terça-feira, 19 de março de 2013

Três mulheres que inspiraram o movimento libertário moderno

Jim Powell
1º de maio de 1996
Tradução: Marcelo Centenaro

A liberdade estava em pleno retrocesso no início dos anos 40. Tiranos oprimiam ou ameaçavam povos em todos os continentes. Intelectuais ocidentais lavavam a reputação de assassinos em massa como Joseph Stalin, e governos ocidentais expandiam seu poder com planejamento central no estilo soviético. Cinquenta milhões de pessoas foram mortas na guerra que assolou a Europa, a África e a Ásia. Os Estados Unidos, aparentemente a última esperança para a liberdade, foram empurrados para ela.

Autores americanos estabelecidos que defendessem a liberdade eram uma espécie em extinção. H. L. Mencken havia deixado a amarga política para escrever suas memórias, enquanto outros como Albert Jay Nock e Garet Garret estavam atolados em pessimismo. 

Em meio ao pior dos tempos, três mulheres corajosas expulsaram o medo. Ousaram declarar que o coletivismo era nocivo. Tomaram o partido dos direitos naturais, a única filosofia que fornece uma base moral para a oposição à tirania em qualquer lugar. Louvaram o antiquado e envelhecido individualismo. Previram um futuro em que as pessoas poderiam ser livres outra vez. Expressaram um alegre otimismo que inspiraria milhões.

Todas eram outsiders que superaram começos difíceis. Duas eram imigrantes. Uma nasceu no território de fronteira, que na época ainda não era parte dos Estados Unidos. Lutaram para ganhar dinheiro como escritoras em mercados comerciais dominados por adversários ideológicos. Todas quebraram financeiramente uma vez ou outra. Passaram por sofrimentos com homens — uma permaneceu num casamento que se tornou estéril e duas outras se divorciaram e nunca se casaram novamente.

Essas mulheres que tiveram origens tão humildes — Rose Wilder Lane, Isabel Paterson e Ayn Rand — publicaram obras-primas no mesmo ano, 1943: A Descoberta da Liberdade (The Discovery of Freedom), O Deus da Máquina (The God of the Machine) e A Nascente (The Fountainhead), respectivamente. O jornalista John Chamberlain relembra que elas, “com desdenhosos olhares de relance para a comunidade de negócios masculina, decidiram reacender a fé numa antiga filosofia americana. Não havia entre elas nenhuma economista. Nenhuma delas era Ph.D.” Albert Jay Nock declarou que “elas fazem todos nós escritores homens parecermos dinheiro confederado. Elas não se confundem nem perdem tempo — cada tiro vai direto ao centro do alvo.”

Rose Wilder Lane

Como seus compatriotas, Rose Wilder Lane surpreendia as pessoas. Uma vez, ela se descreveu assim: “Sou uma mulher gorda do meio oeste, de classe média, de meia idade”. Tinha dentes ruins, seu casamento fracassou, trabalhou para sustentar seus pais que envelheciam e, em uma ocasião nos anos 30, estava tão atrapalhada financeiramente que sua eletricidade foi cortada. Mesmo assim, sua voz se fazia ouvir com grande eloquência enquanto ela ajudava a reviver os princípios radicais da Revolução Americana e ela inspirou milhões de adultos e crianças como editora dos amados livros da “Pequena Casa” sobre responsabilidade individual, trabalho duro, persistência inflexível, famílias fortes e liberdade humana.

Rose Wilder Lane nasceu em 5 de dezembro de 1886, nas proximidades de De Smet, no Território de Dakota. Seu pai, Almanzo Wilder, e sua mãe, Laura Ingalls, eram sitiantes pobres, assolados por secas, tempestades de granizo e outras calamidades que arruinavam as colheitas. Por muitos anos, a família morou em uma cabana sem janelas. Faltavam muitas refeições. A filha deles, cujo nome veio das rosas selvagens que floresciam na pradaria, frequentemente tinha de andar descalça.

Quando Rose tinha quatro anos, a família desistiu de Dakota e mudou-se para Mansfield, no Missouri, onde as perspectivas para a agricultura pareciam melhores. Ela passou a frequentar uma escola de tijolos vermelhos, com quatro salas, onde havia duas prateleiras de livros, e descobriu as maravilhas de Charles Dickens, Jane Austen e Edward Gibbon. Seu livro guia passou a ser o famoso Readers compilado pelo Presidente do Cincinnati College William Holmes McGuffey, que dava lições morais ao mesmo tempo em que ensinava os fundamentos da leitura e expunha as mentes jovens a muitos grandes autores da civilização ocidental. 

