O Deus da Máquina, capítulo XXI
Nosso Sistema Educacional Niponizado
Isabel Paterson, 1943
A
era humanitária se gaba, desde o século passado1,
ou antes, de que realizou uma mudança fundamental nos métodos e
objetivos da educação. O sistema preferido é chamado de educação
progressista. Qualquer tentativa de definição desse sistema pode
ser contestada, porque seus defensores nunca estabeleceram uma
definição exata; mas vamos procurar descrevê-lo nos termos mais
generosos, abertos a correções. Digamos que a educação
progressista busca tornar o ensino escolar uma experiência
agradável; proíbe punições concretas; busca ao mesmo tempo
estimular a autoexpressão das crianças mais novas e a consciência
social dos alunos mais velhos; e alega ensinar as crianças a pensar
utilizando projetos experimentais e apresentando tópicos atuais
controvertidos para discussão geral, sem princípios dogmáticos.
Ao
contrário, a educação à moda antiga supunha que não existe um
caminho fácil para o aprendizado. Dava autoridade suficiente ao
professor para qualquer castigo disciplinar necessário. Apresentava
fatos concretos e princípios concretos. Desencorajava a
autoexpressão imatura, procurava fortalecer o caráter pelo
autocontrole contra o impulso social; e associava a responsabilidade
pessoal a cada grau de emancipação da regra de obediência para as
crianças. Ensinava-as a pensar pelo uso da lógica formal sobre
exemplos impessoais; enquanto questões contemporâneas eram mantidas
fora da sala de aula o máximo possível.
Qual
é, na realidade, o tipo de educação mais moderno?
Há
quarenta anos2,
Lafcadio Hearn3
descreveu os princípios e métodos educacionais do Japão,
comparados aos do mundo ocidental. Tradicionalmente, segundo Hearn, a
educação ocidental começava na primeira infância “com a parte
repressiva do treinamento moral. […] É importante inculcar os
deveres do comportamento, o ‘devo’ e o ‘não devo’ da
obrigação individual, tão cedo quanto possível. Depois, mais
liberdade será permitida. A criança bem educada é levada a
entender que seu futuro dependerá de seu esforço pessoal e de sua
capacidade; e, portanto, em grande medida, deixa-se que ela cuide de
si mesma, sendo ocasionalmente advertida ou avisada, conforme pareça
necessário. […] Ao longo de todo o caminho do treinamento mental e
moral, a competição é não apenas esperada como exigida. […] O
objetivo é cultivar a habilidade individual e o caráter pessoal —
criar um ser independente e vigoroso.”
“A
educação japonesa sempre foi conduzida no plano reverso. Seu
propósito nunca foi treinar o indivíduo para a ação independente,
mas treiná-lo para a ação cooperativa. […] A restrição entre
nós começa com a infância e gradualmente é relaxada; a restrição
no treinamento do Extremo Oriente começa mais tarde e, daí em
diante, é gradualmente aumentada; e não é uma restrição imposta
diretamente pelos pais e professores. […] Não apenas na idade da
vida escolar, mas consideravelmente além dela, uma criança japonesa
desfruta de um grau de liberdade muito maior do que é permitido às
crianças ocidentais. […] É permitido à criança fazer o que
quiser. […] Ela é protegida, mas não restringida; advertida, mas
raramente forçada.” Se uma punição se torna absolutamente
necessária, “pelo antigo costume, a casa inteira, incluindo os
empregados, intercede em favor do transgressor; os irmãos e irmãs
pequenos implorando para serem punidos no lugar dele. Na escola,
começa a disciplina […] mas não há punição além de uma
repreensão pública. Qualquer
restrição que exista é exercida sobre a criança principalmente
pela opinião comum de sua classe;
e um professor habilidoso é capaz de controlar essa opinião. […]
