sábado, 25 de janeiro de 2014

Década Perdida, um saudável exercício de masoquismo

Década Perdida - Dez anos de PT no poder, de Marco Antonio Villa, faz uma recapitulação dos principais acontecimentos políticos no Brasil entre 2003 e 2012. Ler esse livro foi realmente um exercício de masoquismo.

De alguns fatos, tenho uma lembrança muito vívida. De outros, já havia esquecido e o livro me fez relembrar. Em praticamente todos, uma certa alegria por reviver cada sofrimento.

Em primeiro lugar, a decepção. Não votei em Lula em 2002, mas acreditava que ele pudesse fazer um bom governo. Começaram as bobagens do Fome Zero, mas eu pensava que qualquer governo pode fazer um pouco de jogo de cena, por bons propósitos. O PT tenta algumas reformas, a oposição vota a favor e a base aliada vota contra. OK, era assim no governo Erundina em São Paulo.

O divisor de águas, para mim, foi o caso do INCA, o Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro, no segundo semestre de 2003. O órgão foi loteado politicamente e o atendimento praticamente entrou em colapso. A partir daí, passei a me considerar em oposição ao governo.

E vamos lembrando, por exemplo, da vergonha alheia sentida quando Lula visitou a Namíbia e disse que a capital do país nem parecia uma cidade africana, era bonita e limpa. Vem o escândalo de Waldomiro Diniz, uma prévia do que seria o Mensalão. A tentativa de Lula de expulsar do país o repórter americano que escreveu que o presidente abusava da bebida. A tentativa de amordaçar a imprensa, com o famigerado Conselho Federal de Jornalismo.

Chegamos a 2005 com o Mensalão ocupando toda a atenção do país. Revejo José Genoino chorando no Roda Viva, ao dizer que os empréstimos ao PT eram legítimos. Lembro de que eu ia encontrar minha esposa para uma consulta pré-natal quando ouvi a notícia de que José Dirceu tinha deixado de ser ministro. O depoimento de Duda Mendonça, quando pareceu que o governo e o PT iam acabar. E a imensa, imperdoável, incompreensível pusilanimidade da oposição, que resolveu deixar para lá e esperar a eleição de 2006.

José Serra tinha nessa ocasião muito mais votos que Lula. Mas o esporte predileto da oposição sempre foi se autodestruir. Alckmin é o candidato. Acontece o escândalo dos aloprados. A oposição não sabe o que fazer e Alckmin aparece com aquela roupa ridícula, cheia de logotipos de estatais. Lula é reeleito.

Revivemos os escândalos de Renan Calheiros e José Sarney, Marta Suplicy, Ministra do Turismo, dizendo "Relaxa e goza" para os turistas que enfrentam dificuldades no Brasil. O caos aéreo de 2007 e o trágico acidente da TAM, em 17 de julho. Um amigo meu não pegou aquele voo porque se atrasou. Um funcionário da empresa em que trabalho esteve no prédio da TAM pouco antes de o avião colidir com ele. Um dos atos mais covardes e odiosos foi a repatriação forçada dos boxeadores cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que tentaram desertar da delegação dos Jogos Panamericanos.

Temos então o surgimento de Dilma Roussef como candidata, o poste de Lula, a "mãe do PAC", seja lá o que isso signifique. E mais escândalos envolvendo Erenice Guerra. Mais brigas internas da oposição. Dilma, que mal sabe falar, é eleita com alguma facilidade. Temos aquele período em que caía um ministro por mês, quase todos por corrupção. E a imprensa e a oposição poupando o governo de si mesmo, evitando criticar os problemas com medo da popularidade da soberana.

Em 2012, temos pelo menos uma boa notícia, mesmo que incompleta, o julgamento do Mensalão.

Na conclusão, Marco Antonio Villa escreve:
"Não será tarefa fácil retirar o PT do poder. Foi criado um sólido bloco de sustentação que — enquanto a economia permitir — satisfaz o topo e a base da pirâmide. Na base, com os programas assistenciais que petrificam a miséria, mas garantem apoio político e algum tipo de satisfação econômica aos que vivem na pobreza absoluta. No topo, atendendo ao grande capital, com uma política de cofres abertos, em que tudo pode, bastando ser amigo do rei."

Lembrar cada um desses fatos é necessário. Precisamos trabalhar para que, em 2023, Marco Antonio Villa não tenha de escrever "Outra Década Perdida".

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