“Não gostamos de disciplina,” Rose lembrava, “portanto sofremos até que nos disciplinamos. Vimos muitas coisas e muitas oportunidades que desejávamos ardentemente e pelas quais não podíamos pagar. Então não as conseguíamos, ou conseguíamos apenas com um esforço e abnegação estupendos, torturantes, uma vez que era muito mais difícil aguentar uma dívida que as privações. Éramos honestos, não porque a natureza humana pecadora desejasse sê-lo, mas porque as consequências da desonestidade eram excessivamente dolorosas. Era evidente que se sua palavra não fosse tão confiável quanto seu contrato, seu contrato não era bom e você não valia nada… aprendemos que é impossível conseguir alguma coisa em troca de nada…”

Ela abandou a escola depois do nono ano e resolveu que, de algum jeito, conheceria o mundo além do Missouri rural. Tomou um trem para Kansas City e arranjou um emprego no turno da noite do telégrafo da Western Union. Passava a maior parte do seu tempo livre lendo, talvez três horas por dia. Por volta de 1908, mudou-se para San Francisco, para outro emprego na Western Union e por causa de um romance com o representante de vendas de publicidade Gillette Lane. Casaram-se em março de 1909. Ela engravidou, mas ou abortou ou a criança nasceu morta. Depois disso, ela ficou estéril.

Em 1915, o casamento havia acabado. Por meio de seus contatos em jornais, Rose começou a trabalhar como jornalista. Começou a escrever uma coluna feminina para o San Francisco Bulletin, um jornal trabalhista radical, e depois uma série diária de 1.500 palavras de perfis de personalidades. Escreveu um romance autobiográfico publicado em capítulos na revista Sunset.

Em março de 1920, a Cruz Vermelha a convidou para viajar pela Europa e relatar os trabalhos assistenciais da organização, para que doadores em potencial — de cujo apoio dependia — soubessem das suas boas ações. Baseada em Paris, Rose viajou para Viena, Berlim, Praga, Varsóvia, Budapeste, Roma, Sarajevo, Dubrovnik, Tirana, Atenas, Cairo, Damasco, Bagdá e Constantinopla. Ela imaginava que a Europa era a grande esperança da civilização, mas, ao contrário, fugiu de bandidos, conheceu a corrupção burocrática, passou por inflação galopante, presenciou os horrores da guerra civil e as sombras crescentes da tirania implacável.

Rose visitou a União Soviética quatro anos depois de os bolcheviques tomarem o poder. Como muitas pessoas, estava encantada com a visão comunista de uma vida melhor. Conheceu camponeses que, pensava ela, deviam estar extasiados com o comunismo. Mas escreveu depois: “Meu anfitrião me deixou perplexa com a força com que disse que não gostava do novo governo… Sua queixa era a interferência governamental nos assuntos da aldeia. Ele protestava contra a burocracia crescente que estava tirando mais e mais homens do trabalho produtivo. Ele previa caos e sofrimento resultantes da centralização do poder econômico em Moscou… Quando voltei da União Soviética, não era mais comunista, porque acreditava na liberdade pessoal.”

Depois que voltou para a América, sua carreira deslanchou e ela escrevia para The American Mercury, Country Gentleman, Good Housekeeping, Harper’s Ladies’ Home Journal, McCall’s e The Saturday Evening Post, entre outros. Escreveu romances sobre a vida dos pioneiros. A famosa atriz Helen Hayes representou um de seus romances, Let the Hurricane Roar (Deixe o Furacão Rugir), no rádio. Mas Rose ficou arruinada financeiramente durante a Grande Depressão. Em 1931, ela se lamentava: “Tenho 45 anos. Devo US$8.000,00. Tenho US$502,70 no banco… Nada do que planejei jamais se realizou.”

Em 1936, Rose escreveu Credo, um artigo de 18.000 palavras sobre a liberdade para The Saturday Evening Post. Três anos depois, Leonard Read, Gerente Geral da Câmara de Comércio de Los Angeles, ajudou a fundar uma pequena editora chamada Pamphleteers. Essa editora reimprimiu o artigo de Rose com o título Give Me Liberty [traduzido para o português como Quero Liberdade].

Nele, Rose explica como a livre competição permite que a civilização floresça apesar de existirem canalhas. “Não tenho ilusões sobre os pioneiros,” escreveu. “Em geral, eram desordeiros do pior tipo. A Europa ficou feliz em se livrar deles. Não trouxeram grande inteligência ou cultura. Seu maior desejo era fazer o que bem entendessem… [Ainda assim] os americanos de hoje… são o povo mais bondoso da terra… Só os americanos despejam prosperidade em todo o mundo, aliviando o sofrimento em lugares tão distantes como a Armênia e o Japão… São alguns dos valores humanos que nasceram do individualismo enquanto o individualismo criava esta nação.”

A Descoberta da Liberdade

Em 1942, um editor da John Day Company pediu que Rose escrevesse um livro sobre a liberdade. Ela começou a trabalhar num estacionamento de trailers em McAllen, no Texas, durante uma viagem ao sudoeste. Preparou pelo menos dois rascunhos em sua casa, em Danbury, Connecticut. O livro, The Discovery of Freedom — Man’s Struggle Against Authority (A Descoberta da Liberdade — A Luta do Homem contra a Autoridade), foi publicado em janeiro de 1943.

Enquanto a maioria dos historiadores se concentra nos governantes, Rose registrou a luta épica de 6.000 anos de pessoas comuns que desafiam seus governantes para criarem seus filhos, produzirem comida, construírem negócios, se envolverem com o comércio e, de incontáveis maneiras, melhorarem a vida humana. Foi lírica sobre a Revolução Americana, que ajudou a dar garantir a liberdade e a desencadear uma energia fenomenal para o progresso humano.

