Se procurarmos na Internet por textos de Rose Wilder Lane, vamos saber que ela escreveu, em 1936, um artigo chamado Credo para a revista The Saturday Evening Post. É uma defesa entusiasmada da liberdade individual contra todas as formas de opressão. Esse artigo foi revisado e ampliado por ela em 1944 e publicado em forma de livro, com o título Give Me Liberty. Podemos encontrar algumas cópias do texto, em formatos diferentes, com os dois títulos. Porém, o texto sempre é o de 1944.
Intrigado com isso, entrei em contato com a revista. The Saturday Evening Post foi fundada em 1728, por Benjamin Franklin, e continua existindo. Responderam que o artigo foi publicado na edição de 7 de maio de 1936, mas não dariam mais informações. Procurei essa edição em sebos e achei um que tinha, no Alabama. Enviaram um exemplar em perfeito estado de conservação; uma revista grande, de 112 páginas pouco menores que uma folha A3, cheia de anúncios de carros (Chevrolet, Buick, Pontiac), refrigeradores, rádios (Philco) e outros produtos (Listerine, Aspirina). E com o texto original de Credo, cuja tradução apresento, com notas indicando as diferenças para a versão de 1944. Em português, chamei Credo de Profissão de Fé, e Give Me Liberty de Quero Liberdade.
O texto não mudou muito. Existem pequenas melhorias estilísticas; algumas ambiguidades foram eliminadas e algumas ideias foram expressas de maneira mais completa. O texto foi enriquecido com uma comparação entre os agricultores da Rússia transcaucasiana, onde Rose visitou uma aldeia comunista, e os colonos de Illinois, uma bela declaração baseada na introdução da Declaração de Independência dos Estados Unidos e provocações a Marx. Algumas narrativas são mais detalhadas, especialmente a da caça aos trustes por William Jennings Bryan.
Há diversas histórias novas em Quero Liberdade que eram apenas sugeridas, ou nem isso, em Profissão de Fé. Por exemplo, aquela em que o carro de Rose quebra na Itália, ou a burocracia na compra de um novelo de lã em Paris, por causa de um decreto de Napoleão. A mais marcante é a da batida policial que Rose acompanhou na Hungria.
Um ponto importante é que, em Profissão de Fé, Rose afirma que a liberdade individual é uma ideia que nunca ocorreu a nenhuma civilização antes do surgimento dos Estados Unidos. Em Quero Liberdade, ela reconhece que a ideia existia como princípio religioso dos judeus, cristãos e muçulmanos. Mas ressalta que nunca havia sido um princípio político.
Mais relevante é uma pequena troca de palavras. Em Profissão de Fé, ela se refere algumas vezes à democracia. Em Quero Liberdade, ela sempre diz liberdade individual. Nesse intervalo de oito anos, Rose percebeu que a democracia, sendo o governo da maioria, poderia não ser garantia suficiente para as minorias e que a menor minoria que existe é o indivíduo.
Existem dois trechos de Profissão de Fé que foram suprimidos em Quero Liberdade. São aqueles em que Rose elogiava alguns serviços públicos dos Estados Unidos, especialmente escolas públicas.
O último capítulo de Profissão de Fé, O Hiato que se Fecha, foi bastante ampliado. Ficamos sabendo muito mais sobre a vida da comunidade rural dos Montes Ozark, próxima à fazenda onde Rose morou por longo tempo.
E o último capítulo de Quero Liberdade é completamente novo, conclamando os americanos a deixarem de lado o conformismo e o pessimismo e passarem para a ação, para defenderem sua liberdade ameaçada.
Defendamos a nossa!
Profissão de Fé
Publicado originalmente em http://reaconaria.org/colunas/marcelocentenaro/profissao-de-fe-rose-wilder-lane/.
Profissão de Fé
Publicado originalmente em http://reaconaria.org/colunas/marcelocentenaro/profissao-de-fe-rose-wilder-lane/.
Caro Marcelo, colega feiano, foi bom te conhecer e tomar conhecimento das duas obras que você traduziu com qualidade. Gostei deste teu post que explica o processo que você seguiu... parabéns pelo trabalho e pela contribuição para com o liberalismo. Abs
ResponderExcluirCaro Marcelo, aprecie o meu Blog em que vc pode encontrar o seguinte post: https://gibacanto.wordpress.com/2020/04/04/pequeno-tratado-de-subversao-da-ordem/
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