O Deus da Máquina, capítulo VIII
A Falácia do Anarquismo
Isabel Paterson
Grupo de Dukhobors canadenses, fotografados em 2001. |
A
essência do autogoverno consiste em manter promessas; a organização
formal é instituída por acordo e seu poder é delegado com o
objetivo de sustentar o contrato que se estabeleceu pela livre
vontade das partes — o contrato encarnado na Constituição e os
contratos privados entre indivíduos. Os Dukhobors eram completamente
lógicos em evitar o primeiro passo na direção do autogoverno, uma
vez que não desejavam ter nenhum tipo de governo. Mas a seita,
durante sua existência, alternou-se entre disputas que paralisavam a
produção e lideranças autocráticas que tomavam arbitrariamente
para si uma grande parcela do que era produzido. Esse é o resultado
inevitável da tentativa mais cuidadosa de permanecer numa condição
de anarquia depois que a relação moral entre os membros da
comunidade se estendeu no espaço e no tempo de maneira a permitir
uma economia mais desenvolvida que a dos selvagens. Muito trabalho é
perdido; e os membros da comunidade são submetidos a infortúnios,
pobreza e ignorância.
É
fácil descobrir o estágio de desenvolvimento a partir do qual o
governo se torna necessário; e sua correspondência ao modo de
conversão de energia pode ser claramente percebida, ou a
não-correspondência quando a sincronização não está correta. O
que ainda não foi elucidado é a relação específica entre o
mecanismo de governo e a ordem produtiva. Isso levou a várias
conjecturas conflitantes sobre a origem e a natureza do governo. Uma
teoria da história afirma que o governo surge da guerra e, portanto,
é a força em si. Isso é duplamente falso, uma vez que é o oposto
da relação real. Essa teoria foi adotada por filósofos
comprometidos com a doutrina do Estado Absoluto, porque é o único
argumento possível que parece dar a eles uma base factual; mas ela
reside unicamente no erro de post
hoc, ergo propter hoc3.
Governo
pela força é uma contradição em termos e uma impossibilidade
física. A
força é o que é governado.
O governo se origina na faculdade moral.
A
relação de subordinação da força à faculdade moral é
autoevidente se considerarmos a localização da fonte da energia
aplicada nos assuntos humanos; e essa relação pode ser demonstrada
pelo mecanismo de todos os modos conhecidos ou imagináveis de
associação humana. A forma mais antiga de sociedade, que se
alimentava da extração direta da natureza e se mantinha unida pelo
instinto de espécie, é a sociedade dos selvagens. Acredita-se que
os esquimós apresentem uma cultura da Idade da Pedra sobrevivendo
até hoje, muito pouco modificada até tempos recentes. Seu habitat
não permite a acumulação de posses além de objetos transportáveis
e pequenas provisões de alimento; eles não podem ter esperanças de
melhorias em sua sorte além de uma margem obviamente estreita. A
velhice é curta; incompetência, doença ou incapacidade grave
significam a morte. O casamento é uma parceria de trabalho
facilmente dissolvida; e o comportamento sexual é
correspondentemente lasso. O processo de conversão de energia tem o
menor circuito possível, com o homem como caçador trazendo
matérias-primas e a mulher imediatamente transformando-os em bens de
consumo; esse é o circuito de manutenção, e os filhos são o de
reposição. O grupo não pode crescer demais; precisa se dispersar e
vagar, e não pode estabelecer um local regular de assembleia.
Portanto, não possui um chefe secular. Nenhum esquimó tem
autoridade sobre outro; mas Stefansson4
observa que, sem buscar essa posição, os homens mais capazes
possuem influência sem terem privilégios. Sob necessidade extrema,
que é o molde do simples costume, os esquimós realmente não têm
governo, nem estrutura política, nem qualquer tipo de agência.
Os
esquimós não guerreiam. Sua energia é absorvida na luta imediata
pela existência; e seu ambiente, a desolação branca do Ártico,
elimina o possível aspecto da guerra como esporte, que consiste em
surpresa, fuga e perseguição.
Em
regiões temperadas, os selvagens guerreiam; e ainda assim não têm
governo formal. Mas a guerra e a liderança, com um conselho
informal, parecem ser criações síncronas. É o que dá
plausibilidade à teoria de que o governo se origina na guerra e,
portanto, o governo em si é força. O erro só pode permanecer se
rejeitarmos tanto os fatos do comportamento selvagem como os
testemunhos específicos de selvagens inteligentes sobre o
significado e o objetivo do que se chama de conselho de guerra. O
ponto significativo é que, no início, nem
o chefe nem o conselho tinham poder algum.
