“O Pixuleko, doravante, não vai contar com a Polícia Militar de São Paulo, porque ela não está comparecendo.”
- Celene Carvalho
Conversei com Celene Carvalho, representante do Movimento Brasil em São Paulo, sobre a grande sensação da manifestação de 16 de agosto em Brasília e dos memes na Internet, o Pixuleko. O boneco inflável de 15 metros de altura é uma criação do Movimento Brasil, de Maceió. Vejam como foi esse bate-papo.
Reaçonaria: Celene, você pode nos dar alguma informação sobre o grupo que criou o Pixuleko?
Celene Carvalho: O Movimento Brasil surgiu em Maceió, uns quatro meses antes das eleições. Começou com o Fora Dilma, distribuindo adesivos e fazendo campanha. Eu comecei seis meses antes das eleições e eles começaram um pouco depois. Represento o Movimento Brasil aqui em São Paulo, mas nunca foquei muito em São Paulo, o foco sempre foi fazer o movimento crescer no Norte e Nordeste. Também temos uma participação forte em Brasília.
Reaçonaria: Qual o contato de vocês com os movimentos maiores, o MBL, o Revoltados On Line, o Vem Pra Rua?
Celene: Desde o início, a gente trabalha junto nessas manifestações, tentando mobilizar mais gente, principalmente com o Vem Pra Rua. Tem pessoas do nosso movimento que foram para o Vem Pra Rua, então tem essa interação. O nosso foco principal é unir os grupos. O mal se dá tão bem porque se une com grande facilidade. Para o bem, isso é um desafio. Sempre foi nossa política: pé no chão, sem ego nenhum, tentar ao máximo agregar e juntar.
Reaçonaria: Como surgiu a idéia do Pixuleko?
Celene: Participávamos da aliança dos movimentos e as discussões sempre foram sobre o que fazer para derrubar um pouco esse mito obsceno e falso que tem o ex-presidente. A gente se sente muito sem voz. Nós não temos nenhum órgão público, tirando a Operação Lava Jato e a Polícia Federal, que nos represente. Até recentemente, a gente tinha um respeito grande pelo Ministério Público Federal, mas o Janot fez o que fez agora essa semana. Então, você conta nos dedos essa turma. E é uma lástima. Não temos TSE, não temos TCU, não temos Ministério Público.
Reaçonaria: Não temos STF, não temos Congresso.
Celene: E com isso, estamos sozinhos. A oposição somos nós. Surgiu a idéia de fazer um balão. A coisa foi caminhando, caminhando e de repente deu um estalo. Aí surgiu o Pixuleko. Fizeram várias reuniões lá discutindo isso. Nos assustou muito o preço dele, porque todo mundo trabalha e a vida não está fácil para ninguém. Quando se falou em R$ 12.000,00, a turma apavorou. Mas foi jogada a idéia lá no grupo e “vamos fazer, vamos fazer”, cada um foi dando um pouquinho. Graças a Deus, chegamos ao valor.
Reaçonaria: Mais ou menos quantas pessoas contribuíram?
Celene: Umas trinta pessoas, a maior parte de Maceió.
Reaçonaria: Como foi a logística em Brasília e em São Paulo? É muito difícil levar e montar o Pixuleko?
Celene: O Pixuleko vai continuar com essa aura de mistério por questões de segurança. Houve um rasgo em Brasília, ele foi para outro lugar para ser consertado e de lá veio para São Paulo. Levamos para a Ponte Estaiada, porque a nossa intenção era de que ele saísse no jornal.
Reaçonaria: Mas vocês conseguiram um negócio melhor ainda! A Globo se desmoralizou.
Celene: Lógico! Isso que aconteceu da cortina foi milagroso e virou uma coisa fantástica.
Celene: Nós vimos, deu para ver sim.
E é assim, ele é um monstro. É muito grande. A própria Globo nos viu lá na ponte. Eles certamente já devem estar escaldados. E aquele objeto enorme, às 5 da manhã, cheio de carros em fila indiana com o pisca-alerta ligado e sem apoio nenhum da Polícia Militar. Mandamos ofício, a Polícia me ligou confirmando a presença e não compareceu. Fiquei extremamente triste, porque você quer fazer um negócio dentro da lei, com apoio, porque você está mexendo com gente perigosa. E não tivemos esse apoio.
