sexta-feira, 15 de março de 2013

Dois trechos de "O Caminho de Guermantes"


Dois trechos que me chamaram a atenção em O Caminho de Guermantes, terceiro livro de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust.



I

Parecia-me já ter visto esse olhar; no entanto, somente hoje conhecera o historiador. De súbito, lembrei-me: havia visto esse mesmo olhar nos olhos de um médico brasileiro que pretendia curar as sufocações do gênero das que eu tinha por meio de absurdas inalações de essências vegetais. E como, para que tomasse mais cuidado pela minha pessoa, lhe dissesse que conhecia o professor Cottard, respondera-me como no interesse de Cottard: — Pois eis aí um tratamento que, se o senhor lhe falasse nele, iria fornecer-lhe assunto para uma sensacional comunicação à Academia de Medicina! — Não ousara insistir, mas olhara-me com aquele mesmo ar de interrogação tímido, interessado e suplicante que eu acabara de admirar no historiador da Fronda. Certamente esses dois homens não se conheciam e não se pareciam em nada, mas as leis psicológicas possuem, como as leis físicas, uma certa generalidade. E, se as condições necessárias são as mesmas, um mesmo olhar ilumina animais humanos diversos, como um mesmo céu matinal a lugares da terra situados bem longe um do outro, e que nunca se viram entre si.



II

[O Marquês de Norpois discutindo o caso Dreyfus com Bloch]

— […] Certamente é necessário dar um basta às manobras antimilitaristas, mas também não devemos passar por alto as agitações provocadas pelos elementos de direita que, em vez de servir à idéia patriótica, sonham em servir-se dela. A França, graças a Deus, não é uma república sul-americana, e não se faz sentir a necessidade de um general de pronunciamiento.

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