Exerciam apenas influência reconhecida. O chefe não tinha
continuidade de mandato nem autoridade positiva. O conselho e o chefe
debatiam quando a havia probabilidade de guerra; mas a razão
manifesta de suas exortações era sugerir prudência, ou seja, falar
pela paz. Isso foi registrado por um chefe famoso, o velho Seattle5,
que foi fundamental para unir diversas tribos da costa do Pacífico.
Quando os homens brancos chegaram, ele percebeu que seu povo estava
liquidado. Num discurso de despedida, ao concordar com um tratado,
explicou, recapitulando a função do chefe simplesmente como uma
questão de fato:
“A
juventude é impulsiva. Quando nossos jovens se enfurecem com alguma
injustiça real ou imaginária, e desfiguram seus rostos com pintura
negra, isso indica que seu coração está negro, e então eles
costumam ser cruéis e implacáveis, e nossos velhos e mulheres são
incapazes de contê-los. Assim sempre foi. A vingança, para os
jovens, é considerada um benefício, mesmo à custa de sua própria
vida, mas os velhos, que ficam em casa em tempos de guerra, e as
mães, que podem perder seus filhos, não se enganam dessa
maneira.”6,7
O
chefe Seattle descreveu um fenômeno físico incontestável, um
desvio do excedente de energia. Obviamente, a guerra primitiva pode
ser iniciada e realizada por impulso da parte dos combatentes. Nessas
condições, não poderia ser conduzida por nenhum outro meio. Se os
jovens estivessem com disposição militante, nada poderia contê-los,
exceto a persuasão. Eles são a força. Assim, o conselho podia ou
impedir a guerra por influência moral, ou aprová-la, ou admitir sua
incapacidade de proibi-la, preparando-se para fazer a paz depois. Em
nenhuma hipótese o conselho, os velhos, poderia aplicar a força,
nem para impedir nem para provocar a guerra. O conselho simplesmente
não tinha a força. Da mesma maneira, nessas hostilidades
primitivas, nenhum comando oficial é possível; cada homem deve
lutar por si mesmo. O chefe poderia oferecer conselhos sobre
estratégia pura e dar exemplo de bravura e habilidade. Isso era
tudo. Consequentemente, era escolhido tanto pela sabedoria como pela
coragem. Portanto, sua posição não dependia da força contra seu
próprio povo. Isso seria impossível. Bravura pessoal não é mais
que a força de um único homem, enquanto a tribo é composta por
muitos. Onde a liberdade de movimento é necessária para a
sobrevivência, um homem forte não tem como dominar um único
inferior por intimidação; ele obviamente não consegue subjugar
muitos. O chefe e o conselho não davam ordens positivas porque não
tinham meios de obrigar a obediência. Crimes contra pessoas estavam
sujeitos à retaliação pessoal; infrações graves aos costumes
podiam ser punidas por um comitê de todos, que fariam o infrator
passar por um corredor polonês, ou o expulsariam da tribo.
Poder-se-ia
sugerir que pelo menos uma minoria composta pelos mais fortes poderia
comandar pela força os membros mais fracos da tribo; mas até para
tentar isso, seria necessária uma base de concordância adotada pela
junta. A expectativa de pilhagem ou tributo requer um acordo sobre a
divisão do espólio. “Honra entre ladrões” revela que uma base
moral continua sendo indispensável.
Para
análise, é necessário separar os sucessivos estágios culturais
que utilizam diferentes modos de conversão de energia. É
conveniente chamar o passo imediatamente acima da selvageria de
barbarismo. A cultura bárbara, embora ainda nômade, possui
rebanhos. É nesse estágio que surge a necessidade de algum tipo de
governo, com a extensão das relações humanas no tempo e no espaço.
Quando o problema é colocado nestes termos, podemos pensar que os
hábitos errantes dos selvagens levam a uma relação espacial. Ao
contrário, esses hábitos evidenciam a falta dessa relação, porque
nada é deixado para trás. As relações morais entre indivíduos
adultos e as relações de grupo dadas pela economia são resolvidas
imediatamente. Dois homens que desejam brigar podem lutar ali mesmo;
o espaço entra na questão apenas como uma possibilidade de fuga.
Maridos e mulheres que não conseguem concordar podem se separar e
tomar novos parceiros. Não há como conservar os alimentos, então
estes devem ser consumidos de uma vez e, portanto, serão divididos.
Não se conhece o tipo de acordo que precisaria ser executado à
distância. A relação moral dos selvagens se estende de fato no
tempo, como a que afeta pais e filhos; mas o instinto governa essa
relação, exceto em casos extremos. Quando o ônus dos idosos se
torna impossível de administrar em bases naturais, os velhos são
abandonados para morrer. Portanto, a ideia de posse, na vida
selvagem, é vaga e pragmática. Artigos pessoais estão de posse de
quem os usa. O uso do território é elástico. Em outros casos,
“quem chega primeiro é atendido primeiro” e “achado não é
roubado” funcionam como regras. Na caçada, quem vê a caça tem o
direito de matá-la. Quem está ausente não pode reclamar.
Mas
a pecuária, mesmo que não seja mais que tanger os animais em pastos
selvagens, envolve uma relação de espaço-tempo entre seres
humanos. Toda propriedade é um direito que se estende no tempo. É
necessário vigiar os animais; eles não podem ser mortos nem o
produto consumido, exceto por seu dono. O fator espaço-tempo é, da
mesma maneira, introduzido pela agricultura primitiva, entre o
plantio e a colheita, impondo um direito sobre lotes de terra e
sementes a serem conservadas. Portanto, os bárbaros concedem poder
positivo a seu chefe; sua palavra tinha de ser imposta, não
imediatamente, mas à distância, enquanto estivesse de acordo com os
costumes e os direitos de propriedade.
Para
evitar uma quebra de autoridade, ou seja, na relação temporal,
surgiu o princípio hereditário. Suas variações curiosas, como
sucessão matrilinear e, em alguns lugares, legado ao filho mais novo
em vez do mais velho (“borough English”), são o que pode ser
chamado de dispositivos de engenharia para engrenar o sistema no
menor espaço e distância pela conexão física obviamente
existente. O parentesco de uma criança com sua mãe é
incontestável; e o filho mais novo ainda estaria em casa quando os
mais velhos saíssem e se tornassem independentes. Em qualquer dos
casos, a força obedece à sanção moral.
Entretanto,
o sistema hereditário não pode ser invariável; a natureza outra
vez proíbe essa determinação.8
A sucessão pode falhar ou, se recair em um infante, torna-se
temporariamente ineficaz e sujeita a ser questionada. Para essas
emergências, algum recurso que lembre a escolha eletiva deve ser
postulado. Mesmo com a dinastia “divina” do Japão medieval,
embora o trono fosse reservado para uma linha de descendência, o
princípio foi obscurecido porque a monogamia era costume; e por
costume o imperador abdicava depois de um reinado curto e nominal,
quando um novo monarca era escolhido pelos grandes nobres dentre
alguns candidatos de sangue real. No Império Otomano, a morte do
Sultão significava uma súbita tomada de poder por qualquer de seus
descendentes ou parentes que tivesse apoio suficiente; então, o novo
Sultão prontamente exterminava todos os outros pretendentes,
assassinando seus irmãos, sobrinhos e tios imediatamente. Não há
nada de novo nos “expurgos de sangue” dos rivais pelos ditadores
modernos. Sempre que não se tem meios legítimos de sucessão
política, esses expurgos acabam ocorrendo. E a forma do voto não é
suficiente; se a energia da nação foi corrompida de maneira que as
eleições são controladas de cima, compradas com o dinheiro dos
impostos, esse recurso à violência logo será adotado.
Uma
vez que o princípio eletivo existe na natureza das coisas, sendo a
base da monarquia, sempre que a monarquia se torna opressiva demais,
o princípio eletivo é evocado. O que quer que seja que faz os reis
pode desfazê-los. Na Europa, embora a monarquia feudal fosse o
costume prevalecente por mil anos e tivesse o suporte triplo do
costume consolidado, do comando militar e do padrão da sociedade
baseada na família, ainda assim a pretensão dos reis de governar
por direito divino e exercer o poder absoluto nunca foi admitida em
teoria por nenhuma nação, nem tolerada de fato por muito tempo sem
franca rebelião. A resistência era constante e, como último
recurso, a resposta era o assassinato. E este é uma refutação
genuína à transgressão real em seus próprios termos, não menos
lógico que o regicídio por deliberação legal que indicia o rei
por traição. Em teoria, o nobre (como chefe de família) era nobre
por status, tendo nascido nessa condição; o rei era rei apenas por
contrato, “o primeiro entre seus pares”. O juramento de
fidelidade, renovado para cada rei, é um contrato. O gravame da
acusação de traição contra um rei é que ele ultrapassou sua
atribuição ou justa autoridade por força usurpada. E, em termos de
físicos, um homem é aproximadamente tão forte quanto qualquer
outro. Assim, a verdade inicial é novamente exposta sempre que um
cidadão ou súdito é suficientemente resoluto; a
força não pode impor a obediência na ordem social.
O que ela pode provocar é a morte, seja do súdito, seja do rei.
Quando
o assassino é mentalmente sadio e age por causa de um
descontentamento estritamente político, o assassinato é um sintoma
de um grave defeito no mecanismo, uma conexão relativamente fraca,
ou um ponto de pressão desproporcional, onde ocorre uma ruptura. Em
termos de mecanismo, ele para a máquina até que a peça quebrada
seja substituída; mas não institui e não pode instituir um tipo
melhor de mecanismo. Num dado momento, o governo deixa de existir e
tem de ser retomado por um ato moral, a aceitação do novo
governante. Tais quebras repetidas naturalmente enfraquecem a sanção
moral. Mas, também nisso, evidenciam a relação do governo com a
força. Um súdito morto deixa de ser súdito; e um rei morto deixa
de ser rei. Quando a força é o árbitro, o governo cessa.
É
assim por causa da natureza intrínseca do mecanismo político, que é
e deve ser o mesmo, seja qual for a forma. O
governo é um instrumento de negação,
e nada mais. Quando o governo começa a depender da força ou da
intimidação, se os vários fatores envolvidos puderem ser
conhecidos com exatidão e expressos numa equação matemática
relacionada com o aumento da força, a soma informaria o tempo
restante antes que o governo ou a nação ou ambos ruíssem. O evento
dependerá do volume de energia em uso para produção e do tipo de
governo imposto, no que se refere à estrutura, mecanismo e peso
morto. Se a energia é suficiente para esmagar a estrutura e o
mecanismo, isso acontecerá (por meio de guerra, guerra civil,
revolução). A menos que a liberdade seja recuperada, o modo de
conversão de energia decairá para um nível mais baixo e a
população, pela guerra e pela fome, será reduzida a uma quantidade
menor, que pode subsistir naquele nível. Esse processo está
ocorrendo agora na Europa. A causa primária foi a introdução de um
alto potencial de energia — o desenvolvimento industrial — na
Alemanha, quando a forma política não podia acomodá-lo. Enquanto a
indústria ganhava velocidade, durante o século dezenove, as
mudanças políticas foram na direção contrária, mais e mais poder
se acumulando no governo sob medidas “socializantes”. A explosão
presente é o resultado.
Uma
tentativa de retornar a um tipo de associação adequado a um
potencial mais baixo de energia vai resultar nisso. O método de
aconselhamento informal é adequado a uma sociedade nômade selvagem.
Em tais condições, a falta de estabilidade do chefe é salutar. Uma
escolha infeliz tem conserto rapidamente. A liderança é obrigada a
se justificar diariamente. Numa sociedade assentada e produtiva, a
liderança é completamente impraticável, porque a continuidade é
necessária, com o fator espaço-tempo na economia. Os dois não
podem existir juntos, porque foi perdida a característica essencial
da liderança, a deposição sem derramamento de sangue do líder
pelo abandono de seus seguidores. Com instituições permanentes, a
forma de governo deve incluir mandatos estáveis; isso não significa
pessoas irremovíveis, mas o contrário; significa a mudança
legítima das pessoas em cargos com poderes definidos. Quando se
experimenta a “liderança”, em vez disso, o que pode ocorrer é
uma manifestação degenerada e temporária, o governo da
popularidade, pelo qual as instituições permanentes são
subvertidas para tornar o líder irremovível. As características de
ambos são assim negadas, cancelando-se o elemento moral, como se
evidencia pelo fato de o líder negar suas próprias credenciais por
meio do recurso imediato à força e à intimidação.
Em
termos de mecanismo, o controle é desconectado com o motor ainda
funcionando. A consequência é a colisão externa e o rompimento
interno, mais ou menos simultaneamente. Um regime de popularidade é
eficaz para começar uma guerra; e tem de fazer isso. Se a energia e
o mecanismo engatado são os de uma sociedade produtiva com uma
capacidade excedente considerável, o regime provavelmente parecerá
inicialmente estar tendo um enorme sucesso na agressão, a marcha de
um Alexandre ou de um Napoleão, para terminar se desintegrando em
guerra civil e possivelmente com a sujeição a uma potência
estrangeira. As duas coisas são diferentes aspectos do mesmo
fenômeno físico, da massa deslocada se espatifando pela quantidade
de movimento, esmagando qualquer coisa que esteja em seu caminho
enquanto se despedaça por causa de seu próprio peso e impacto. O
império napoleônico foi essa trilha de destruição.9
Um século antes, Luís XIV preparou o rastilho de pólvora para ela.
