segunda-feira, 16 de março de 2015

Uma elite moral de todas as cores

Também vou fazer meu relato da manifestação de 15 de março, esse dia do qual não vamos nos esquecer.

Vesti a camiseta que minha esposa estampou para a manifestação e fui de metrô para a Paulista. A quantidade de gente vestida com as cores da bandeira brasileira era impressionante. Acabei chegando meio tarde à avenida, junto com alguns amigos, quando a multidão já tinha ocupado quase todo o espaço.

Meu celular logo ficou sem sinal e eu consegui procurar nenhum dos muitos amigos que estariam na manifestação. Fotografo muito mal, tirei poucas fotos, não consegui registrar várias coisas interessantes que vi. Foi pena não ter registrado um catador de latinhas todo adesivado de “Fora Dilma”.

Avançávamos cada vez mais devagar na direção do Masp. Fomos perdendo algumas pessoas do grupo, sem conseguir encontrá-las novamente. Cantamos o Hino Nacional, gritamos: “Eu vim de graça!” e “Ei, Dilma, vai…” Um grito de guerra sensacional era: “O povo paulista jamais será petista!”

A elite branca e eu
Paramos numa rua lateral ao lado do Masp. Não dava para continuar. Um amigo meu encontrou amigos dele, que são bombeiros. Estavam com a família. Víamos muitas famílias, crianças de todas as idades, bebês em carrinhos, idosos. Um grupo de maçons, um casal muçulmano, alguns travestis, cadeirantes, indivíduos dos tipos mais diversos, todos gritando “Fora PT”. As lanchonetes e as lojas estavam abertas, funcionando normalmente. Chovia, mas não muito forte. Ninguém ligava para a chuva.

De repente, vi um pessoal gritando “Eu vim de graça!” e “Fora PT” para alguém que estava no meio da multidão. Era Lucas Salles, do CQC. Não assisto TV, não sabia quem era. Ele ofereceu a quem quisesse a oportunidade de dizer o que quisesse no microfone. E as pessoas conversaram com ele. Também pedi para falar e ele me entrevistou. Perguntou porque eu estava lá, o que eu pretendia, como funcionava um impeachment. Parece que ele precisa estudar mais o assunto. Mas não passou no programa.

A Maçonaria encontra a Reaçonaria
Ainda era cedo, mas a quantidade de pessoas diminuiu um pouco e consegui chegar até a frente do Masp. Lá, encontrei o pessoal da Reaçonaria em peso. Ouvi alguns discursos do Movimento Brasil Livre. Assinei o pedido de abertura do processo de impeachment. Pulamos dizendo "Quem não pula é comunista", satirizando os palhaços do PC do B que impediram Yoani Sánchez de falar em São Paulo em 2013.

O MBL anunciou que Dilma provavelmente faria um pronunciamento às 18h30. Ficamos na expectativa, mas não aconteceu nada. Os celulares funcionavam muito mal, quando funcionavam. A rede não é feita para essa concentração de pessoas.

Como nos jogos do Japão na Copa do Mundo, passaram algumas pessoas recolhendo o lixo da rua. Ajudamos.

Já estava anoitecendo e as pessoas iam se dispersando. Saímos da Paulista por uma rua lateral. Estavam parados vários carros de polícia e caminhões do Batalhão de Choque. Por sugestão do Flávio Morgenstern, passamos por eles aplaudindo.

Um sanduíche de mortadela opressor
Fomos comer alguma coisa. Não perdi a oportunidade de pedir um sanduíche de mortadela especial, em homenagem ao MST. Meu sanduíche foi pago meu dinheiro. Os do MST também. Na TV da padaria, os dois patetas que a presidente escalou para aparecer no lugar dela falavam groselhas. Não fomos à rua pedir aumento de pena para os corruptos, nem reforma política. Ouvimos barulho de panelas.

Era tarde para mim e fui embora. A Paulista estava absolutamente normal. Nada indicava que mais de um milhão de pessoas havia acabado de sair dali. 

Vamos nos encontrar de novo na quarta, no lançamento do livro do Rodrigo Constantino, Contra a Maré Vermelha, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. E, se o governo não cair antes, dia 12 de abril tem mais.

Muitas pessoas ficaram com receio de ir às manifestações. É compreensível, não sabíamos o que o outro lado da força poderia preparar. Agora sabemos, fiquem tranqüilos. Quem está com medo são eles e é assim que deve ser. Em manifestações de gente honesta e trabalhadora, não há espaço para black blocs. A próxima tem de ser maior que esta.

Quero expressar meu imenso orgulho de ter participado desse evento único na história do Brasil ao lado de tanta gente decente. São de fato uma elite. Uma elite moral de todas as cores.

Fora PT! Fora Foro de São Paulo!

Art. 85, inciso V

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