quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Quem é racista?

O caminho para o progresso nas relações raciais não são os líderes das minorias




Por Thomas Sowell
9 de julho de 2013

Publicado originalmente aqui: http://m.nationalreview.com/article/352892/who-racist-thomas-sowell





Sou tão velho que me lembro de quando a maioria das pessoas que promovia o ódio racial era branca.

Aparentemente, outros americanos também reconhecem que as fontes de racismo hoje são diferentes das que havia no passado. De acordo com uma recente pesquisa Rasmussen, 31 por cento dos negros acham que a maioria dos negros é racista, enquanto 24 por cento deles acreditam que a maioria dos brancos é racista.

A diferença entre essas porcentagens não é grande, mas mesmo assim é extraordinária. Afinal de contas, gerações de negros lutaram contra o racismo branco, que os oprimiu por tanto tempo. Se muitos negros hoje pensam que a maioria dos outros negros é racista, isso é chocante.

Os argumentos morais de diversas gerações de líderes negros — argumentos que acabaram tocando a consciência da nação e mudando a opinião pública no sentido de direitos civis para todos — foram rebaixados pela geração atual de “líderes” negros, que agem como se tudo fosse apenas uma questão de quais interesses são contrariados.

Mesmo em casos legais envolvendo crimes terríveis — o julgamento de O. J. Simpson por assassinato ou as acusações de estupro coletivo contra alunos da Duke University — muitos “líderes” negros e seus seguidores não esperaram saber quem era culpado e quem não era, mas tomaram posição imediatamente baseando-se em quem era negro e quem era branco.

Entre os brancos, de acordo com a mesma pesquisa Rasmussen, 38 por cento consideram que a maioria dos negros é racista e 10 por cento que a maioria dos brancos é racista.

Dividindo por opinião política, a mesma pesquisa mostrou que 49 por cento dos republicanos consideram a maioria dos negros racista, assim como 36 por cento dos independentes e 29 por cento dos democratas.

Talvez, o dado mais perturbador seja que apenas 29 por cento dos americanos como um todo pensem que as relações raciais estão melhorando, enquanto 32 por cento acham que estão piorando. A diferença é pequena demais, é um empate técnico. Mas o fato de haver esse empate é, em si, doloroso — e talvez seja um alerta que indique para onde estamos seguindo.

Foi para isso que tantos americanos, negros e brancos, lutaram por décadas e por gerações? Para tentar deixar para trás a maldição do racismo — e alcançar apenas um ponto em que o retrocesso nas relações raciais parece agora pelo menos tão provável quanto o progresso?

O que deu errado? Talvez não exista um fator único responsável por todas as coisas que deram errado. Movimentos insurgentes de todos os tipos, em países do mundo inteiro, ao longo dos séculos, desandaram depois de seu próprio sucesso. “A revolução traída” é um tema que vem pelo menos desde a França do século 18.

O movimento de direitos civis na América do século 20 atraiu muitas pessoas que arriscaram tudo para lutar contra a opressão racial. Mas o sucesso alcançado pelo movimento atraiu oportunistas e até transformou alguns idealistas em oportunistas.

Ao longo das gerações, os líderes negros variaram desde almas nobres a charlatães sem vergonha. Depois do sucesso da insurgência pelos direitos civis, os últimos se tornaram respeitados, ganhando dinheiro, poder e fama por promoverem atitudes e ações raciais que são contraproducentes aos interesses de seus liderados.

Nada disso é exclusivo dos negros ou dos Estados Unidos. Em diversos países e épocas, líderes de grupos desfavorecidos em termos econômicos e educacionais ensinaram seus seguidores a pôr a culpa de todos os seus problemas em outras pessoas — e a odiar essas pessoas.

Essa é a história dos movimentos antissemitas na Europa Oriental entre as duas guerras mundiais, dos movimentos contra a etnia ibo na Nigéria dos anos 60 e dos movimentos contra os tâmeis que fizeram com que o Sri Lanka, que era uma nação pacífica, se transformasse em cenário de violência letal de multidões e, em seguida, de guerra civil de décadas, ambas marcadas por atrocidades indescritíveis.

Os grupos que conseguiram ir da pobreza à prosperidade raramente o fizeram seguindo líderes raciais ou étnicos. Enquanto a maioria dos americanos consegue facilmente citar o nome de vários líderes negros, atuais ou passados, quantos podem dizer o nome de algum líder étnico asiático-americano ou judeu?

Já passou muito da hora de parar de buscar progresso por meio de líderes raciais ou étnicos. Esses líderes tem incentivos demais para promover atitudes e ações que polarizam a sociedade e são contraproducentes para as minorias e desastrosas para o país.

- Thomas Sowell é professor titular na Hoover Institution. © 2013 Creators Syndicate, Inc.

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