Seu ministro Colbert estimulou a indústria sob monopólio, o que
permitiu que Luís reduzisse a ordem aristocrática à impotência e
transferisse o mecanismo de governo a uma burocracia. Assim, a antiga
estrutura da França foi tornada obsoleta, mas continuou como um peso
morto e manteve a nação mais ou menos estacionária, frustrando os
esforços de Luís de colocar a massa em movimento por meio de suas
guerras. Em seguida, quando o peso morto (que infelizmente não tinha
outro objetivo) foi jogado fora — ou seja, a aristocracia foi
formalmente despojada de seus privilégios — a energia acumulada
foi liberada e intensificada pela proclamação de liberdade e
igualdade. Mas essa energia torrencial foi jogada numa sociedade que
não entendeu a relação entre o mecanismo e a base. O próprio
Napoleão era pouco mais que um testa-de-ferro lançado na frente da
massa em movimento. A energia dilacerou a nação, arremessou
fragmentos dela em cada canto da Europa na forma de exércitos e só
se apaziguou por desintegração e inércia. Napoleão foi o primeiro
dos “líderes” modernos. O que um potencial realmente elevado
pode fazer nessa linha é dolorosamente evidente.
Quando
a palavra líder10,
ou liderança, retorna ao uso corrente, ela implica em uma recaída
no barbarismo. Para um povo civilizado, é a palavra mais agourenta
em qualquer idioma.
1
Grupo religioso de origem russa, que surgiu provavelmente no século
XVII. Eles rejeitam o governo secular, os sacerdotes ortodoxos
russos, os ícones, a liturgia, a Bíblia como fonte suprema da
revelação divina e a divindade de Jesus. Por suas crenças
pacifistas e pelo desejo de evitarem a interferência governamental
em suas vidas, a quase totalidade do grupo emigrou do Império Russo
para o Canadá no final do século XIX. Hoje, a população estimada
de Dukhobors é de 40.000 pessoas no Canadá e 5.000 nos Estados
Unidos. (N. do T.)
2
SLAVA BOHU: The story of the Dukhobors. J. F. C. Wright. (N. da A.)
3
Expressão latina que significa “depois disto, portanto em
consequência disto”. Falácia lógica que consiste na ideia de
que dois eventos que ocorrem em sequência cronológica estão
necessariamente ligados por uma relação de causa e efeito. (N. do T.)
4
STEFANSSON, Vilhjalmur. My life with the Eskimo; The Macmillan
Company, New York, 1912. (N. do T.)
5
Seattle foi um chefe dos índios Duwamish, também conhecido como
Sealth, Seathle, Seathl e See-ahth. Buscou formas de acomodação
entre os índios e os colonos brancos. A cidade de Seattle, no
estado de Washington, tem esse nome em homenagem a ele. (N. do T.)
6
GATEWAY OF THE NORTH. De Archie Binns. (N. da A.)
7
O discurso que Isabel Paterson cita teria ocorrido em 11 de março
de 1854, numa reunião convocada pelo governador Isaac Ingalls
Stevens, para discutir a venda de terra dos nativos para colonos
brancos. Seattle falou na língua lushootseed. Alguém traduziu o
que ele disse para a língua chinook e uma terceira pessoa traduziu
dessa língua para o inglês. Trinta e três anos depois, Henry A.
Smith publicou esse texto, observando-se que se tratava de um
fragmento do discurso. Pode ser encontrado em
http://www.chiefseattle.com/history/chiefseattle/speech/speech.htm.
Não é possível se saber realmente o que dizia o discurso
original. (N. do T.)
8
Quando se argumentou que o bem do reinado exigia que Henrique VIII
se desfizesse de sua rainha e se casasse novamente para gerar um
filho que herdasse o trono, um opositor perguntou: “Quem prometeu
a ele um filho?” (N. da A.)
9
Como parte dessa destruição foi de instituições obstrutivas e
obsoletas, não se percebia que ela era aleatória, embora
certamente fosse. Milhões de pessoas também foram destruídas, em
pilhas dilaceradas. (N. da A.)
10
Em alemão, Führer. Em italiano, duce. (N. do T.)
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