O poder reinante é sempre o sentimento da classe. […] Nas escolas
médias, a opinião da classe adquire uma força para a qual o
próprio professor tem de se curvar; é capaz de expulsá-lo se ele
tentar se sobrepor a ela. […] É sempre o poder do coletivo sobre o
indivíduo; e esse poder é formidável.”4
O
objetivo final vem do ideal social japonês. Por mais de mil anos,
pelo menos, o mais puro altruísmo é ensinado aos japoneses, no
culto comunal. “A simples idéia de que alguém tenha o direito de
fazer o que quiser não entra na mente japonesa. […] O tempo e o
esforço de um homem jamais podem ser considerados exclusivamente
seus. Seu direito de viver repousa unicamente em sua disposição de
servir à comunidade. O indivíduo foi completamente sacrificado em
nome da comunidade. […] Cada membro de uma comunidade deve observar
cuidadosamente a conduta de seus companheiros.” Para que não
pudesse haver nenhuma chance de iniciativa ou escolha pessoais, todo
o trabalho era completamente controlado por guildas; e todos os bens
eram distribuídos pela autoridade, de maneira que a quantidade e o
tipo de posses que uma pessoa poderia ter era determinado
minuciosamente. Um pai não poderia comprar nem mesmo uma boneca de
papel adicional para sua filha. Qualquer desvio de conduta seria
punido de maneira instantânea e implacável. Até a linguagem
refletia esse código de ética altruísta, evitando o uso de
pronomes pessoais e modificando-os para um significado social.
O
resultado, na vida adulta, é “a sinistra ausência de liberdade
moral — a ausência do direito de agir de acordo com suas próprias
convicções de justiça”. De fato, não pode existir conceito de
justiça se a única autoridade é a autoridade da massa, do
coletivo, do governo em sua máxima abrangência. E o comportamento
atual dos japoneses na guerra, inclusive sua atitude com os
prisioneiros, é totalmente consistente com sua tradição. Seja o
que for que façam a seus inimigos — e são eles que determinam
quem é inimigo e iniciam o ataque — não é pior do que impuseram
a si mesmos “pelo bem da sociedade”.
Desde
que Hearn fez essas observações, a educação ocidental vem se
movendo continuamente na direção dessa base japonesa; é sua
tendência “progressista”. Atividades de classe, interesses de
grupo, influências sociais se tornaram predominantes. E a filosofia
prevalecente com a qual os alunos são doutrinados é a do
“instrumentalismo”, que nega que possa haver valores ou padrões
morais permanentes ou universais de algum tipo. O resultado mais
chocante nos alunos é exatamente essa “sinistra ausência de
liberdade moral”. Nem provas nem lógica conseguem penetrar nas
brumas em que são formados. É difícil fazer com que um deles
chegue a qualquer conclusão, quando separados do grupo. Dirão:
“Bem, eu só acho que não”, como se não pudesse haver fatos ou
processos mentais associados que levam a uma opinião em vez de outra
ou diferenciam uma convicção de um gosto. Eles têm a impressão de
que “tudo é diferente agora” de qualquer coisa que possa ter
existido no passado; embora não tenham idéia de como ou por quê.
Dois mais dois não são quatro? Uma alavanca não funciona hoje
exatamente pelos mesmos princípios com que funcionava para
Arquimedes? Eles não sabem ao certo. Podem dizer: "Ah, não
concordo com você", mas não dão nenhuma razão para a
discordância. “Não estão convencidos”, mas não conseguem
oferecer um argumento para refutar. Ou seja, quando convidados a
pensar, não conseguem, porque foram treinados para aceitar a classe,
o grupo ou a “tendência social” como única autoridade. Até
onde isso é possível, foram reduzidos a “gânglios”, processos
neurais em um “corpo” coletivo, em vez de pessoas.
