Fui membro da Anistia Internacional entre 1998 e 2001. Devido a uma série de questões que não vêm ao caso agora, assumi a coordenação da Rede de Ação Urgente, em meados de 2000. Distribuía textos em inglês para um grupo de tradutores voluntários, revisava as traduções e enviava as Ações Urgentes para os membros da Anistia no Brasil. Esses membros escreviam apelos para autoridades e embaixadas estrangeiras, pedindo a proteção dos direitos humanos de pessoas presas injustamente, ameaçadas por paramilitares, condenadas à morte ou vítimas de outros abusos.
Era um trabalho muito agradável e recompensador, do qual me orgulho. Organizamos um boletim mensal para informar os membros sobre os desdobramentos de nossas ações. Com muita frequência, a pessoa presa injustamente era libertada. Em alguns casos, a sentença de morte era comutada. Nem todas as notícias eram boas, às vezes o condenado era executado, a pessoa ameaçada era atacada. Fosse qual fosse o resultado, sentia que estávamos fazendo algo importante, participando de um esforço para provocar uma mudança positiva no mundo.
Lembro de um caso, no Equador se não me engano. Houve uma tentativa de golpe de estado, algumas pessoas foram presas, e a Anistia lançou uma Ação Urgente pedindo que a situação dessas pessoas fosse esclarecida, e que elas fossem libertadas se não tivessem cometido nenhum crime. Em seguida, houve uma reviravolta e o general que havia tentado o golpe foi preso. A Anistia lançou outra Ação, pedindo que o general não fosse submetido a tortura ou maus tratos.
Fiz muitos amigos nessa época, mas infelizmente perdi o contato com quase todos. Cuidei desse trabalho por apenas sete meses e acabei me desligando da Anistia Internacional. Logo depois, a Seção Brasileira foi fechada. Até onde sei, ainda está fechada.
Há pouco tempo, com o Facebook, procurei pessoas que conheci naquela época e fiz contato com algumas. Havia um funcionário da Anistia em Londres com quem tive bastante contato em 2000 e a quem eu admirava especialmente. Enviei-lhe uma solicitação de amizade e ele me aceitou. Imediatamente, comecei a estranhar as coisas que ele escreve. Encontrei muitos elogios a Che Guevara (que foi um grande violador de direitos humanos) e a Salvador Allende (cuja tese de doutorado é uma defesa abjeta da eugenia). Há dias, ele publicou um post comentando a visita de Noam Chomsky à Faixa de Gaza, quando Chomsky exigiu que Israel levantasse o bloqueio contra Gaza. Escrevi um comentário assim: "Espero que ele tenha se lembrado de pedir ao Hamas que pare de lançar mísseis sobre a cabeça de pacíficos cidadãos israelenses."
Ele cancelou a amizade no Facebook. Não me surpreendo muito com isso, mas esperaria talvez que ele quisesse argumentar. O que me espanta mais é essa defesa seletiva dos direitos humanos.
Continuo em campanha pelo fim da pena de morte em todos os lugares e em todas as circunstâncias. Continuo contra qualquer tipo de tortura ou castigo cruel, desumana ou degradante. Continuo defendendo a libertação de todos os prisioneiros de consciência do mundo, presos por expressarem suas opiniões, sem terem usado ou defendido o uso de violência. Porém, não posso concordar quando a Anistia considera membros do MST perseguidos políticos. Nem posso concordar que ela faça campanha pela libertação de Omar Khadr.
Acho que a Anistia Internacional tem um papel no mundo. Acho interessante que ela foque a defesa de alguns itens da Declaração Universal dos Direitos Humanos e concordo que isso pode ser eficiente. Mas não concordo com várias de suas posições e vejo que alguns de seus membros não defendem exatamente direitos humanos universais. Para essas pessoas, seus inimigos ideológicos não têm os mesmos direitos de seus aliados.
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