Depois de passar quatro dias com dor nas costas sem melhorar, fui a um médico. Ele constatou que o problema era muscular e receitou um anti-inflamatório e um relaxante muscular. Disse que iria fazer duas cópias da receita porque uma ficaria retida.
Saí do hospital e passei na farmácia de um supermercado Extra. Comprei o relaxante muscular, mas fiquei sabendo que eles não vendiam remédios controlados.
Fui trabalhar e, no final do dia, passei na farmácia de um supermercado Sonda. Mesma resposta, nada de remédios controlados.
Tentei uma farmácia perto de casa. Não, eles também não têm o remédio. Pediram autorização à Anvisa para comercializarem remédios controlados, a autorização foi dada, mas faltava publicar no Diário Oficial, ou sei lá qual burocracia.
Procurei a quarta farmácia. Ufa, vendia remédios controlados. O farmacêutico não gostou da receita. Disse que o médico não podia ter incluído na mesma receita um remédio controlado e um não controlado.
– Mas a receita está aqui, o sr. pode ficar com ela.
– Está errado, mas vou aceitar...
Disse ao farmacêutico que achava um sintoma grave de fascismo algumas farmácias não quererem vender um anti-inflamatório, outras quererem e encontrarem grandes dificuldades e eu, com dor nas costas, com uma receita médica, querendo tomar um remédio de maneira correta, ter que apresentar um documento de identidade e informar meu telefone para comprar um anti-inflamatório, um simples anti-inflamatório.
Ele disse que o governo só quer me proteger, que esse remédio faz mal, que o governo não quer gastar dinheiro depois para me tratar dos efeitos adversos de eu tomar um remédio indevido. Ele também está com dor nas costas e sabe que deveria tomar esse anti-inflamatório, mas não pôde ir ao médico ainda e não pode tomar sem receita. Ele vê diariamente os maiores absurdos que seus clientes fazem com remédios.
Não gosto de ser tratado como moleque, ou como incapaz. O remédio não é indevido. Quem paga pela minha saúde somos eu e meu plano de saúde, não o governo. Quero tomar o remédio corretamente e estou tendo dificuldades. Ele quer tomar o remédio corretamente e está tendo dificuldades. Não acho que a Anvisa tenha o direito de dificultar a minha vida ou a dele. Nem acho que a Anvisa tenha o direito de impedir alguém que não precisaria de um remédio de se entupir desse remédio. As pessoas têm até o direito de se suicidar, independentemente do que pense a Anvisa.
Ele desistiu de discutir, me entregou o remédio, me deu boa noite.
O fascismo avança em detalhes pequenos, ou não tão pequenos.
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