A
orientalização dos métodos de ensino no Ocidente têm efeitos até
nos detalhes. O grande uso e valor do alfabeto fonético, em oposição
à escrita pictográfica (hieróglifos ou caracteres chineses) é que
o aluno passa a dominar as ferramentas muito rapidamente. Em inglês,
uma criança precisa aprender apenas vinte e seis letras e entender o
princípio para combiná-las, como indicativos de sons, e saberá
ler. O alfabeto fonético é um dos dispositivos que mais poupa
trabalho na história humana. Com caracteres chineses ou qualquer
outra escrita em ideogramas, milhares de símbolos têm de ser
aprendidos. Grande parte da educação escolar é desperdiçada
simplesmente com o trabalho penoso da memorização. Além disso, o
pensamento abstrato é gravemente prejudicado. Mesmo assim,
defende-se como um método “moderno” para ensinar uma criança a
ler que ela aprenda pela memorização visual das palavras, sem
aprender o alfabeto. Este método é atribuído a Bronson Alcott5:
“Não havia cartilha, com a classe tentando arduamente identificar
o A ou talvez o S. Em vez disso, os pequenos eram agrupados em volta
do professor, que tinha uma figura nas mãos. Olhavam as figuras dos
animais e, embaixo, viam as palavras — cão, gato, vaca — até
que, em pouco tempo, sabiam qual palavra correspondia a qual animal.”
Isso é ensinar leitura pictográfica. Até onde é possível, a
vantagem do alfabeto fonético é anulada, inclusive a sistematização
do conhecimento por referências em um índice. Outro método
educacional “avançado” não dá notas em provas pelos acertos.
Em vez disso, as notas são dadas indicando que a criança se saiu
bem em relação a suas capacidades. Ou seja, o professor supõe
possuir onisciência divina e age como se conhecesse de maneira
absoluta as capacidades inatas da criança, por algum meio celestial,
em vez de avaliar o resultado específico de um exame específico. A
criança negligente é beneficiada e a criança esforçada,
inteligente e conscienciosa perde o benefício merecido. Assim, de
todas as maneiras, o fluxo natural de energia dos seres humanos, que
na infância é adequadamente dirigido ao desenvolvimento da
inteligência e do caráter, é interrompido e subvertido: o objetivo
do estudo deixa de ser aprender coisas que são verdadeiras em si
mesmas e desenvolver independência por meio desse conhecimento e
passa a ser agradar e seguir uma autoridade arbitrária.
O
fato concreto de que as escolas públicas americanas estão sob
controle político não é reconhecido. As escolas começaram como
organizações completamente separadas, com distritos que não tinham
nenhuma ligação um com outro nem com qualquer agência política e
podiam cobrar um imposto separado que não poderia ser gasto para
nenhuma outra finalidade exceto a escola local. Por causa disso,
ninguém percebeu que o campo primário de liberdade havia sido
invadido no máximo alcance possível. Não pode haver maior extensão
de poder arbitrário que tomar as crianças de seus pais, ensiná-las
o que a autoridade decretar que deva ser ensinado e expropriar dos
pais o dinheiro para pagar pelo processo. Se este princípio ainda
não foi realmente entendido, imaginemos o que pensaria um pai que
possui determinada fé religiosa, se seus filhos fossem tomados dele
à força e se ensinasse a eles um credo oposto. Esse pai não
reconheceria uma tirania evidente? Mas as pessoas argumentam que a
religião não é de forma alguma ensinada nas escolas. Isso não
modifica o princípio envolvido; embora tenha obscurecido a questão
no início. A maioria dos pais estava disposta a pagar um imposto
para a educação, e feliz por mandar seus filhos à escola. Tentaram
manter o ensino estritamente laico. Além disso, quando os distritos
educacionais eram pequenos e o conselho escolar composto por
moradores locais conhecidos por todos, não era difícil para os pais
saber o que estava sendo ensinado; e ter suas opiniões consultadas
sobre a contratação ou manutenção de professores e a escolha de
livros didáticos. A natureza intrínseca do poder delegado era tão
sutil que isso era chamado de “free education”6,
a mais completa contradição dos fatos com a terminologia de que a
linguagem é capaz. Tudo nessas escolas é obrigatório, e não
livre. A verdadeira natureza da instituição se desenvolveu de
maneira tão completa de acordo com seus próprios princípios ao
longo do tempo que hoje os pais ficam impotentes quando o conselho
escolar admite que uma pequena parcela de professores é mentalmente
desequilibrada. Os pais ainda são obrigados a entregar seus filhos
ao poder desses professores, sob pena de multa. Os professores
possuem “estabilidade”. Não podem ser exonerados.
Um
dos primeiros “casos” pelos quais a “estabilidade” passou a
parecer razoável para professores indica a total confusão de
pensamento sobre o assunto, originada da incapacidade de se perceber
o poder político em operação. Uma professora da Califórnia, de
excelente caráter e competência para ensinar, foi demitida sem
motivo por um conselho escolar corrupto. O caso foi levado ao
tribunal. A professora foi reintegrada, com base no fato inequívoco
de que ela tinha um contrato para o período e não o havia
descumprido. Isso foi considerado razão suficiente para se
estabelecerem medidas pelas quais um professor deve ser considerado
contratado por tempo indeterminado, pois esse é o único significado
de “estabilidade”. Porém, isso não tem absolutamente nada a ver
com a questão original (cumprimento de um contrato) e anula o
direito contratual do empregador. Ou seja, porque a professora sofreu
uma injustiça para a qual a lei era competente para corrigir e
corrigiu, foi proposto e colocado em prática que os pais devem
sofrer a mesma injustiça, sem possibilidade de correção.
Também
o famoso caso Scopes7,
o “julgamento do macaco” em Dayton, Tennessee, foi discutido com
igual calor e ignorância pelos dois lados. O Estado aprovou uma lei
proibindo que os professores das escolas públicas lecionassem a
teoria darwinista da evolução, ou seriam punidos. Um professor
infringiu a lei e foi processado. É evidente que a lei era
absolutamente imprópria; mas foi atacada com o argumento de que a
teoria darwinista da evolução é verdadeira e que os cidadãos do
Tennessee seriam caipiras desinformados.
Mas
o que aconteceria se a evolução darwinista estivesse sendo ensinada
normalmente nas escolas públicas do Tennessee e um pai tentasse
deixar de pagar seu imposto de educação e se recusasse a mandar
seus filhos para a escola por
não querer que essa teoria fosse ensinada a eles?
Quantos dos ardentes defensores do sr. Scopes teriam defendido esse
pai? Tenho certeza de que nenhum. Tudo o que eles queriam era que o
Estado determinasse que sua própria doutrina científica específica
devia ser ensinada, em vez de outro credo heterodoxo. Não estavam
absolutamente preocupados com a liberdade de pensamento, expressão
ou crença. Não tinham a concepção de direitos pessoais ou
autoridade justa. Não perguntaram se um professor poderia ter uma
prerrogativa moral peculiar de ensinar a seus alunos algo que os pais
não quisessem que fosse ensinado.
Em
resumo, não questionaram o controle político da educação; apenas
quiseram usá-lo eles mesmos. Não questionaram se esse controle
político não é, por natureza, fadado a legislar contra as
afirmações dos fatos e das opiniões no longo prazo, ao definir o
currículo escolar. O conhecimento científico mais exato e
demonstrável será certamente contestado pela autoridade política
em algum ponto, porque exporá a insensatez dessa autoridade e seus
efeitos viciosos. Ninguém pode demonstrar o absurdo sem sentido do
“materialismo dialético” na Rússia, fazendo um exame lógico.
Ninguém pode discutir biologia imparcialmente na Alemanha. E, se a
autoridade política é considerada competente para controlar a
educação, será esse o resultado em qualquer país.
