sábado, 31 de maio de 2014

Nosso Sistema Educacional Niponizado

O Deus da Máquina, capítulo XXI
Nosso Sistema Educacional Niponizado
Isabel Paterson, 1943

A era humanitária se gaba, desde o século passado1, ou antes, de que realizou uma mudança fundamental nos métodos e objetivos da educação. O sistema preferido é chamado de educação progressista. Qualquer tentativa de definição desse sistema pode ser contestada, porque seus defensores nunca estabeleceram uma definição exata; mas vamos procurar descrevê-lo nos termos mais generosos, abertos a correções. Digamos que a educação progressista busca tornar o ensino escolar uma experiência agradável; proíbe punições concretas; busca ao mesmo tempo estimular a autoexpressão das crianças mais novas e a consciência social dos alunos mais velhos; e alega ensinar as crianças a pensar utilizando projetos experimentais e apresentando tópicos atuais controvertidos para discussão geral, sem princípios dogmáticos.

Ao contrário, a educação à moda antiga supunha que não existe um caminho fácil para o aprendizado. Dava autoridade suficiente ao professor para qualquer castigo disciplinar necessário. Apresentava fatos concretos e princípios concretos. Desencorajava a autoexpressão imatura, procurava fortalecer o caráter pelo autocontrole contra o impulso social; e associava a responsabilidade pessoal a cada grau de emancipação da regra de obediência para as crianças. Ensinava-as a pensar pelo uso da lógica formal sobre exemplos impessoais; enquanto questões contemporâneas eram mantidas fora da sala de aula o máximo possível.

Qual é, na realidade, o tipo de educação mais moderno?

Há quarenta anos2, Lafcadio Hearn3 descreveu os princípios e métodos educacionais do Japão, comparados aos do mundo ocidental. Tradicionalmente, segundo Hearn, a educação ocidental começava na primeira infância “com a parte repressiva do treinamento moral. […] É importante inculcar os deveres do comportamento, o ‘devo’ e o ‘não devo’ da obrigação individual, tão cedo quanto possível. Depois, mais liberdade será permitida. A criança bem educada é levada a entender que seu futuro dependerá de seu esforço pessoal e de sua capacidade; e, portanto, em grande medida, deixa-se que ela cuide de si mesma, sendo ocasionalmente advertida ou avisada, conforme pareça necessário. […] Ao longo de todo o caminho do treinamento mental e moral, a competição é não apenas esperada como exigida. […] O objetivo é cultivar a habilidade individual e o caráter pessoal — criar um ser independente e vigoroso.”

A educação japonesa sempre foi conduzida no plano reverso. Seu propósito nunca foi treinar o indivíduo para a ação independente, mas treiná-lo para a ação cooperativa. […] A restrição entre nós começa com a infância e gradualmente é relaxada; a restrição no treinamento do Extremo Oriente começa mais tarde e, daí em diante, é gradualmente aumentada; e não é uma restrição imposta diretamente pelos pais e professores. […] Não apenas na idade da vida escolar, mas consideravelmente além dela, uma criança japonesa desfruta de um grau de liberdade muito maior do que é permitido às crianças ocidentais. […] É permitido à criança fazer o que quiser. […] Ela é protegida, mas não restringida; advertida, mas raramente forçada.” Se uma punição se torna absolutamente necessária, “pelo antigo costume, a casa inteira, incluindo os empregados, intercede em favor do transgressor; os irmãos e irmãs pequenos implorando para serem punidos no lugar dele. Na escola, começa a disciplina […] mas não há punição além de uma repreensão pública. Qualquer restrição que exista é exercida sobre a criança principalmente pela opinião comum de sua classe; e um professor habilidoso é capaz de controlar essa opinião. […] O poder reinante é sempre o sentimento da classe. […] Nas escolas médias, a opinião da classe adquire uma força para a qual o próprio professor tem de se curvar; é capaz de expulsá-lo se ele tentar se sobrepor a ela. […] É sempre o poder do coletivo sobre o indivíduo; e esse poder é formidável.”4

O objetivo final vem do ideal social japonês. Por mais de mil anos, pelo menos, o mais puro altruísmo é ensinado aos japoneses, no culto comunal. “A simples idéia de que alguém tenha o direito de fazer o que quiser não entra na mente japonesa. […] O tempo e o esforço de um homem jamais podem ser considerados exclusivamente seus. Seu direito de viver repousa unicamente em sua disposição de servir à comunidade. O indivíduo foi completamente sacrificado em nome da comunidade. […] Cada membro de uma comunidade deve observar cuidadosamente a conduta de seus companheiros.” Para que não pudesse haver nenhuma chance de iniciativa ou escolha pessoais, todo o trabalho era completamente controlado por guildas; e todos os bens eram distribuídos pela autoridade, de maneira que a quantidade e o tipo de posses que uma pessoa poderia ter era determinado minuciosamente. Um pai não poderia comprar nem mesmo uma boneca de papel adicional para sua filha. Qualquer desvio de conduta seria punido de maneira instantânea e implacável. Até a linguagem refletia esse código de ética altruísta, evitando o uso de pronomes pessoais e modificando-os para um significado social.

