Thomas Paine planejava escrever sobre a Revolução Francesa. Queria produzir uma obra que fosse, para os franceses, como Senso Comum foi para os americanos. Esse livro nunca foi escrito. Mas Reflexões sobre a Revolução na França lhe deu a oportunidade e o entusiasmo de expressar suas ideias revolucionárias para o povo inglês.
Embora Direitos do Homem se apresente como uma resposta a Reflexões (seu subtítulo é Resposta ao Ataque do Sr. Burke à Revolução Francesa), Paine não se deu ao trabalho de ler atentamente o livro de Edmund Burke. Em diversas passagens, Paine cita Reflexões erroneamente, demonstrando que não entendeu o argumento de seu adversário. Como muitos revolucionários, ele acreditava que quem não concordasse com suas ideias era evidentemente mau e perverso e seus argumentos não mereceriam maior atenção. Ajudou a espalhar o boato de que Burke havia sido comprado pelo governo inglês, escrevendo em troca de uma pensão.
A Revolução Francesa, para Paine, era algo muito simples. Um governo baseado nos princípios errados foi substituído por outro baseado nos princípios corretos. A Assembleia Nacional encarnava a razão e o iluminismo. Quem se opusesse a ela era um inimigo da razão.
Imaginando os homens vivendo antes do surgimento da sociedade, Paine começa chamando de "direitos" as faculdades inerentes ao ser humano, seu poder de ação. Em seguida, ele diz que a sociedade amplia os direitos do homem. Na verdade, se vivendo isolado um homem teria direitos ilimitados, ao fazer parte de uma sociedade, seus direitos são limitados pelos direitos dos outros. O poder da sociedade é maior que a soma do poder dos indivíduos isolados e isso dá aos membros da sociedade vantagens e benefícios. O raciocínio simplificador e abstrato de Paine é o exemplo perfeito do que Burke criticava.
Os objetivos de Direitos do Homem são basicamente: 1) afirmar que nenhum governo é legítimo se não tiver como base o consentimento dos cidadãos; e 2) limitar a competência do governo em se imiscuir em questões de opinião e consciência dos indivíduos. Ele tem razão nessas afirmações.
Paine também afirma que o Estado deve garantir determinados benefícios aos cidadãos. Seu ponto de vista é uma antecipação do Estado de Bem-Estar Social.
Ele ataca a Monarquia, a nobreza, a ligação entre Igreja e Estado, a origem da dinastia inglesa. Em todos esses pontos, ele está correto.
Em resumo, a intenção de Paine não é exatamente responder a Edmund Burke. O que ele queria realmente era ser reconhecido como um autor revolucionário. Ele não compreende a argumentação de Reflexões. Portanto, não a refuta. Simplesmente, trata seu adversário como um renegado. Isso não impede que, em muitos pontos, Paine defenda a ideia correta com argumentos simplistas e Burke a errada com argumentos profundamente elaborados, meditados e fundamentados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário