O livro trata das ideias de diversos pensadores ocidentais sobre a atividade comercial e financeira, o livre mercado, o capitalismo e, quando pertinente, os judeus.
Os pensadores analisados são: Voltaire, Adam Smith, Justus Möser, Edmund Burke, Hegel, Marx, Matthew Arnold, Max Weber, Georg Simmel, Werner Sombart, Georg Lukács, Hans Freyer, Schumpeter, Keynes, Herbert Marcuse e Hayek.
Os principais livros analisados são: “Cartas Filosóficas”, de Voltaire, “A Riqueza das Nações”, de Smith, vários de Burke, especialmente “Reflexões sobre a Revolução na França”, “A Filosofia do Direito”, de Hegel, o “Manifesto Comunista” e “O Capital”, de Marx, “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, de Weber, “A Filosofia do Dinheiro”, de Simmel, “História e Consciência de Classe”, de Lukács, “Capitalismo, Socialismo e Democracia”, de Schumpeter, “Eros e Civilização”, de Marcuse, e “A Constituição da Liberdade” e “O Caminho da Servidão”, de Hayek.
Dá muita vontade de ler os de Voltaire, Adam Smith, Simmel, Schumpeter e Hayek.
No primeiro capítulo, Muller explica que a tradição cristã e a tradição civil republicana condenam o egoísmo, a ganância, e a usura e, portanto, veem com desconfiança o comércio, o lucro, a atividade financeira e a prosperidade material.
No segundo, ele nos conta que Voltaire via com simpatia o mercado e as atividades financeiras. Porém, ele tinha considerava os judeus desonestos e, ele próprio, esteve envolvido em mais de uma ocasião em negócios suspeitos ou escusos.
Sobre Voltaire, Adam Smith disse que estava entre os homens de “esplêndido talento e virtudes”, que “se destacam, com frequência, pelo mais impróprio e até insolente desprezo por todo o decoro comum da vida e da conversação. Eles, portanto, estabelecem o exemplo mais pernicioso para aqueles que desejam imitá-los, e que normalmente se contentam em copiar suas besteiras, sem nunca tentar alcançar suas perfeições”.
No terceiro capítulo, sobre Adam Smith, o que chama a atenção é que Smith acreditava na necessidade de um Estado forte para proteger o livre mercado. “Porque Smith argumentou de maneira tão persuasiva contra o envolvimento direto do governo na economia, a importância crucial do estado em seu pensamento é normalmente negligenciada. [...] Para Smith, o estado era a instituição mais importante da qual a sociedade comercial dependia; a autoridade e segurança do governo civil, ele escreveu, é uma condição necessária para o florescimento da liberdade, razão e felicidade da humanidade.”
O quarto capítulo, sobre Justus Möser, me intrigou bastante. Möser é completamente conservador, defensor do governo local e descentralizado, e das tradições de sua província, de seu país e de sua cultura, e é completamente anticapitalista. Ele vê o livre mercado como uma grave ameaça a essa cultura. Ele é de direita? É de esquerda?
É interessante que ele é completamente conservador, não é fascista absolutamente. Eu posso concordar com parte significativa de seu pensamento político. E discordo completamente de seu pensamento econômico.
Depois de Möser, vem um longo e agradável capítulo sobre Edmund Burke. Burke é o principal expoente do pensamento conservador. Mas, enquanto Möser queria conservar uma sociedade pré-capitalista, a sociedade que Burke quer conservar é altamente comercial. Há um longo relato da disputa entre Burke e a Companhia Britânica das Índias Orientais e uma longa análise da principal obra dele, “Reflexões sobre a Revolução na França”.
O livro foi publicado em novembro de 1790, ainda no início do processo revolucionário. Previu que o que estava em curso resultaria em instabilidade continuada e ameaça de anarquia, que seria controlada apenas com o uso massivo da força e, finalmente, com um governo militar. Ele escreveu tudo isso muito antes da execução de Luís XVI, do Terror, do massacre de milhares de civis em Vendée e da ascensão de Napoleão.
Encontro, então, um surpreendente capítulo sobre Hegel. Ele afirma que a Dialética não é o mais importante na obra de Hegel. Na verdade, seria algo que Hegel escreveu jovem, e que não reflete seu pensamento mais maduro. Diz também que Hegel dava tanta importância ao Estado porque, na situação social e política em que ele viveu, o Estado era uma força progressista, que tentou modernizar um país atrasado e feudal, tendo como oposição as pequenas autoridades locais. E o ponto mais importante é que, para Hegel, o mercado era a característica mais importante do mundo moderno, um mundo que ele defendia e tentou explicar a seus contemporâneos.
Sobre Marx, há a informação de que seus pais abandonaram o judaísmo antes dele nascer. Marx foi batizado na Igreja Luterana e, segundo Muller, não saberia dizer qual o lado de cima de uma página do Talmude. Sua filosofia se baseia em algumas falácias, especialmente a Teoria do valor-trabalho. Marx simplesmente não levou em consideração as grandes melhorias no padrão de vida dos operários na Inglaterra ou na Alemanha, ocorridas durante o período em que ele viveu. E escreveu ataques violentos aos judeus, que foram usados depois por antissemitas.
Há um filósofo muito interessante, que eu não conhecia, chamado Georg Simmel. Ele publicou “A Filosofia do Dinheiro” em 1900. Nessa obra, ele explica como o desenvolvimento da economia de mercado criou novas possibilidades para a individualidade. Chama a atenção para os efeitos psicológicos de se viver numa economia em que mais e mais áreas da vida podem ser medidas em dinheiro. Essa economia criaria um estado de espírito mais abstrato, porque os meios de troca se tornariam cada vez mais abstratos. As pessoas ficariam mais habituadas a pensar sobre o mundo de maneira mais abstrata. Também ficariam mais acostumadas a calcular e pesar os diversos fatores para tomar uma decisão. Simmel é muito mais moderno que Sombart, Lukács e Freyer, que vieram depois dele.
O capítulo sobre Schumpeter também é muito agradável. Seus livros adotam um tom irônico, afirmando que o socialismo é inevitável, que as decisões que os políticos estavam tomando na época levariam a desastres, mas o fato de Schumpeter alertar para os desastres não impediria que eles acontecessem.
Achei fraco o capítulo sobre Keynes. Gostaria de ter entendido suas motivações e raciocínios, como senti que entendi os outros pensadores analisados, mas Keynes continua nebuloso para mim. E o último capítulo, sobre Hayek, vem como um alívio depois de ler sobre as baboseiras de Marcuse. No final, o autor questiona alguns posicionamentos de Hayek e, principalmente, seu radicalismo.
Recomendo muito o livro, para quem tenha paciência de ler sobre esse assunto tão árido.
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