Textos
educacionais são necessariamente seletivos, no assunto, na linguagem
e no ponto de vista. Onde o ensino é realizado por escolas privadas,
haverá uma variação considerável entre as diferentes escolas; os
pais devem julgar o que querem que seus filhos aprendam, pelo
currículo oferecido. Então, cada uma deve se empenhar pela verdade
objetiva; e, uma vez que não há autoridade pública para controlar
a opinião, os adultos devem exercer o julgamento final sobre o que
aprenderam na escola, depois de formados. Em nenhum lugar, haverá
qualquer tentativa de forçar que se ensine a “supremacia do
estado” como uma filosofia obrigatória. Mas todo sistema
educacional controlado politicamente vai inculcar a doutrina de
supremacia do estado mais cedo ou mais tarde, ou como direito divino
dos reis, ou como “vontade do povo” na “democracia”. Uma vez
que essa doutrina tenha sido aceita, torna-se uma tarefa quase
sobre-humana quebrar a força repressora do poder político sobre a
vida do cidadão. Seu corpo, sua propriedade e sua mente estarão nas
garras do estado desde a infância. É mais fácil um polvo soltar
sua presa.
Um
sistema educacional obrigatório sustentado por impostos é o modelo
completo do estado totalitário.
O
alcance do poder exercido e suas implicações finais ainda não
foram reconhecidos nos Estados Unidos, porque é permitido
aos pais enviar seus filhos para escolas privadas ou educá-los em
casa — embora, em todos os casos, eles tenham de pagar o imposto
educacional. Mas, quando essa permissão é concedida e o padrão
educacional é determinado, ela é revogável; não é mais um
direito, mas uma permissão. Na Rússia e na Alemanha isso não é
mais permitido.
Sem
dúvida as boas pessoas perguntarão, em inocente perplexidade e com
memória curta, como as crianças poderão ser educadas se não
existirem escolas públicas obrigatórias sustentadas por impostos? A
resposta é: pelas escolas privadas. Qualquer um que quisesse poderia
abrir uma escola, para a qual os pais poderiam mandar seus filhos em
troca do pagamento das mensalidades necessárias, que naturalmente
variariam muito. A educação primária poderia ser dada em casa,
como era comum nos Estados Unidos até cinqüenta anos atrás8;
noventa por cento do conhecimento útil que uma pessoa média possui
é certamente adquirido fora da escola. Quem ensinou a população
dos Estados Unidos a dirigir automóveis? Isso não foi feito na
escola, nem poderia ser. A habilidade prática pela qual o homem
médio ganha a vida não é aprendida na escola. Não existe razão
para supor que as crianças não seriam ensinadas. Antes da Guerra
Civil, alguns estados do sul aprovaram leis tornando crime ensinar um
escravo a ler e escrever. Isso significa que o desejo de aprender e a
disposição de propagar o conhecimento são tão espontâneos e
universais que só podem ser impedidos por punições legais, mesmo
que o abismo social seja o que existe entre senhor e escravo.
Mas
algumas crianças não permaneceriam analfabetas? Sim, como ocorre
hoje e como ocorreu no passado. Os Estados Unidos tiveram um
presidente que não aprendeu a ler e escrever até tornar-se adulto,
mas casou-se e ganhava seu sustento. A verdade é que, em um país
livre, qualquer pessoa que permaneça analfabeta poderia ser deixada
assim; embora a simples alfabetização não seja em si uma educação
suficiente, mas a chave elementar para uma parte indispensável da
educação na civilização. Mas essa educação adicional na
civilização não
pode ser obtida, de forma alguma,
sob o total controle político das escolas. É possível apenas em
determinado padrão mental, no qual o conhecimento é procurado
voluntariamente. Isso é verdade até mesmo na educação técnica,
na qual se presume que exatamente a mesma tecnologia seja ensinada.
Um famoso geólogo, que estudou campos de petróleo em todo o mundo,
surpreendeu-se com o fato de que “somente os americanos encontram
petróleo”9
tanto dentro como fora de seu país. Ele se perguntou: “Por que
isso acontece?” Conheceu geólogos de habilidade natural igualmente
destacada e com equipamentos técnicos equivalentes entre outras
nacionalidades. E eles não encontravam petróleo mesmo que
estivessem pisando nele, por assim dizer. Foi forçado a concluir que
“o petróleo tem de ser procurado em primeiro lugar em nossa mente.