Essa logística, para nós, era novidade: como colocar o Pixuleko de pé. Espalharam muitas notícias falsas de que interrompemos o trânsito, de que fomos multados. Não houve nada disso. Naquele horário, não havia um fluxo grande. Depois, o que houve é que todo mundo via o Pixuleko e queria fotografar. Então, diminuía a velocidade ou parava no acostamento para descer e filmar e fotografar. As motos também. Aí começou o buchicho lá embaixo, na Marginal. Buzinaço e o pessoal também fotografando e filmando. Isso tudo foi para a gente uma estréia muito legal. Tudo isso faz parte daquela conversa de que a gente não sente apoio de lado nenhum.
Ali mesmo, diante do fechamento das cortinas da Globo, nós resolvemos divulgar o próximo ato, no Viaduto do Chá. Mais uma vez, havíamos mandado ofício à Polícia Militar. Foi um risco muito grande que a gente correu por não ter a presença da PM. E a Guarda Civil estava ali 100% a serviço do Haddad e não a serviço da população. O que nos entristece é que a reação contra nós não é espontânea. É uma reação encomendada. Tem dia e hora marcados e o foco é nos afrontar, machucar o Pixuleko e agredir mesmo.
Mas a ação também foi maravilhosa. Se ele não tivesse levado essas facadas, não estaria tão famoso e tão comentado.
Reaçonaria: Fale um pouco sobre como foi no Viaduto do Chá. Vocês chegaram e a Guarda Civil estava esperando vocês para impedir?
Celene: Ela já fica ali de guarda mesmo. Eles sempre querem que a gente mostre uma autorização. Mas é claro que a Prefeitura nunca vai dar essa autorização. Tínhamos o ofício da Polícia.
Reaçonaria: Os petistas já estavam lá desde o início?
Celene: Não, não. Não estavam. Chegaram depois. Mas é lógico que a reação dos funcionários da Prefeitura foi intimidadora. Vieram com o objetivo de nos tirar dali. Acabamos conseguindo colocar em um lugar um pouco mais afastado da Prefeitura. Aí, acho que incomodou extremamente e eles começaram outra vez a pressionar para tirar. O Pixuleko não pode ficar muito tempo em um lugar. Ele foi retirado e levou as facadas depois que foi desinflado.
Reaçonaria: Depois da facada vocês foram junto com a agressora para a delegacia para fazer o Boletim de Ocorrência?
Celene: Na delegacia, não queriam fazer o Boletim de Ocorrência porque queriam apreender o Pixuleko. Para fazer o BO, a exigência do delegado era que o boneco fosse entregue. Isso é um absurdo, ele é obrigado a fazer o BO. No final, o delegado fez o Boletim sob a condição de que o Pixuleko fosse levado na segunda-feira ao local em que se faz exame de corpo de delito. De um boneco! Mas os danos foram fotografados e filmados e ele foi consertado para o domingo.
Sobre a agressora, ela foi vista fazendo isso. Acho que tem até um trecho de filmagem.
Reaçonaria: E como foi ontem, na Paulista?
Celene: Ontem estava agendado também. Eu estava muito preocupada com o fato de a Polícia não ter comparecido no Viaduto do Chá e aí resolvemos contratar seis seguranças. Uma pessoa caridosamente pagou os seguranças. Depois de muito tempo mandaram quatro policiais e quase no final chegaram mais quatro. O Pixuleko, doravante, não vai contar com a Polícia Militar de São Paulo, porque ela não está comparecendo.
Ele estava programado para ficar na Paulista das 10h às 14h. A gente tem o tempo do gerador e esse é um tempo mais do que razoável. Houve um atraso da chegada do gerador e ele foi inflado por volta de 10h40. Essa turma certamente contratada com o propósito de fazer o que fizeram chegou por volta de 13h30. Não quero, de forma alguma, vincular o Pixuleko à bagunça. Não é essa a finalidade dele. Mas não queremos decepcionar as pessoas que estavam sabendo que ele iria para lá. Tomamos algumas precauções que deu para tomar e o resto é reza e contar um com o outro.