O resultado, na vida adulta, é “a sinistra ausência de liberdade moral — a ausência do direito de agir de acordo com suas próprias convicções de justiça”. De fato, não pode existir conceito de justiça se a única autoridade é a autoridade da massa, do coletivo, do governo em sua máxima abrangência. E o comportamento atual dos japoneses na guerra, inclusive sua atitude com os prisioneiros, é totalmente consistente com sua tradição. Seja o que for que façam a seus inimigos — e são eles que determinam quem é inimigo e iniciam o ataque — não é pior do que impuseram a si mesmos “pelo bem da sociedade”.

Desde que Hearn fez essas observações, a educação ocidental vem se movendo continuamente na direção dessa base japonesa; é sua tendência “progressista”. Atividades de classe, interesses de grupo, influências sociais se tornaram predominantes. E a filosofia prevalecente com a qual os alunos são doutrinados é a do “instrumentalismo”, que nega que possa haver valores ou padrões morais permanentes ou universais de algum tipo. O resultado mais chocante nos alunos é exatamente essa “sinistra ausência de liberdade moral”. Nem provas nem lógica conseguem penetrar nas brumas em que são formados. É difícil fazer com que um deles chegue a qualquer conclusão, quando separados do grupo. Dirão: “Bem, eu só acho que não”, como se não pudesse haver fatos ou processos mentais associados que levam a uma opinião em vez de outra ou diferenciam uma convicção de um gosto. Eles têm a impressão de que “tudo é diferente agora” de qualquer coisa que possa ter existido no passado; embora não tenham idéia de como ou por quê. Dois mais dois não são quatro? Uma alavanca não funciona hoje exatamente pelos mesmos princípios com que funcionava para Arquimedes? Eles não sabem ao certo. Podem dizer: "Ah, não concordo com você", mas não dão nenhuma razão para a discordância. “Não estão convencidos”, mas não conseguem oferecer um argumento para refutar. Ou seja, quando convidados a pensar, não conseguem, porque foram treinados para aceitar a classe, o grupo ou a “tendência social” como única autoridade. Até onde isso é possível, foram reduzidos a “gânglios”, processos neurais em um “corpo” coletivo, em vez de pessoas.

A orientalização dos métodos de ensino no Ocidente têm efeitos até nos detalhes. O grande uso e valor do alfabeto fonético, em oposição à escrita pictográfica (hieróglifos ou caracteres chineses) é que o aluno passa a dominar as ferramentas muito rapidamente. Em inglês, uma criança precisa aprender apenas vinte e seis letras e entender o princípio para combiná-las, como indicativos de sons, e saberá ler. O alfabeto fonético é um dos dispositivos que mais poupa trabalho na história humana. Com caracteres chineses ou qualquer outra escrita em ideogramas, milhares de símbolos têm de ser aprendidos. Grande parte da educação escolar é desperdiçada simplesmente com o trabalho penoso da memorização. Além disso, o pensamento abstrato é gravemente prejudicado. Mesmo assim, defende-se como um método “moderno” para ensinar uma criança a ler que ela aprenda pela memorização visual das palavras, sem aprender o alfabeto. Este método é atribuído a Bronson Alcott5: “Não havia cartilha, com a classe tentando arduamente identificar o A ou talvez o S. Em vez disso, os pequenos eram agrupados em volta do professor, que tinha uma figura nas mãos. Olhavam as figuras dos animais e, embaixo, viam as palavras — cão, gato, vaca — até que, em pouco tempo, sabiam qual palavra correspondia a qual animal.” Isso é ensinar leitura pictográfica. Até onde é possível, a vantagem do alfabeto fonético é anulada, inclusive a sistematização do conhecimento por referências em um índice. Outro método educacional “avançado” não dá notas em provas pelos acertos. Em vez disso, as notas são dadas indicando que a criança se saiu bem em relação a suas capacidades. Ou seja, o professor supõe possuir onisciência divina e age como se conhecesse de maneira absoluta as capacidades inatas da criança, por algum meio celestial, em vez de avaliar o resultado específico de um exame específico. A criança negligente é beneficiada e a criança esforçada, inteligente e conscienciosa perde o benefício merecido. Assim, de todas as maneiras, o fluxo natural de energia dos seres humanos, que na infância é adequadamente dirigido ao desenvolvimento da inteligência e do caráter, é interrompido e subvertido: o objetivo do estudo deixa de ser aprender coisas que são verdadeiras em si mesmas e desenvolver independência por meio desse conhecimento e passa a ser agradar e seguir uma autoridade arbitrária.

