domingo, 1 de setembro de 2013

O Deus da Máquina, capítulo VII

No capítulo VII de O Deus da Máquina (O Nobre Selvagem), Isabel Paterson ressalta o assombro que tomou a Europa quando se descobriu que algumas tribos de índios americanos não tinham governo. Mesmo assim, viviam em relativa paz. Os europeus acreditavam que a ausência de governo representaria fatalmente a guerra de todos contra todos. Se não era assim na América, os índios americanos deveriam ser essencialmente bons. Essa é a origem do mito do Nobre Selvagem.

Para os colonos americanos, o índio era um inimigo presente e cruel. Essa diferença de percepção talvez seja a origem do cisma entre as ideias europeias e americanas. Os americanos, em contato direto com a vida selvagem, não tinham porque idealizá-la. Mas podiam notar que a necessidade de governo era relativa. Como diz Isabel: “Se, em certas condições, o governo pode ser completamente dispensável, por que e até que ponto ele é realmente necessário em qualquer condição?” Os americanos observavam a sociedade de status funcionando na Europa. Viam as sociedades selvagens dos nativos americanos. E viam, principalmente, a sociedade que construíram, na qual pessoas das mais diferentes origens e crenças conviviam em paz e prosperavam num ambiente de grande liberdade. Além de tudo isso, viam a grande aberração da sociedade americana, a escravidão. A maioria dos problemas sociais trazidos da Europa não foi resolvida, simplesmente evaporou.

Os americanos procuraram criar um tipo de governo que permitisse a paz e a liberdade. Sabiam que o governo era um mal necessário, que devia ser mantido tão pequeno quando possível e agir somente quando provocado. Esse governo deveria reconhecer o direito dos indivíduos à vida, à liberdade e à busca da felicidade. Postularam que a fonte da autoridade secular era o indivíduo.

Nessa visão, o homem não é totalmente nobre nem incorrigivelmente mau. É uma criatura imperfeita, dotada da fagulha divina e, portanto, capaz de progredir. Isso é uma aplicação secular da doutrina cristã do livre-arbítrio, que permite o pecado e o erro, mas possibilita a salvação. Isabel Paterson considera que é impossível reescrever a Declaração de Independência dos Estados Unidos sem a referência à fonte divina dos direitos humanos.

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