colonizador e a indignação e a revolta que essa opressão criou. É difícil de acreditar na situação desumana em que eram mantidos os prisioneiros do Jersey.

O infame navio-prisão Jersey
Também achei surpreendente a qualidade do texto e da linguagem de Ebenezer Fox, que parece não ter tido grande educação formal. O arquivo da Play Store foi digitalizado a partir de uma edição de 1847. Ao contrário do que acontece com a maioria dos livros recém-lançados que compro, não achei um erro de ortografia ou de gramática. Há belas ilustrações por todo o volume.

Ebenezer aproveita que está escrevendo para pedir a seus ex-companheiros de infortúnios que o procurem, caso ainda estejam vivos. Ele nunca mais soube nada do garoto que o acompanhou na fuga aos 12 anos, ou dos companheiros da viagem da Jamaica para Cuba. Mas recebeu a visita, depois da publicação da primeira edição do livro, de um tenente do navio em que lutou. Também teve notícias do capitão desse navio, a quem muito admirava.

Estou pensando em traduzir o livro para o português. Vai entrar na fila. Essas histórias hoje são totalmente desconhecidas. Estamos acostumados a sempre pensar nos Estados Unidos como o país mais rico e poderoso do mundo. Ninguém sabe o quanto já foram pobres e quanto trabalho deu enriquecer.

Aquele veterano de guerra possuía uma profunda consciência da importância da liberdade e da responsabilidade que a liberdade traz. Se você é livre, só você é responsável por si mesmo, ninguém mais. Essa é a principal mensagem de Ebenezer Fox.

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