O fato concreto de que as escolas públicas americanas estão sob controle político não é reconhecido. As escolas começaram como organizações completamente separadas, com distritos que não tinham nenhuma ligação um com outro nem com qualquer agência política e podiam cobrar um imposto separado que não poderia ser gasto para nenhuma outra finalidade exceto a escola local. Por causa disso, ninguém percebeu que o campo primário de liberdade havia sido invadido no máximo alcance possível. Não pode haver maior extensão de poder arbitrário que tomar as crianças de seus pais, ensiná-las o que a autoridade decretar que deva ser ensinado e expropriar dos pais o dinheiro para pagar pelo processo. Se este princípio ainda não foi realmente entendido, imaginemos o que pensaria um pai que possui determinada fé religiosa, se seus filhos fossem tomados dele à força e se ensinasse a eles um credo oposto. Esse pai não reconheceria uma tirania evidente? Mas as pessoas argumentam que a religião não é de forma alguma ensinada nas escolas. Isso não modifica o princípio envolvido; embora tenha obscurecido a questão no início. A maioria dos pais estava disposta a pagar um imposto para a educação, e feliz por mandar seus filhos à escola. Tentaram manter o ensino estritamente laico. Além disso, quando os distritos educacionais eram pequenos e o conselho escolar composto por moradores locais conhecidos por todos, não era difícil para os pais saber o que estava sendo ensinado; e ter suas opiniões consultadas sobre a contratação ou manutenção de professores e a escolha de livros didáticos. A natureza intrínseca do poder delegado era tão sutil que isso era chamado de “free education”6, a mais completa contradição dos fatos com a terminologia de que a linguagem é capaz. Tudo nessas escolas é obrigatório, e não livre. A verdadeira natureza da instituição se desenvolveu de maneira tão completa de acordo com seus próprios princípios ao longo do tempo que hoje os pais ficam impotentes quando o conselho escolar admite que uma pequena parcela de professores é mentalmente desequilibrada. Os pais ainda são obrigados a entregar seus filhos ao poder desses professores, sob pena de multa. Os professores possuem “estabilidade”. Não podem ser exonerados.

Um dos primeiros “casos” pelos quais a “estabilidade” passou a parecer razoável para professores indica a total confusão de pensamento sobre o assunto, originada da incapacidade de se perceber o poder político em operação. Uma professora da Califórnia, de excelente caráter e competência para ensinar, foi demitida sem motivo por um conselho escolar corrupto. O caso foi levado ao tribunal. A professora foi reintegrada, com base no fato inequívoco de que ela tinha um contrato para o período e não o havia descumprido. Isso foi considerado razão suficiente para se estabelecerem medidas pelas quais um professor deve ser considerado contratado por tempo indeterminado, pois esse é o único significado de “estabilidade”. Porém, isso não tem absolutamente nada a ver com a questão original (cumprimento de um contrato) e anula o direito contratual do empregador. Ou seja, porque a professora sofreu uma injustiça para a qual a lei era competente para corrigir e corrigiu, foi proposto e colocado em prática que os pais devem sofrer a mesma injustiça, sem possibilidade de correção.

Também o famoso caso Scopes7, o “julgamento do macaco” em Dayton, Tennessee, foi discutido com igual calor e ignorância pelos dois lados. O Estado aprovou uma lei proibindo que os professores das escolas públicas lecionassem a teoria darwinista da evolução, ou seriam punidos. Um professor infringiu a lei e foi processado. É evidente que a lei era absolutamente imprópria; mas foi atacada com o argumento de que a teoria darwinista da evolução é verdadeira e que os cidadãos do Tennessee seriam caipiras desinformados.

