VII
Para cada um de nós, a resposta a essa pergunta é pessoal. Mas a resposta final não pode ser pessoal, já que a liberdade individual de escolha e de ação não pode existir por muito tempo, a não ser em meio a uma multidão de indivíduos que a escolheram e que estão dispostos a pagar por ela.
Multidões
de seres humanos não o farão, a menos que sua liberdade valha mais
do que custa, não apenas em valor para sua alma, mas também em
termos de bem-estar geral e de futuro de seu país, o que significa
bem-estar e futuro de seus filhos.
O
teste do valor da liberdade pessoal, portanto, só pode ser o
resultado prático dessa liberdade num país cujas instituições e
modo de vida e de pensamento se desenvolveram a partir do
individualismo. Só existe um país assim: os Estados Unidos da
América.
Aqui,
num continente novo, povos sem tradição comum fundaram esta
república, baseada nos direitos do indivíduo. Este país foi o
único no mundo ocidental com esta característica: foi colonizado
por europeus do noroeste e sua cultura é predominantemente a deles.
Para eles, a ideia de liberdade individual surgiu na história do
mundo como um princípio político.
Se
você pensar bem, é um fato estranho. Por que este território se
tornou americano? Como aconteceu de aqueles colonos britânicos
libertados da Inglaterra se espalharem por metade deste continente?
Os
espanhóis estavam no Missouri antes que os ingleses chegassem à
Virgínia ou a Massachusetts. Colônias francesas já eram antigas em
Illinois. Minas francesas no Missouri forneciam balas para todo o
mundo ocidental. Havia entrepostos comerciais franceses no Arkansas,
meio século antes de os fazendeiros atirarem nos soldados britânicos
em Lexington.
Por
que os americanos, ao avançarem para o oeste, não encontraram um
país povoado, uma colônia vigorosa para protestar na França contra
a venda da Louisiana?
Este
é um fato importante: os americanos eram os únicos colonos que
construíam suas casas distantes umas das outras, cada um em sua
terra. A América é o único país que já vi em que fazendeiros não
vivem hoje em dia em aldeias agrupadas, seguras e fechadas. É o
único país que conheço onde cada pessoa não sente uma
solidariedade permanente, essencial a certa classe e a certo grupo
dentro dessa classe. Os primeiros americanos vieram desses grupos na
Europa, mas vieram porque eram indivíduos que se rebelavam contra os
grupos. Cada um construiu sua casa do seu jeito, longe dos outros, no
meio do mato da América. Isso é individualismo.
A
diversidade natural dos seres humanos e a tendência natural do homem
de avançar para o futuro como um explorador que descobre seu caminho
foram libertadas naquelas colônias inglesas na costa atlântica.
Homens das ilhas britânicas se precipitavam tão avidamente para a
liberdade que o Parlamento e o Rei decidiram não abrir mais terra
nenhuma para colonização; as estatísticas da época provam
claramente que uma expansão das colônias americanas para o oeste
teria despovoado a Inglaterra.
De
qualquer maneira, antes que o chá fosse jogado ao mar no porto de
Boston, os colonos sem lei haviam penetrado os picos e vales dos
Apalaches e exploravam as terras proibidas além deles.
Ninguém
planejou que esses jovens Estados Unidos algum dia cobririam metade
do continente. O pensamento de Nova York e Washington estava muito
aquém desse surto. Foram as energias liberadas dos indivíduos que
se despejaram na direção oeste numa velocidade nunca imaginada,
varrendo do mapa e subjugando assentamentos de povos mais coesos e
alcançando o Pacífico no tempo em que Jefferson achou que levaria
para colonizar Ohio.
Não
tenho ilusões sobre os pioneiros. Meu próprio povo, por oito
gerações, foi de pioneiros americanos. Quando criança, se eu
recordasse com orgulho demais uma ancestralidade mais velha que
Plymouth, minha mãe me lembraria de um tio-bisavô preso por roubar
uma vaca.
Os
pioneiros não eram, de maneira nenhuma, os melhores da Europa. Em
geral, eram desordeiros das classes mais baixas. A Europa ficou feliz
em se livrar deles. Não trouxeram grande inteligência ou cultura.
Seu maior desejo era fazer o que bem entendessem e não eram
idealistas. Quando não podiam pagar suas dívidas, fugiam de um dia
para outro. Quando suas maneiras, hábitos pessoais ou opiniões
normalmente ignorantes e expressas em voz alta ofendiam os
bem-nascidos, comentavam: “É um país livre, né?” Uma frase que
usavam bastante era “livre e independente”. Também diziam: “Vou
experimentar cada coisa uma vez” e “Claro, vou arriscar a
sorte!”.
Eram
especuladores desenfreados; jogavam com terra, peles, madeira, canais
e assentamentos. Vendiam cidades inteiras que ainda não existiam e
que, na maioria das vezes, nunca se materializavam. Eram camponeses
ignorantes, exploradores, professores e advogados autodidatas,
políticos fanfarrões, impressores, lenhadores, ladrões de cavalos
e de gado.
Cada
um estava lá para conseguir o que pudesse para si mesmo e que o
diabo levasse quem vinha atrás. Em qualquer situação de
adversidade, era cada um por si; havia piedade humana e bondade, mas
nem sinal de espírito de comunidade. O pioneiro tinha um senso para
os cavalos, um senso para as cartas e um senso de dinheiro, mas nem
uma partícula de senso social. Os pioneiros eram individualistas. E
aguentaram o tranco.
Esse
era o material humano da América. Não é o que se escolheria para
fazer uma nação ou um caráter nacional admirável. E os americanos
de hoje são o povo mais descuidado e sem lei que existe. Também
somos o povo mais imaginativo, mais temperamental e mais
infinitamente variado. Somos o povo mais bondoso da terra; bons uns
com os outros todos os dias e reagimos com solidariedade a qualquer
rumor de desgraça. É só na América que os carros param para
emprestar um macaco a um estranho. Só os americanos fizeram milhões
de pequenos sacrifícios pessoais para despejar prosperidade em todo
o mundo, aliviando o sofrimento em lugares tão distantes como a
Armênia e o Japão.
Em
toda parte, em lojas, ruas, fábricas, elevadores, estradas e
fazendas, os americanos são o povo mais amigável e cortês. Existe
mais riso e mais música na América que em qualquer outro lugar. São
alguns dos valores humanos que nasceram do individualismo enquanto o
individualismo criava esta nação.
http://www.libertarianismo.org/index.php/biblioteca/234-rose-wilder-lane/1074-quero-liberdade
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