Reaçonaria: O Ministro da Justiça passou na frente de vocês?
Celene: Ele passou do outro lado da rua. O que nós estamos querendo com o Pixuleko é unir os movimentos. Todo mundo que quis ir foi e é super bem-vindo. E o Pixuleko não é do Movimento Brasil. O Pixuleko é nosso, é de todo mundo.
Reaçonaria: Vocês têm planos de licenciar miniaturas do boneco? Se alguém quiser fazer camiseta, adesivo, pode?
Celene: Ele já virou hoje domínio público. Liberamos para todo mundo. Não existe intenção do Movimento Brasil de comercializar. É lógico que ajudaria muito para a gente ter verba para viajar com ele e para as manifestações. Mas foi decidido que não faríamos isso e ele fica mesmo no domínio público.
Mas, complementando o que eu estava dizendo, nós não temos controle sobre os outros movimentos. Se alguém sair correndo atrás do Ministro, o Pixuleko não tem nada com isso. Ele não pode andar, nem abre a boca.
Reaçonaria: O Ministro não foi lá tirar um selfie também?
Celene: Pois é, deveria.
Reaçonaria: Vocês se sentiram intimidados pela nota do Instituto Lula?
Celene: Tão intimidados que eu nem li. Se você quiser me atualizar e me falar o que é…
Reaçonaria: Eu também não li.
Celene: Marcelo, o Pixuleko representa essa angústia e essa tristeza dos brasileiros de ver todo o seu sangue e suor em impostos indo para o ralo, com toda essa corrupção. Nós não temos preocupação nenhuma com o que a mídia divulga porque já vimos muitas vezes que ela não está do lado do Brasil. Está do lado de quem paga mais. Essa é uma opinião própria minha. Evito ficar fuçando essas coisas, porque acho que eles nunca querem o que é real. Eles inventam lá, viajam na maionese deles e vão embora escrevendo o que querem.
Mas o Brasil vai muito mal. É muito preocupante a situação do país. Não é brincadeira. Nós conseguimos criar uma coisa que é uma sátira, que é descontraída e alegre, porque a nossa situação é para chorar todo dia. E o Pixuleko vem para dar uma sacudida e tentar unir as forças e levar isso na esportiva.
Reaçonaria: O trabalho de vocês é fantástico. Sou um grande fã de tudo o que vocês fizeram, de tudo o que vocês conseguiram.
Celene: É uma turma muito humilde, pé-no-chão. Ninguém aqui tem pretensões de nada. Eu acho que deveria haver candidatos a partir dos movimentos, pessoas qualificadas.
Mas não é esse o nosso interesse. Nosso interesse é unir forças com os outros grupos para podermos exigir uma reforma política que nos atenda, que atenda à população brasileira e aos interesses do Brasil. E exigir que o próximo presidente, seja quem for, tenha um acordão conosco, com a população. Por isso, estamos nessa ansiedade de juntar os movimentos para podermos desenhar o Brasil lá na frente. Como é que nós queremos a saúde, a educação, a segurança. Existem cabeças boas para fazer isso.
A gente tem de focar nessas três coisas básicas, que são direitos de todo cidadão brasileiro. O rico deve poder usar o SUS da mesma forma que o pobre e todos devem ter um atendimento de alta qualidade. Não é uma utopia, nós temos dinheiro para isso. Está provado que temos. Mas não dá para continuarem desviando esse volume de dinheiro que se desvia. Enquanto isso, não temos nada. Estamos matando toda uma geração futura porque não temos saúde nem educação de qualidade. E não tem a segurança. Ou a criança passa mal e morre porque não tem um hospital de qualidade, ou ela não tem uma educação que permita que se torne um cidadão dono da sua própria vida e da sua própria sobrevivência. Não tem preparo para isso. Ou morre por causa das drogas, do abandono, da bala perdida. O país é rico demais para estar no século XXI num rumo de marcha a ré. Isso nos tira o sono.
Esse é o motivo de o Movimento Brasil estar junto. Temos o interesse constante de ir ao Congresso, de cutucar o senadores e os deputados, de conversar, de exigir e de contribuir para tornar realidade esse plano de futuro. Que a gente ainda possa ter orgulho do país.