Com uma prosa inspiradora e, às vezes, melodramática, atacou uma miríade de influências coletivistas, incluindo escolas públicas e as chamadas regulações econômicas “progressistas”. Ridicularizou os argumentos de que os burocratas poderiam fazer mais pelos indivíduos do que estes fariam por si mesmos. Mandou embora a melancolia com sua altiva autoconfiança. “Cinco gerações de americanos conduziram a Revolução,” declarou ela, “e está chegando a hora em que os americanos libertarão o mundo inteiro.”

O individualista Albert Jay Nock não economizou elogios ao livro, mas Rose não ficou satisfeita com ele e não permitiu que fosse reimpresso. Nunca conseguiu completar outra edição. Somente mil cópias do livro foram impressas durante a vida dela.

Mesmo assim, A Descoberta da Liberdade teve grande impacto, circulando como um clássico underground. Ajudou a inspirar o estabelecimento de diversas organizações para promover a liberdade. Entre elas, a Foundation for Economic Education, de Leonard Read, o F. A. Harper’s Institute for Humane Studies e a Freedom School, de Robert M. Lefevre. Read contratou Henry Grady Weaver, analista de mercado da General Motors, para adaptar o livro, com o título de The Mainspring of Human Progress (O Principal Motivo do Progresso Humano), e centenas de milhares de cópias foram distribuídas pela FEE.

Os livros da Pequena Casa

Embora A Descoberta da Liberdade seja um documento fundador do movimento libertário moderno, Rose talvez tenha tido uma carreira mais importante nos bastidores. Em 1930, Laura Ingalls Wilder deu a Rose um manuscrito sobre sua infância e juventude no Winsconsin, no Kansas e em Dakota. Rose tirou do material a parte sobre o Winsconsin e preparou dois rascunhos do restante, dando mais vida à história e aos personagens. Chegou a um manuscrito de 100 páginas chamado provisoriamente de Pioneer Girl (Menina Pioneira), e o enviou a seu agente literário, Carl Brandt. O material sobre o Winsconsin virou um conto de 20 páginas, “Quando a Vovó era Criança”, um texto para um possível livro infantil ilustrado. Um editor sugeriu que a história fosse ampliada para um livro de 25.000 palavras para leitores mais novos.

Rose levou as notícias a sua mãe e, uma vez que o manuscrito original havia sido reescrito de maneira irreconhecível, ela explicou: “São as histórias do seu pai, tiradas do longo manuscrito MENINA PIONEIRA e rearranjados, como você vai ver.” Rose explicou que tipo de material adicional era necessário, acrescentando: “Se você achar mais fácil escrever em primeira pessoa, escreva assim. Depois eu mudo para a terceira pessoa.” Ela garantiu à sua mãe que a colaboração permaneceria um segredo de família: “Não disse a ninguém que passei o manuscrito pela minha máquina de escrever…” Em 27 de maio de 1931, o “livro infantil” estava pronto e Rose o enviou aos editores. Foi lançado pela editora Harper Brothers em 1932, com o título Uma Casa na Floresta (Little House in the Big Woods) e tornou-se uma história americana adorada pelo público.

Em janeiro de 1933, Laura deu a Rose o manuscrito de O Jovem Fazendeiro (Farmer Boy), sobre as lembranças de infância de Almanzo. Os editores rejeitaram o texto, provavelmente porque era basicamente uma crônica de habilidades agrícolas. Rose gastou um mês transformando-o numa história mais interessante e a editora Harper a comprou. No ano seguinte, Laura passou para Rose um manuscrito sobre sua vida no Kansas e ela a reescreveu em cinco semanas. O resultado é Uma Casa na Campina (Little House on the Prairie).

Os livros começaram a gerar uma renda significativa para os Wilder, um alívio para Rose, cujo objetivo era dar a eles segurança financeira. Laura ampliou parte da história de Menina Pioneira em outro manuscrito e o passou para Rose no verão de 1936. “Escrevi para você os porquês da história enquanto a escrevia,” explicou Laura. “Mas você sabe que seu julgamento é melhor que o meu. Portanto, o que você decidir é o que vai ser.” Rose reescreveu o texto em dois meses e mandou uma carta a seu agente literário, pedindo que o acordo entre eles fosse melhorado. Esse manuscrito se tornou À Beira do Riacho (On the Banks of Plum Creek). Durante a maior parte do ano de 1939, Rose reescreveu o manuscrito de À Margem da Lagoa Prateada (By the Shores of Silver Lake); em 1940, O Longo Inverno (The Long Winter); em 1941, Uma Pequena Cidade na Campina (Little Town on the Prairie); e, em 1942, Anos Felizes (These Happy Golden Years).

Especialmente nos últimos livros, Rose retratou a jovem Laura Ingalls Wilder como uma heroína libertária. Por exemplo, em Uma Pequena Cidade na Campina, descreveu os pensamentos de sua mãe assim: “Os americanos são livres. Isso significa que eles devem obedecer a sua própria consciência. Nenhum rei é chefe do Pa; o chefe dele é ele mesmo. Portanto (pensava ela), quando eu for um pouco mais velha, Pa e Ma vão parar de me dizer o que fazer e não haverá ninguém mais que tenha o direito de me dar ordens. Terei de fazer com que eu mesma me comporte.”

