Achei curiosas estas duas citações que encontrei em O Caminho de Guermantes, de Marcel Proust.
"As pessoas da sociedade ficavam estupefatas com aquilo [a duquesa de Guermantes ter abdicado da temporada de jantares do ano para visitar os fiordes da Noruega] e, sem se preocuparem em imitar a duquesa, sentiam no entanto, com o seu ato, a espécie de alívio que se tem em Kant quando, após a mais rigorosa demonstração do determinismo, descobre-se que acima do mundo da necessidade existe o da liberdade."
Sem dúvida, bem poucas pessoas passaram pela experiência desse alívio.
"Dentre os elementos que, ausentes dos outros dois ou três salões mais ou menos equivalentes que estavam à frente do faubourg Saint-Germain, diferenciavam destes o salão da duquesa de Guermantes, como Leibnitz admite que cada mônada, refletindo todo o universo, acrescenta-lhe algo particular, um dos menos simpáticos era habitualmente fornecido por uma ou duas mulheres muito belas que ali só se achavam por sua beleza, pelo uso que dela fizera o Sr. de Guermantes, e cuja presença revelava logo, como em outros salões, certos quadros inesperados, que, neste, o marido era um ardente apreciador das graças femininas. Todas se pareciam um pouco, pois o duque possuía o gosto das mulheres altas, a um tempo desenvoltas e majestosas, de um gênero intermediário entre a Vênus de Milo e a Vitória da Samotrácia, freqüentemente louras, raramente morenas, às vezes ruivas[...]"
Acho que a intenção de Proust não é explicar melhor as situações narradas, comparando-as com o pensamento de Kant e Leibnitz e com as estátuas gregas, mas, pelo contrário, chamar atenção para a filosofia e a escultura, usando como metáforas as situações que cria.
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