Entrada de Auschwitz I, com a inscrição Arbeit macht frei (O trabalho liberta) |
Há 70 anos, o Exército Vermelho chegava ao campo de extermínio de Auschwitz. Os nazistas já haviam fugido. Encontraram cerca de 7500 prisioneiros vivos e 600 corpos deixados para trás. Não é possível saber quantas pessoas morreram lá, mas as estimativas mais modestas passam de um milhão e meio.
As principais vítimas do Holocausto foram os judeus, com 80 a 90% das mortes. Mas também foram massacrados eslavos não-judeus (especialmente poloneses), ciganos, prisioneiros de guerra soviéticos, deficientes físicos e mentais, doentes mentais, homossexuais, maçons, testemunhas de Jeová e combatentes republicanos da Guerra Civil Espanhola. É um evento único na história da Humanidade. Um governo decidiu que determinado grupo de pessoas devia ser completamente aniquilado, incluindo velhos, mulheres, crianças e bebês. Qualquer pessoa que tivesse três ou quatro avós judeus teria de ser exterminada, sem exceções.
Proporção de judeus assassinados nas diferentes regiões da Europa |
Em maior ou menor proporção, o genocídio foi perpetrado em toda a área subjugada pela Alemanha, que hoje pertence a 35 países diferentes. Uma exceção notável é a Dinamarca. É o único caso entre os países da Europa, ocupados, parceiros do Eixo ou neutros, em que os nazistas encontraram uma resistência pacífica determinada e ativa contra sua política de extermínio. Segundo Hannah Arendt, em seu excelente livro Eichmann em Jerusalém, quando os alemães tentaram propor que os judeus da Dinamarca usassem a infame estrela amarela, os dinamarqueses responderam que o Rei seria o primeiro a usá-la e que todos os cidadãos também a usariam. Os funcionários públicos disseram que qualquer medida contra os judeus causaria a imediata renúncia de todos eles. Quando os alemães exigiram que os judeus de origem alemã, declarados apátridas, fossem entregues a eles, os dinamarqueses responderam que, ao declará-los apátridas, a Alemanha tinha renunciado a qualquer jurisdição sobre eles. Muito poucos judeus na Dinamarca foram mortos. Os dinamarqueses provaram que é possível resistir contra a opressão.
A estrela amarela |
Não podemos nos esquecer das inúmeras pessoas que arriscaram a vida para salvar pessoas ameaçadas. A lista é imensa, vou mencionar só quatro. A enfermeira polonesa Irena Sendler tirou cerca de 2.500 crianças do Gueto de Varsóvia. O britânico Nicholas Winton organizou o resgate de 669 crianças da Tchecoeslováquia ocupada. Luis Martins de Souza Dantas, embaixador do Brasil na França, concedeu vistos irregulares a centenas de pessoas perseguidas para que entrassem no Brasil. Foi punido pelo Governo Vargas por isso. Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa era chefe da Seção de Passaportes do Consulado brasileiro em Hamburgo. Seu futuro marido, o escritor João Guimarães Rosa, era o Cônsul. Em 1938, o governo Vargas emitiu a circular secreta 1127, que restringia a entrada de judeus no país. Aracy ignorou a circular e emitia vistos sem identificar quem era judeu. João Guimarães Rosa apoiou e incentivou esse trabalho. Todos os heróis que participaram desse esforço merecem meu mais profundo respeito e admiração.
Elsa Cayat |
Hoje, os judeus continuam sendo perseguidos. Elsa Cayat, única mulher vítima do ataque contra o Charlie Hebdo, foi alvejada porque era judia. Muitos judeus estão deixando a Europa, por medo do terrorismo islâmico. Diversas universidades no Reino Unido e nos Estados Unidos têm feito boicotes contra Israel. Neste vídeo, alunos da Universidade de Berkeley, na Califórnia, aceitam tranqüilamente que se agite uma bandeira do Estado Islâmico no campus e reagem com insultos contra uma bandeira de Israel.
Neste 27 de janeiro, uma grande celebração acontece em Auschwitz, para lembrar desse capítulo torpe da nossa história. Contará com as notáveis ausências de Barack Obama e de Vladimir Putin.
O Holocausto toca a cada um de nós. Cada vítima dessa tragédia nos diminui. É nossa responsabilidade defender a liberdade e os direitos individuais. Não nos esqueçamos disso.