Em 1974, a rede NBC começou a adaptar os livros para uma série de televisão. Chamada Uma Casa na Campina, ficou imensamente popular, foi produzida durante nove anos e resultou em mais de 200 programas. Veio então um acordo editorial que garantiu que a série continuaria sendo transmitida por pelo menos outros vinte e cinco anos. Michael Landon escreveu e dirigiu vários programas e atuou como o pai de Laura, Charles Ingalls.

A última tacada de Rose foi um livro sobre os bordados americanos, que ela transformou em um hino à liberdade. “O bordado americano nos conta,” escreveu, “que os americanos vivem na única sociedade sem classes. Esta república é o único país que não tem bordado camponês… As mulheres americanas… descartaram os fundos, descartaram bordas e armações. Fazem os detalhes criarem o todo e colocam cada detalhe no espaço sem limites, só, independente, completo.”

Isabel Paterson

Rose conhecia, mas não era muito próxima da arrojada, esquentada e muitas vezes rude jornalista Isabel Bowler Paterson. De acordo com o professor Stephen Cox, ela era “uma mulher magra, de 1,60m, muito míope, que amava roupas finas e ligeiramente excêntricas, apreciava pratos delicados, bebia um pouco, uma devota da natureza que podia passar o dia todo assistindo uma árvore crescer…”

Isabel aferrava-se obstinadamente a suas opiniões e dizia o que pensava sobre cada assunto a todos que pudessem ouvi-la. O fato de dominar as conversas tendia a limitar sua vida social, especialmente quando se tornou uma dissidente contra a intervenção governamental do New Deal, mas, mesmo assim, teve alguns amigos fiéis. Um deles comentou: “se as pessoas conseguirem aguentá-la acabarão gostando muito dela.”

Isabel escreveu romances e cerca de 1.200 colunas de jornal, mas foi O Deus da Máquina que lhe concedeu a imortalidade nos anais da liberdade. O livro é um poderoso ataque contra o coletivismo e explica a dinâmica extraordinária dos mercados livres.

Ela nasceu em 22 de junho de 1886, na Ilha Manitoulin, em Ontário. Seus pais, Francis e Margaret Bowler, eram sitiantes pobres que se mudaram para Michigan, Utah e Alberta, em busca de melhor sorte. Isabel fazia sabão, cuidava da criação e frequentou a escola somente por dois anos. Mas lia livros em casa, incluindo a Bíblia, algum Shakespeare e romances de Charles Dickens e Alexandre Dumas.

Por volta dos 18 anos, Isabel foi morar sozinha. Trabalhou como garçonete, auxiliar de contabilidade e taquigrafista, ganhando US$20,00 por mês. Tinha orgulho de ser independente. “Ouça, garota,” ela disse a uma jornalista, “seu pagamento é sua mãe e seu pai; em outras palavras, respeite-o.”

Aos 24, em 1910, casou-se com Kenneth Birrel Paterson, mas a relação azedou e, em poucos anos, tomaram rumos separados. Ela raramente falou sobre ele daí em diante. Ficou mais determinada que nunca em manter sua independência.

Havia escrito algumas coisas para matar o tédio e, depois que começou a trabalhar como secretária de um editor de jornal de Spokane, Washington, passou a escrever mais. Começou a redigir os editoriais para ele. Fez críticas de teatro para dois jornais de Vancouver. Em seguida, ficção — seu romance The Shadow Riders (Os Cavaleiros das Sombras) foi publicado em 1916 e The Magpie’s Nest (O Ninho da Pega) no ano seguinte. Ambos eram sobre mulheres jovens lutando para alcançar a independência. Embora o Canadá fosse uma nação protecionista, Isabel deixava claro em The Shadow Riders que era uma defensora do livre comércio.

Isabel mudou-se para o leste depois da Primeira Guerra Mundial e começou a ler o que pôde da Biblioteca Pública de Nova York. Em 1922, convenceu o editor literário do New York Herald Tribune, Burton Rascoe, a contratá-la, mesmo não gostando dela. “Ela disse abruptamente que queria o emprego,” ele relembra. “Disse a ela que meu orçamento não permitia pagar o que ela valia. Ela respondeu que trabalharia pelo que eu estivesse preparado para pagar, fosse o quanto fosse. Disse que pagaria quarenta dólares por semana. Ela respondeu, ‘Trabalho por esse valor.’”

Em 1924, começou uma coluna semanal sobre livros e esse espaço se tornou um fórum influente pelos vinte e cinco anos seguintes. Usava os livros como ponto de partida para falar sobre praticamente qualquer coisa. Muitas colunas afirmavam seu compromisso com o individualismo americano. Atacou as sociedades coletivistas baseadas no status e defendeu o capitalismo dinâmico. Denunciou o intervencionismo de Herbert Hoover e o New Deal de Franklin Roosevelt.

O Deus da Máquina

Muitas colunas trataram de temas que foram a base de O Deus da Máquina, publicado pela editora Putnam em maio de 1943. Isabel atacou o fascismo, o nazismo e o comunismo como variantes do mesmo mal, o coletivismo. Reservou alguns de seus mais eloquentes disparos para Stalin, que encantava tantos intelectuais. Qualquer um que imagine que os horrores socialistas só foram expostos recentemente ficará chocado em ver como Isabel entendeu claramente porque o coletivismo sempre significa estagnação, atraso, corrupção e escravidão.