Mas o que aconteceria se a evolução darwinista estivesse sendo ensinada normalmente nas escolas públicas do Tennessee e um pai tentasse deixar de pagar seu imposto de educação e se recusasse a mandar seus filhos para a escola por não querer que essa teoria fosse ensinada a eles? Quantos dos ardentes defensores do sr. Scopes teriam defendido esse pai? Tenho certeza de que nenhum. Tudo o que eles queriam era que o Estado determinasse que sua própria doutrina científica específica devia ser ensinada, em vez de outro credo heterodoxo. Não estavam absolutamente preocupados com a liberdade de pensamento, expressão ou crença. Não tinham a concepção de direitos pessoais ou autoridade justa. Não perguntaram se um professor poderia ter uma prerrogativa moral peculiar de ensinar a seus alunos algo que os pais não quisessem que fosse ensinado.

Em resumo, não questionaram o controle político da educação; apenas quiseram usá-lo eles mesmos. Não questionaram se esse controle político não é, por natureza, fadado a legislar contra as afirmações dos fatos e das opiniões no longo prazo, ao definir o currículo escolar. O conhecimento científico mais exato e demonstrável será certamente contestado pela autoridade política em algum ponto, porque exporá a insensatez dessa autoridade e seus efeitos viciosos. Ninguém pode demonstrar o absurdo sem sentido do “materialismo dialético” na Rússia, fazendo um exame lógico. Ninguém pode discutir biologia imparcialmente na Alemanha. E, se a autoridade política é considerada competente para controlar a educação, será esse o resultado em qualquer país.

Textos educacionais são necessariamente seletivos, no assunto, na linguagem e no ponto de vista. Onde o ensino é realizado por escolas privadas, haverá uma variação considerável entre as diferentes escolas; os pais devem julgar o que querem que seus filhos aprendam, pelo currículo oferecido. Então, cada uma deve se empenhar pela verdade objetiva; e, uma vez que não há autoridade pública para controlar a opinião, os adultos devem exercer o julgamento final sobre o que aprenderam na escola, depois de formados. Em nenhum lugar, haverá qualquer tentativa de forçar que se ensine a “supremacia do estado” como uma filosofia obrigatória. Mas todo sistema educacional controlado politicamente vai inculcar a doutrina de supremacia do estado mais cedo ou mais tarde, ou como direito divino dos reis, ou como “vontade do povo” na “democracia”. Uma vez que essa doutrina tenha sido aceita, torna-se uma tarefa quase sobre-humana quebrar a força repressora do poder político sobre a vida do cidadão. Seu corpo, sua propriedade e sua mente estarão nas garras do estado desde a infância. É mais fácil um polvo soltar sua presa.

Um sistema educacional obrigatório sustentado por impostos é o modelo completo do estado totalitário.

O alcance do poder exercido e suas implicações finais ainda não foram reconhecidos nos Estados Unidos, porque é permitido aos pais enviar seus filhos para escolas privadas ou educá-los em casa — embora, em todos os casos, eles tenham de pagar o imposto educacional. Mas, quando essa permissão é concedida e o padrão educacional é determinado, ela é revogável; não é mais um direito, mas uma permissão. Na Rússia e na Alemanha isso não é mais permitido.

Sem dúvida as boas pessoas perguntarão, em inocente perplexidade e com memória curta, como as crianças poderão ser educadas se não existirem escolas públicas obrigatórias sustentadas por impostos? A resposta é: pelas escolas privadas. Qualquer um que quisesse poderia abrir uma escola, para a qual os pais poderiam mandar seus filhos em troca do pagamento das mensalidades necessárias, que naturalmente variariam muito. A educação primária poderia ser dada em casa, como era comum nos Estados Unidos até cinqüenta anos atrás8; noventa por cento do conhecimento útil que uma pessoa média possui é certamente adquirido fora da escola. Quem ensinou a população dos Estados Unidos a dirigir automóveis? Isso não foi feito na escola, nem poderia ser. A habilidade prática pela qual o homem médio ganha a vida não é aprendida na escola. Não existe razão para supor que as crianças não seriam ensinadas. Antes da Guerra Civil, alguns estados do sul aprovaram leis tornando crime ensinar um escravo a ler e escrever. Isso significa que o desejo de aprender e a disposição de propagar o conhecimento são tão espontâneos e universais que só podem ser impedidos por punições legais, mesmo que o abismo social seja o que existe entre senhor e escravo.