O lugar onde o petróleo realmente está, em última análise, é em
nossa cabeça.” Está no “estado mental da ordem social” — a
mente livre.
A mente livre permaneceu existindo nos Estados Unidos, apesar da
intrusão constante do poder político no campo primário da
liberdade na educação, porque a escolha e o esforço pessoal
continuaram sendo os fatores governantes para se conseguir uma
educação avançada, seja clássica ou técnica. O estudante cujos
pais não podiam facilmente custear sua faculdade tinha de tomar a
séria decisão de fazer o esforço por si mesmo e buscar os estudos
que escolheu por sua própria iniciativa. E quando terminava a
escola, tinha de correr os riscos de ganhar a vida da melhor maneira
que pudesse, provavelmente adquirindo uma experiência variada e
usando tanto as mãos como a cabeça, sem uma distinção de classe
irrevogável para separar sua inteligência especulativa da aplicação
prática.
Isso
também pode mudar completamente em pouco tempo. O passo final no
sentido de tornar a educação americana completamente japonesa já
foi proposto. É escolher os alunos mais promissores nas escolas
públicas, pagar seu curso nas diversas faculdades ou universidades
com fundos federais e direcioná-los para cargos militares e
burocráticos.
Os
alemães são notavelmente instruídos; e têm excelentes escolas
técnicas. Sua instrução permitiu que eles lessem Mein
Kampf
e sua tecnologia permitiu que construíssem uma máquina de guerra
que vai destruí-los. É isso o que faz a educação controlada pelo
poder político, depois que esse controle se torna completo. Desvia a
energia humana para o beco sem saída dos canais políticos.
Podemos
esperar um ressentimento rancoroso extremo dos profissionais da
educação como resposta a qualquer sugestão de que eles devam ser
desalojados de sua posição ditatorial. Isso será expresso
principalmente em epítetos, como “reacionário”, o mais suave de
todos. Contudo, a pergunta a ser feita a qualquer professor nesse
estado de indignação é: “Você acha que ninguém voluntariamente
confiaria seus filhos a você e o pagaria para ensiná-los? Por que
você tem de extorquir sua remuneração e convocar seus alunos à
força?”
1
Isabel Paterson se refere ao século 19. (N. do T.)
2
Por volta de 1900. (N. do T.)
3 Patrick
Lafcadio Hearn (1850 - 1904): escritor que estudou a cultura e a
sociedade japonesas. Nasceu numa ilha grega, de pai irlandês e mãe
grega. Foi criado na Irlanda. Emigrou para os Estados Unidos aos 19
anos. Mudou-se para o Japão aos 40 anos, onde viveu o restante de
sua vida. (N. do T.)
4
HEARN, Lafcadio. Japan: an
interpretation.Macmillan,
1894. (N. da A.)
5
Amos Bronson Alcott (1799 - 1888): professor, escritor e filósofo
reformista americano. (N. do T.)
6
Free education: no contexto, significa “educação gratuita”,
mas literalmente, seria “educação livre”.
7
O Estado de Tennessee v. John Thomas Scopes (1925): famoso processo
legal pelo qual o professor substituto John Scopes foi acusado de
violar o Butler Act, do estado de Tennessee, que havia tornado
ilegal o ensino da evolução humana em qualquer escola pública.
Scopes não tinha certeza se de fato havia dado aulas sobre esse
assunto, mas se incriminou de propósito para que o processo tivesse
um réu. Scopes foi condenado a uma multa de 100 dólares, mas o
veredito foi anulado por uma questão técnica. (N. do T.)
8
Por volta de 1890. (N. do T.)
9
PRATT, Wallace E. Oil in the Earth.
University of Kansas Press. (N. da A.)