Há muito mais neste livro tremendo. Isabel nos deu um panorama formidável da história da liberdade. Demonstrou porque a liberdade pessoal é impossível sem liberdade política. Defendeu os imigrantes. Denunciou o alistamento militar, o planejamento econômico central, o sindicalismo compulsório, os subsídios para empresas, o papel-moeda e a educação pública obrigatória. Muito antes da maioria dos economistas, explicou como o New Deal prolongou a Grande Depressão.

Isabel louvou os empreendedores privados, que são a fonte primária de progresso humano. Por exemplo: “Tudo que foi criação do empreendimento privado nas estradas de ferro é gratificante. O empreendimento privado minerou, fundiu e forjou o ferro, inventou a máquina a vapor, desenvolveu instrumentos de avaliação, produziu e acumulou o capital, organizou os esforços. Na construção e na operação de estradas de ferro, o que quer que seja que pertença ao domínio do empreendimento privado foi feito com competência… O que as pessoas odiavam era o monopólio. O monopólio, nada mais que o monopólio, foi a contribuição política.”

Em 1949, os editores do New York Herald Tribune acharam que as opiniões libertárias de Isabel eram radicais demais e a demitiram. Mesmo assim, ela expressou sua gratidão, dizendo que eles provavelmente publicaram mais trabalhos dela do que seria tolerado em qualquer outro lugar. Deram a ela uma pequena pensão e ela se manteve investindo suas economias em imóveis. Recusou o Seguro Social, devolvendo seu cartão em um envelope onde anotou “Fraude do Seguro Social” (Social Security Swindle).
Nesse ínterim, ela havia se tornado um ponto focal do crescente movimento libertário. Por exemplo, depois que Leonard Read fundou a FEE, Isabel o apresentou ao influente jornalista John Chamberlain, que ela havia ajudado a converter em libertário e isso deu origem a uma colaboração de décadas.

No início dos anos 40, Isabel foi mentora de Ayn Rand, nascida na Rússia e 19 anos mais jovem que ela. Ayn a ajudava semanalmente a revisar as páginas compostas em tipos de suas resenhas para o Herald Tribune. Isabel apresentou a Ayn muitos livros e ideias sobre história, economia e filosofia política, ajudando-a a desenvolver uma visão de mundo mais sofisticada. Quando foi publicado o romance de Ayn, A Nascente, Isabel o promoveu em diversas colunas no Herald Tribune. Os livros de Ayn Rand ultrapassaram os de Isabel Paterson — e praticamente os de qualquer outra pessoa nesse gênero — vendendo cerca de 20 milhões de cópias.

Ayn Rand
Ayn Rand era uma presença impressionante. Sua biógrafa Barbara Branden a descreveu assim, quando chegou à América aos 21 anos: “Emoldurado por seu cabelo curto e liso, seu rosto quadrado ressaltado por um queixo firme, com sua larga boca sensual mantida em rígido controle e seus enormes e intensos olhos negros, parecia o semblante de um mártir, ou de um inquisidor, ou de um santo. Os olhos queimavam com uma paixão que era ao mesmo tempo emocional e intelectual — como se fossem atravessar o interlocutor.” Quando ficou mais velha, o fato de fumar constantemente e os hábitos sedentários fizeram efeitos, mas Ayn ainda era inesquecível, como relembra o editor Hiram Haydn: “Uma mulher baixa, de rosto quadrado, de cabelos negros com franja e cortados abaixo da orelha… Os olhos eram negros como os cabelos e muito penetrantes.”



Ela nasceu Alissa Rosenbaum, em 2 de fevereiro de 1905, em São Petersburgo. Seu pai, Fronz Rosembaum, conseguiu sair da pobreza e chegar à classe média trabalhando como farmacêutico. Sua mãe, Anna, era extrovertida, acreditava em exercícios vigorosos e tinha uma vida social intensa. Alissa não queria saber nem de exercícios nem de festas.



Era precoce. Depois das aulas, estudava francês e alemão em casa. Inspirada por uma revista que publicava histórias em série, começou a escrever contos e, aos nove anos, resolveu se tornar escritora.


O mundo confortável dos Rosenbaum acabou quando o Czar entrou na Primeira Guerra Mundial, que devastou a economia do país. Em um ano, havia mais de um milhão de russos mortos ou feridos. As finanças do governo estavam quebradas. As pessoas passavam fome. Os bolcheviques se aproveitaram do caos e tomaram o poder em 1918.

A Revolução Russa estimulou a jovem Alissa a inventar histórias sobre indivíduos heroicos combatendo reis ou ditadores comunistas. Também nessa época descobriu o romancista Victor Hugo. Seu estilo dramático e seus heróis intensos cativaram a imaginação dela. “Fiquei fascinada pelo senso de vida de Hugo,” declarou. “Era alguém escrevendo algo importante. Senti que esse era o tipo de escritora que eu gostaria de ser, mas não sabia quanto tempo levaria para chegar lá.”