Mas algumas crianças não permaneceriam analfabetas? Sim, como ocorre hoje e como ocorreu no passado. Os Estados Unidos tiveram um presidente que não aprendeu a ler e escrever até tornar-se adulto, mas casou-se e ganhava seu sustento. A verdade é que, em um país livre, qualquer pessoa que permaneça analfabeta poderia ser deixada assim; embora a simples alfabetização não seja em si uma educação suficiente, mas a chave elementar para uma parte indispensável da educação na civilização. Mas essa educação adicional na civilização não pode ser obtida, de forma alguma, sob o total controle político das escolas. É possível apenas em determinado padrão mental, no qual o conhecimento é procurado voluntariamente. Isso é verdade até mesmo na educação técnica, na qual se presume que exatamente a mesma tecnologia seja ensinada. Um famoso geólogo, que estudou campos de petróleo em todo o mundo, surpreendeu-se com o fato de que “somente os americanos encontram petróleo”9 tanto dentro como fora de seu país. Ele se perguntou: “Por que isso acontece?” Conheceu geólogos de habilidade natural igualmente destacada e com equipamentos técnicos equivalentes entre outras nacionalidades. E eles não encontravam petróleo mesmo que estivessem pisando nele, por assim dizer. Foi forçado a concluir que “o petróleo tem de ser procurado em primeiro lugar em nossa mente. O lugar onde o petróleo realmente está, em última análise, é em nossa cabeça.” Está no “estado mental da ordem social” — a mente livre. A mente livre permaneceu existindo nos Estados Unidos, apesar da intrusão constante do poder político no campo primário da liberdade na educação, porque a escolha e o esforço pessoal continuaram sendo os fatores governantes para se conseguir uma educação avançada, seja clássica ou técnica. O estudante cujos pais não podiam facilmente custear sua faculdade tinha de tomar a séria decisão de fazer o esforço por si mesmo e buscar os estudos que escolheu por sua própria iniciativa. E quando terminava a escola, tinha de correr os riscos de ganhar a vida da melhor maneira que pudesse, provavelmente adquirindo uma experiência variada e usando tanto as mãos como a cabeça, sem uma distinção de classe irrevogável para separar sua inteligência especulativa da aplicação prática.

Isso também pode mudar completamente em pouco tempo. O passo final no sentido de tornar a educação americana completamente japonesa já foi proposto. É escolher os alunos mais promissores nas escolas públicas, pagar seu curso nas diversas faculdades ou universidades com fundos federais e direcioná-los para cargos militares e burocráticos.

Os alemães são notavelmente instruídos; e têm excelentes escolas técnicas. Sua instrução permitiu que eles lessem Mein Kampf e sua tecnologia permitiu que construíssem uma máquina de guerra que vai destruí-los. É isso o que faz a educação controlada pelo poder político, depois que esse controle se torna completo. Desvia a energia humana para o beco sem saída dos canais políticos.

Podemos esperar um ressentimento rancoroso extremo dos profissionais da educação como resposta a qualquer sugestão de que eles devam ser desalojados de sua posição ditatorial. Isso será expresso principalmente em epítetos, como “reacionário”, o mais suave de todos. Contudo, a pergunta a ser feita a qualquer professor nesse estado de indignação é: “Você acha que ninguém voluntariamente confiaria seus filhos a você e o pagaria para ensiná-los? Por que você tem de extorquir sua remuneração e convocar seus alunos à força?”

1 Isabel Paterson se refere ao século 19. (N. do T.)
2 Por volta de 1900. (N. do T.)
3 Patrick Lafcadio Hearn (1850 - 1904): escritor que estudou a cultura e a sociedade japonesas. Nasceu numa ilha grega, de pai irlandês e mãe grega. Foi criado na Irlanda. Emigrou para os Estados Unidos aos 19 anos. Mudou-se para o Japão aos 40 anos, onde viveu o restante de sua vida. (N. do T.)
4 HEARN, Lafcadio. Japan: an interpretation.Macmillan, 1894. (N. da A.)
5 Amos Bronson Alcott (1799 - 1888): professor, escritor e filósofo reformista americano. (N. do T.)
6 Free education: no contexto, significa “educação gratuita”, mas literalmente, seria “educação livre”.
7 O Estado de Tennessee v. John Thomas Scopes (1925): famoso processo legal pelo qual o professor substituto John Scopes foi acusado de violar o Butler Act, do estado de Tennessee, que havia tornado ilegal o ensino da evolução humana em qualquer escola pública. Scopes não tinha certeza se de fato havia dado aulas sobre esse assunto, mas se incriminou de propósito para que o processo tivesse um réu. Scopes foi condenado a uma multa de 100 dólares, mas o veredito foi anulado por uma questão técnica. (N. do T.)
8 Por volta de 1890. (N. do T.)
9 PRATT, Wallace E. Oil in the Earth. University of Kansas Press. (N. da A.)

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