Na Universidade de Petrogrado, foi aluna do rigoroso aristotélico Nicholas Lossky que, como demonstrou a estudiosa Chris Sciabarra, teve enorme impacto sobre o pensamento de Ayn Rand. Ela lia peças de Johann Christoph Friedrich von Schiller (que adorava) e de William Shakespeare (que odiava), filosofia de Friedrich Nietzsche (pensador estimulante) e romances de Fiódor Dostoiévski (bom criador de histórias). Ficou completamente fascinada ao ver alguns filmes estrangeiros. Sua primeira grande paixão foi um homem chamado Leo, que arriscava a vida escondendo membros de grupos clandestinos antibolcheviques.

Em 1925, os Rosenbaum receberam uma carta de parentes que haviam emigrado para Chicago havia mais de três décadas, fugindo do antissemitismo russo. Alissa manifestou um desejo ardente de ver a América. Os parentes concordaram em pagar a passagem dela e se responsabilizarem financeiramente por ela. Miraculosamente, as autoridades soviéticas emitiram um passaporte para que ela viajasse por seis meses. Em 10 de fevereiro de 1926, embarcou no navio De Grasse e chegou a Nova York com US$50,00. 

Logo se juntou a seus parentes num pequeno apartamento em Chicago. Via muitos filmes e trabalhava com sua máquina de escrever — normalmente, depois da meia-noite, o que atrapalhava o sono dos outros. Nesse período, escolheu um novo prenome: Ayn, nome de uma escritora finlandesa que ela nunca chegou a ler, mas gostava da sonoridade do nome. E um novo sobrenome: Rand, por causa da máquina de escrever Remington Rand. A biógrafa Barbara Branden conta que ela pode ter adotado esse nome para proteger sua família de possíveis problemas com o regime soviético.

Decidida a se tornar roteirista de cinema, mudou-se para Los Angeles. Por meio de seus parentes de Chicago, convenceu um distribuidor de filmes a escrever uma carta de apresentação dela para alguém no departamento de publicidade do glamoroso estúdio Cecil B. DeMille. Ela encontrou o grande homem em pessoa quando entrava no estúdio e ele a levou ao set do filme em que estava trabalhando. Começou a trabalhar como figurante, por US$7,50 por dia.

No estúdio de DeMille, Ayn se apaixonou por um ator de pequenos papéis, alto, bonito, de olhos azuis, chamado Frank O’Connor. Casaram-se em 15 de abril de 1929, antes que o visto dela expirasse. Depois disso, ela não teve mais que se preocupar com voltar para a União Soviética. Dois meses depois, requereu a cidadania americana.

O estúdio DeMille fechou e ela arranjou estranhos empregos, como, por exemplo, leitora de roteiros free-lancer. Em 1935, sentiu o gosto do sucesso, ganhando até US$1.200,00 por semana com sua peça Noite de 16 de Janeiro, que foi apresentada 283 vezes na Broadway. Era sobre um industrial cruel e sua poderosa mulher sendo julgada pelo assassinato dele.

We the Living

Ayn passou os quatro anos seguintes escrevendo seu primeiro romance, We the Living (Nós, os Vivos), sobre a luta para encontrar liberdade na Rússia soviética. Kira Argounova, a heroína desesperada, se torna amante de um chefe do partido, para conseguir dinheiro para seu namorado que sofria de tuberculose. Ayn terminou o livro no final de 1933. Depois de várias recusas, a editora Macmillan aceitou publicá-lo e pagou US$250,00 como adiantamento. Foram impressas 3.000 cópias em março de 1936, mas o livro não vendeu. Embora a propaganda boca-a-boca tenha elevado as vendas depois de um ano, a editora tinha destruído o caráter tipográfico e We the Living deixou de ser publicado. Ayn Rand recebeu apenas US$100,00 de royalties.

Em 1937, enquanto lutava para desenvolver a trama de A Nascente, Ayn escreveu uma novela lírica futurista sobre um indivíduo contra uma tirania coletivista — Anthem (Hino). O agente literário de Ayn o vendeu para um editor britânico, mas não conseguiu encontrar quem o publicasse no mercado americano. Cerca de sete anos depois, o gerente geral da Câmara de Comércio de Los Angeles, Leonard Read visitou Ayn Rand e Frank O’Connor — que estavam morando em Nova York — e comentou que alguém devia escrever um livro defendendo o individualismo. Ayn lhe contou sobre Anthem. Read pegou emprestada uma cópia, leu e sua pequena editora Pamphleteers tornou o texto disponível nos Estados Unidos. Vendeu cerca de 2,5 milhões de exemplares.

A Nascente

Ayn Rand terminou a trama de A Nascente em 1938, depois de cerca de quatro anos de trabalho. Então veio a fase de escrever o livro. Seu herói, o arquiteto Howard Roark, exprimia a visão dela de um homem ideal. Combatia o coletivismo em toda parte ao seu redor para defender a integridade de suas ideias, mesmo que isso significasse dinamitar um prédio porque os planos foram alterados violando o contrato.

Foi difícil vender o livro. O editor de Ayn na Macmillan manifestou interesse e ofereceu outro adiantamento de US$250,00, mas ela insistiu para que a companhia concordasse em gastar pelo menos US$1.200,00 em publicidade. Com isso, a Macmillan desistiu. Em 1940, uma dúzia de editoras haviam visto capítulos acabados e recusado o livro. Um editor influente declarou que o livro não venderia nunca. O agente literário de Ayn ficou contra o livro. As economias dela estavam em meros US$700,00.

Ayn sugeriu que o manuscrito parcial fosse apresentado à Bobbs-Merril, uma editora de Indianápolis, que tinha publicado The Red Decade (A Década Vermelha), do jornalista anticomunista Eugene Lyons. Os editores da Bobbs-Merril em Indianápolis rejeitaram A Nascente, mas o editor da companhia em Nova York, Archibald Ogden adorou o livro e ameaçou se demitir se o livro não fosse aceito. Assinaram um contrato em dezembro de 1941, pagando um adiantamento de US$1.000,00. Com dois terços do livro ainda para serem escritos, Ayn estabeleceu o prazo de 1º de janeiro de 1943 para terminá-lo. Houve uma corrida amigável com Isabel Paterson, que estava trabalhando para terminar O Deus da Máquina.

Ayn Rand cumpriu o prazo e A Nascente foi publicado em maio de 1943, o mesmo mês da publicação de O Deus da Máquina e cerca de nove anos depois de quando o livro era apenas um sonho. A Nascente gerou muito mais resenhas que We the Living, mas a maior parte dos críticos ou o atacou ou o deturpou, descrevendo-o como um livro sobre arquitetura. No início, a primeira edição de 7.500 exemplares vendeu lentamente. O boca-a-boca provocou uma grande onda de interesse e a editora fez diversas reimpressões em pequenas quantidades, em parte por causa da falta de papel dos tempos de guerra. O livro ganhou impulso e chegou às listas de best-sellers. Dois anos depois da primeira edição, tinha vendido 100.000 cópias. Em 1948, chegou a 400.000 exemplares. Então veio a edição em brochura da New American Library e A Nascente ultrapassou os 6 milhões de livros vendidos.

No dia em que a Warner Brothers concordou em pagar US$50.000,00 pelos direitos de filmagem de A Nascente, Ayn e Frank decidiram esbanjar e cada um consumiu um jantar de 65 cents no restaurante do bairro. Ayn lutou para manter a integridade do roteiro e foi bastante bem-sucedida, embora algumas das suas falas preferidas tenham sido cortadas. O filme, estrelado por Gary Cooper, Patricia Neal e Raymond Massey, estreou em julho de 1949. Levou o livro às listas de best-sellers outra vez.

Algum tempo antes, quando a edição de capa dura tinha acabado de sair, Ayn contou a Isabel Paterson o quanto estava desapontada com a repercussão do livro. Isabel insistiu para que ela escrevesse um livro de não-ficção e acrescentou que Ayn tinha o dever de fazer suas opiniões mais conhecidas. Ayn se revoltou com a insinuação de que devesse alguma coisa às pessoas. “E se eu entrasse em greve?” perguntou. “E se todas as mentes criativas do mundo entrassem em greve?” Daí surgiu a ideia de sua última obra-prima, chamada originalmente de The Strike (A Greve).

A Revolta de Atlas

Ayn Rand trabalhou nesse livro por cerca de 14 anos. Tudo nele se tornou maior que a vida. O livro retrata seu mais famoso herói, o misterioso John Galt, o físico-inventor que organizou uma greve das pessoas mais produtivas contra os criadores de impostos e outros exploradores. O livro apresenta Dagney Taggart, a primeira mulher ideal de Ayn, que encontra sua contraparte em Galt. Os personagens-chave declamam longos discursos com as opiniões filosóficas de Ayn sobre liberdade, dinheiro e sexo — o livro frequentemente parece mais uma polêmica sobre individualismo e capitalismo. Um amigo sugeriu que o título provisório faria as pessoas pensarem que era sobre sindicatos e ela o deixou de lado. O’Connor disse para ela usar um dos títulos de capítulo e o livro se tornou Atlas Shrugged (em português, A Revolta de Atlas).

As ideias de Ayn Rand eram controversas como sempre, mas as vendas de A Nascente impressionaram as editoras e várias grandes a cortejaram para publicar A Revolta de Atlas. Bennett Cerf, sócio da Random House, foi quem ofereceu mais apoio e Ayn recebeu um adiantamento de US$50.000,00 sobre royalties de 15 por cento, uma primeira edição de pelo menos 75.000 exemplares e um orçamento publicitário de US$25.000,00. O livro foi publicado em 10 de outubro de 1957.

A maioria das resenhas foi brutal. O socialista tradicional Granville Hicks fez críticas fortes no New York Times e outros ficaram ofendidos da mesma maneira pelos ataques de Ayn contra o coletivismo. A resenha mais histérica de todas acabou aparecendo no conservador National Review, onde Whittaker Chambers, presumivelmente ofendido pela crítica à religião, comparou Ayn a um nazista “comandando: ‘Para uma câmara de gás — marche!’” A divulgação boca-a-boca se mostrou muito forte para esses opositores e as vendas começaram uma escalada, chegando a ultrapassar 4,5 milhões de exemplares.

Com A Revolta de Atlas, Ayn Rand havia realizado seus sonhos e ficou deprimida. Estava exausta. Não tinha mais um projeto gigante para direcionar suas energias prodigiosas. Dependia cada vez mais de seu discípulo intelectual nascido no Canadá, Nathaniel Branden, de quem tinha se tornado íntima. Para atender ao interesse crescente em Ayn Rand e ajudá-la a recuperar a disposição, ele criou o Instituto Nathaniel Branden, que oferecia seminários, vendia aulas gravadas e começou a produzir publicações. Ayn escreveu artigos sobre sua corrente de filosofia libertária, que chamou de Objetivismo. Branden, 25 anos mais novo que Ayn, era algumas vezes um capataz difícil de lidar, mas mostrava habilidades notáveis para promover os ideais do individualismo e do capitalismo. Os bons tempos continuaram até 23 de agosto de 1968, quando ele contou a Ayn sobre seu caso com outra mulher. Ayn o denunciou publicamente e eles se afastaram, embora as razões nunca tenham sido completamente divulgadas até que a biografia escrita por Barbara, ex-mulher de Branden, foi publicada, 18 anos depois. Nathaniel Branden tornou-se mais tarde um autor de best-sellers sobre autoestima. 

Durante o último meio século, nenhum indivíduo fez mais que Ayn Rand para converter pessoas para os ideais da liberdade. Seus livros vendem 300.000 cópias ano após ano sem publicidade dos editores e sem serem indicados por professores universitários. De fato, suas obras foram tratadas como lixo pela maioria dos intelectuais. Seu apelo duradouro é um fenômeno assombroso.

Curiosamente, apesar da imensa influência dos livros dela, o impacto fora dos países de língua inglesa é limitado. O mais conhecido é A Nascente, com edições em francês, alemão, norueguês, sueco e russo. We the Living está disponível em francês, alemão, grego, italiano e russo, mas vendeu só um quinto do que vendeu A Nascente. A única edição estrangeira de A Revolta de Atlas é em alemão — incrivelmente, nunca foi publicado na Inglaterra. Anthem nunca foi traduzido, embora edições em francês e sueco estejam sendo preparadas. Uma confirmação, talvez, de que a América continue sendo o santuário do velho individualismo no mundo.

Últimos anos

Ayn, Isabel e Rose se encontraram muito pouco conforme passaram os anos. Ayn e Isabel, ambas de personalidade muito forte, tiveram uma briga amarga nos anos 40; depois da publicação de A Revolta de Atlas, Isabel tentou sem sucesso uma reconciliação. A amizade entre Isabel e Rose aparentemente terminou por causa de alguma disputa intelectual. Sofrendo de gota e de outras doenças, Isabel se mudou para Montclair, em Nova Jersey, com dois amigos que restaram, Ted e Muriel Hall. Morreu em 10 de janeiro de 1961, aos 74 anos. Foi enterrada em um túmulo sem identificação.

Ayn e Rose já haviam se afastado por causa de religião. Embora Rose tenha permanecido ativa durante toda a sua vida — foi mandada ao Vietnã como correspondente de Woman’s Day em 1965 — ela apreciava morar no campo, em sua casa em Danbury, Connecticut. Em 29 de novembro de 1966, assou pães para vários dias e subiu para dormir. Nunca acordou. Tinha 79 anos. Seu amigo próximo e herdeiro literário Roger MacBride levou suas cinzas para Mansfield, Missouri, e as enterrou junto ao pai e à mãe dela. MacBride mandou gravar em sua lápide simples algumas palavras de Thomas Paine: “Um exército de princípios penetrará onde um exército de soldados não chega. Nem o Canal nem o Reno deterão seu avanço. Marchará no horizonte do mundo e o conquistará.”

Ayn havia brigado com muitos amigos e levava uma vida reclusa em seus últimos anos. Passou por uma cirurgia por causa de um câncer de pulmão. Ficou ainda mais solitária após a morte de Frank O’Connor, em novembro de 1979, esquecida de como suas ideias inspiraram milhões. Dois anos depois, pôde desfrutar de um cenário estimulante; o empreendedor James Blanchard mandou que um trem particular a levasse de Nova York para Nova Orleans onde 4.000 pessoas aplaudiram sua retumbante defesa da liberdade.

O coração de Ayn começou a falhar em dezembro de 1981. Ela resistiu por mais três meses, pedindo a seu mais próximo companheiro, Leonard Peikoff, que terminasse vários projetos. Morreu em seu apartamento da East 34th Street, número 120, em Manhattan, em 6 de março de 1982. Foi enterrada junto de O’Connor, em Valhalla, Nova York, enquanto cerca de 200 pessoas jogavam flores sobre seu caixão. Tinha 77 anos.

Com suas excentricidades reconhecidas, Ayn Rand, Isabel Paterson e Rose Wilder Lane foram milagres. Saíram de lugar nenhum para desafiarem com coragem um mundo corrupto e coletivista. De maneira decidida, tomaram a cidadela. Afirmaram o imperativo moral da liberdade. Mostraram que todas as coisas são possíveis.

http://www.fee.org/the_freeman/detail/rose-wilder-lane-isabel-paterson-and-ayn-rand-three-women-who-inspired-the-modern-libertarian-movement#axzz2O2gfJHHe

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